Etiologia

As DFTs são oriundas da neurodegeneração focal dos lobos frontais ou temporais do cérebro. Estima-se que aproximadamente 30% dos pacientes com DFT tenham uma história familiar forte.[28][29] As formas comportamentais mostram maior herdabilidade (cerca de 48%); a herdabilidade dos outros fenótipos é menos clara.[29][30]

A maior parte da herdabilidade da DFT está associada a mutações autossômicas dominantes nos genes da proteína associada ao microtúbulo (MAPT), progranulina (GRN) e open reading frame 72 do cromossomo 9 (C9orf72), sendo que cada uma representa entre 5% e 10% de todas as DFTs.[29][31][32][33][34] Um grande estudo de coorte observou que as expansões do C9orf72 foram a causa mais comum de DFT genética.[25] O gene C9orf72 está também associado à herdabilidade da esclerose lateral amiotrófica.[34][35][36] Mutações em vários outros genes têm sido associadas a DFTs, tais como TBK1, VCP, CHMP2B, TARDBP, FUS, SQSTM1, CHCHD10, OPTN, CCNF e TIA1; em conjunto, estima-se que essas mutações representem menos de 5% dos casos de DFT.[29][37] Há relatos de variações geográficas para muitas das mutações genéticas.[29][38]

Há cada vez mais evidências de que a lesão cerebral traumática aumenta o risco de futuro desenvolvimento de DFT.[39][40][41] Não há boas evidências de envolvimento de outros fatores etiológicos não genéticos na DFT.

Fisiopatologia

A degeneração lobar frontotemporal (DLFT) é caracterizada por perda neuronal, gliose e alterações microvasculares nos lobos frontais, lobos temporais anteriores, córtex cingulado anterior e córtex insular. A DLFT é classificada em vários subtipos, de acordo com o principal componente proteico das inclusões neuronais e gliais anormais e da sua distribuição. Os principais subtipos moleculares da DLFT incluem DLFT-Tau, DLFT-TDP e DLFT-FET.[42][43][44] Embora a maioria dos pacientes com DLFT tenha um único tipo de patologia na autópsia, não são raros casos com mais de uma patologia.[45]

A DLFT-tau é responsável por cerca de 36% a 50% de todos os casos de DLFT. Ela se caracteriza por acúmulo intracelular anormal da proteína tau hiperfosforilada, uma característica de uma série de distúrbios neurodegenerativos (tauopatias), incluindo a DFT.[46] Os subtipos da DLFT-tau são a doença de Pick, a degeneração corticobasal, a paralisia supranuclear progressiva, a tauopatia glial globular e a tau familiar autossômica dominante causada por mutações no gene MAPT.

A DLFT-TDP (às vezes conhecida anteriormente como DLFT-U) é responsável por até 50% de todos os casos de DLFT. Ela tem 8 subtipos diferentes; quatro subtipos principais (A, B, C, D) são reconhecidos com base em padrões da patologia intranuclear citoplasmática e da associação cortical.[43][44] Além disso, existem variantes familiares caracterizadas por mutações nos genes GRN, c9orf72, VCP e TARDBP.[44] A proteína de ligação ao DNA TAR (TDP-43) é uma proteína de ligação ao DNA/RNA envolvida em vários aspectos do processamento do RNA, e se acumula na grande maioria dos casos de DLFT com inclusões negativas para tau e positivas para ubiquitina. As lesões mais importantes da DLFT-TDP são inclusões citoplasmáticas neuronais e neurites distróficas imunorreativas para TDP-43, ubiquitina e p62, mas negativas para outras proteínas relacionadas a doenças neurodegenerativas.

A DLFT-FET é responsável por cerca de 4% das escleroses laterais amiotróficas (ELA) do tipo familiar. Ela está associada a mutações nos genes que codificam a FUS (fundida em sarcoma), a EWS (sarcoma de Ewing) e a TAF15 (fator 15 associado à proteína de ligação a TATA) (conhecidos coletivamente como família de proteínas FET).[44][47] Mutações no gene FUS foram observadas em uma pequena proporção de pacientes com ELA que se sobrepõe à DFT.

Um quarto tipo foi identificado como "DLFT-U atípica". Várias outras variantes raras têm sido descritas, cada uma associada a mutações nos genes relacionados à atividade macrofágica/microglial (CSF1R, TREM2 e DAP12).[47][48][49]

A fisiopatologia molecular da DFT não deve, no entanto, ser considerada isoladamente; a compreensão dos sintomas associados à DFT é também embasada por um corpo substancial de pesquisas em neurociência social.[50]

Classificação

Critérios Neary de degeneração do lobo frontotemporal[6]

Este sistema de classificação clínica distingue entre "DFT comportamental", que se manifesta principalmente como alterações da personalidade e embrutecimento da conduta social, e "afasia progressiva primária", que inclui principalmente a afasia não fluente (perda progressiva da fluência da fala, gramática e sintaxe) e a afasia semântica (perda progressiva do conhecimento de palavras e objetos, com preservação da fluência da fala).[6]

Três apresentações comportamentais do espectro da degeneração lobar frontotemporal (DLFT) são reconhecidas: formas apática, desinibida e estereotípica. As formas comportamentais podem ocorrer concomitantemente e são as mais frequentemente encontradas, juntamente com a atrofia focal dos hemisférios cerebrais anteriores.

Surpreendentemente, o espectro da DLFT pode ter manifestações clínicas sobrepostas, com um padrão de sintomas sobrepostos durante a evolução da doença. Além disso, essas síndromes clínicas distintas estão associadas com as mesmas histopatologias subjacentes. A demência semântica (DS) é um distúrbio de conhecimento conceitual causado pela atrofia bilateral dos lobos temporais e associado à histopatologia da ubiquitina, e a afasia progressiva (AP) é um distúrbio da linguagem expressiva causado pela atrofia de áreas de linguagem do hemisfério esquerdo. A AP pode estar ligada à histopatologia da tau ou da ubiquitina.

A DS é caracterizada por uma perda gradual e grave do conhecimento conceitual, resultando em anomia, compreensão comprometida das palavras e fala fluente, mas sem conteúdo, deixando a gramática e a articulação da fala preservadas.[5] Os deficits mais proeminentes estão no significado das palavras, mas a DS pode, por fim, causar a deterioração do conhecimento para todos os tipos de conceitos semânticos, impactando no reconhecimento de rostos, atribuição de características de objetos, correspondência entre imagens e sons e uso de objetos.[6][7][8][9][10][11][12] O dano às representações semânticas multimodais, além do domínio verbal, deu origem ao conceito de DS.[13] Portanto, parece que a variante semântica da AP primária (vs-APP) é uma variante puramente linguística da DS e/ou que a DS resulta da evolução da doença de vs-APP.[14]

DFT com ou sem parkinsonismo

Outra abordagem comum da classificação diferencia a DFT com parkinsonismo e a DFT que não manifesta parkinsonismo. Esse último grupo inclui pacientes que também manifestam características de neurônio motor. Acinesia e marcha ou postura parkinsoniana são encontradas com frequência, mas são leves na maioria dos casos, a rigidez é encontrada em alguns pacientes e o tremor de repouso é um sintoma raro.[15]

Tauopatias e proteinopatias da proteína de ligação TAR-DNA (TDP)

Uma distinção pode ser feita entre tauopatias e proteinopatias TDP-43, com base nas correlações entre características clínicas predominantes e achados neuropatológicos.[8]

Os subtipos patológicos de DLFT são DLFT-tau, DLFT-TDP e DLFT-FUS (fundida em sarcoma).[16] Alguns casos de DLFT têm inclusões positivas somente de ubiquitina ou somente p62, ou nenhuma inclusão.[17]

Critérios de consenso internacional para variante comportamental da demência frontotemporal[9]

O International Behavioural Variant FTD Criteria Consortium desenvolveu diretrizes revisadas para o diagnóstico da variante comportamental da DFT (vcDFT). Esses critérios mostram, de forma encorajadora, alta sensibilidade e especificidade quando aplicados aos pacientes com demência de início precoce e fornecem uma ferramenta útil tanto para pesquisadores especialistas quanto para clínicos gerais.[10][11][9] A classificação inclui critérios para:

  1. Doença neurodegenerativa

  2. Possível vcDFT

  3. Provável vcDFT

  4. Variante comportamental da DFT com patologia definida de degeneração lobar frontotemporal (DLFT)

  5. Critérios de exclusão para vcDFT

Os critérios detalhados relativos à variante comportamental da DFT são apresentados em Critérios diagnósticos.

Classificação de transtornos neurocognitivos maior e leve do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª ed., texto revisado (DSM-5-TR)[18][19]

O DSM-5-TR define transtornos neurocognitivos maior e leve como sendo devidos a:

  • Doença de Alzheimer

  • Degeneração frontotemporal

  • Doença com corpos de Lewy

  • Doença vascular

  • Lesão cerebral traumática

  • Uso de substância/medicamento

  • Infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV)

  • Doença de príon

  • Doença de Parkinson

  • Doença de Huntington

  • Outra afecção clínica

  • Múltiplas etiologias

  • Etiologia desconhecida.

A gravidade é definida para transtornos neurocognitivos maiores como leve, moderada ou grave; e a presença ou ausência de sintomas comportamentais e psicológicos também é especificada.

Critérios específicos relacionados ao transtorno neurocognitivo frontotemporal são apresentados em Critérios diagnósticos.

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