Abordagem

O diagnóstico de aspiração aguda é feito principalmente pela história, tendo em mente a presença de fatores de risco, com a confirmação por estudos de imagem quando necessário. Em alguns momentos, pode ser vista: por exemplo, durante a intubação ou em paciente que apresenta vômitos e depois aspira. Os sinais, sintomas e estudos de imagem podem ser indistinguíveis de pneumonia e outras causas de síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), de modo que a possibilidade de aspiração gástrica deve ser considerada em pacientes de alto risco.

História, exame físico e exames laboratoriais

A aspiração geralmente ocorre na presença de fatores de risco, normalmente em pacientes com >70 anos de idade que têm comorbidades clínicas que podem alterar o estado mental, ou em pacientes com nível reduzido de consciência devido a intoxicação, doença ou medicamentos. Um início súbito de febre, tosse, paroxismo, sibilância, laringoespasmo ou cianose em pacientes em risco devem justificar a consideração de aspiração aguda. A aspiração em cenários de anestesia geral ou intoxicação, ou na unidade de terapia intensiva também é comum, mas pode não apresentar sintomas evidentes. Ela pode ser silenciosa e pode ser aparente apenas nas consequências da aspiração, como broncoespasmo, hipóxia, bronquiolite/bronquite, pneumonia, atelectasia, febre e inclusive insuficiência respiratória decorrente de edema pulmonar não cardiogênico.[37][41]

Um hemograma completo e uma análise da gasometria arterial podem determinar leucocitose e hipóxia.

Caso haja pneumonia após a aspiração de conteúdo gástrico, podem ocorrer hipóxia,leucocitose e outras características de resposta inflamatória sistêmica, embora esses achados possam não diferenciar a infecção de uma pneumonite mais química. Consulte Pneumonia por aspiração.

A pneumonite por aspiração causada pelo sulfato de bário deve ser suspeitada em pacientes que desenvolvem desconforto respiratório após estudos do trato gastrointestinal superior com bário. Muitas vezes, isso é diretamente visualizado radiograficamente, devido ao material de alta densidade.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Broncoscopia mostrando aspiração de bário para o brônquio principal direito depois de um estudo de esofagografia baritada em um paciente com pulmão transplantadoDo acervo de Dr. Kamran Mahmood [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@2ceee080[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Aspiração de bário. Foi realizada uma esofagografia baritada em uma mulher de 53 anos. Os exames de imagem revelaram material hiperdenso centrado nas vias aéreas no lobo inferior esquerdo, consistente com bronquiolite por aspiração de bário. Foi confirmada uma fístula traqueoesofágicaDa coleção do Dr Augustine Lee; usado com permissão da Mayo Foundation for Medical Education and Research, todos os direitos reservados [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@4d0afcb1

Radiografia torácica

Quando a aspiração do conteúdo gástrico resulta em pneumonite ou pneumonia por aspiração, a radiografia torácica revela condensações irregulares e bilaterais do espaço aéreo com uma distribuição peri-hilar e basilar.[48] No entanto, estima-se que 25% dos casos podem não ser aparentes nas radiografias torácicas, em relação à tomografia computadorizada (TC).[68]​ O pulmão direito pode ser mais frequentemente envolvido por causa do ângulo obtuso entre a traqueia e o brônquio principal direito. Os segmentos mais frequentemente envolvidos são os segmentos superior e posterobasal do lobo inferior direito e o segmento posterior do lobo superior direito, por causa de sua localização dependente na posição supina. Se o paciente estiver em uma posição diferente, outros segmentos podem estar envolvidos.

Os achados de pneumonite por aspiração nas radiografias torácicas geralmente se desenvolvem em 2 horas da aspiração e, às vezes, desaparecem rapidamente. No entanto, se a pneumonia se desenvolver, as opacidades podem se tornar aparentes dias depois e levar semanas a desaparecer.

A aspiração de bário deve ser confirmada pela radiografia torácica, que pode revelar opacidades hiperdensas nas áreas média e inferior dos pulmões, às vezes traçando a árvore traqueobrônquica e, mais distalmente, com padrão​ bronquiolocêntrico ou centrolobular.[70][71][72][Figure caption and citation for the preceding image starts]: A. Radiografia torácica portátil ortostática antes da aspiração; B. Radiografia torácica 1 hora após a aspiração, mostrando infiltrados alveolares difusos bilaterais, piores nas bases do lado direitoDo acervo de Dr. Henri Colt [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@541d17a4[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Aspiração de bário. Foi realizada uma esofagografia baritada em uma mulher de 53 anos. Os exames de imagem revelaram material hiperdenso centrado nas vias aéreas no lobo inferior esquerdo, consistente com bronquiolite por aspiração de bário. Foi confirmada uma fístula traqueoesofágicaDa coleção do Dr Augustine Lee; usado com permissão da Mayo Foundation for Medical Education and Research, todos os direitos reservados [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@3d1688ea

Tomografia computadorizada do tórax

Nos casos de conteúdo gástrico aspirado, a TC do tórax pode mostrar opacidades nos segmentos posteriores dos lobos superiores e nos segmentos superiores dos lobos inferiores. Nos casos avançados, os achados talvez não sejam distinguíveis dos achados de SDRA. A TC delineia com precisão a localização das opacidades lobar e segmentar. A aspiração de gordura (pneumonia lipoide exógena) ou material de contraste às vezes pode ser determinada medindo-se a atenuação do tecido nas TCs. Abscesso pulmonar e empiema são potenciais complicações da aspiração que são melhor visualizadas com TC que com radiografia torácica simples.[73]​ Consulte Abscesso pulmonar e Empiema.

Embora a radiografia torácica seja suficiente na maioria dos casos de aspiração, uma TC do tórax deverá ser solicitada se houver suspeita de aspiração de corpo estranho (para planejar a extração) ou se o paciente não melhorar com a terapia inicial (para descartar empiema ou abscesso pulmonar). A TC torácica é superior, em comparação com a radiografia torácica, na detecção de pneumonia por aspiração e, se a radiografia torácica inicial for inconclusiva, a TC deve ser solicitada.[68]

[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Pneumonia lipoide. Uma mulher de 77 anos de idade com disfagia e acalasia após um AVC apresentou infiltrados pulmonares recorrentes, inclusive uma lesão persistente no lobo médio direito. A medição em unidades de Hounsfield (UH) era -157, consistente com pneumonia lipoide. A comparação da HU de gordura subcutânea e aorta (sangue/tecido) é mostradaDa coleção do Dr Augustine Lee, usado com permissão da Mayo Foundation for Medical Education and Research, todos os direitos reservados [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@10ff4e08

Broncoscopia e lavagem broncoalveolar

A broncoscopia pode ter papel diagnóstico e terapêutico. Se o material aspirado for particulado ou potencialmente obstrutivo, ou se houver evidência radiográfica de colapso lobar ou segmentar, as vias aéreas podem ser desobstruídas, e a evolução para SDRA pode ser evitada. Nos casos de aspiração de sulfato de bário, especialmente se o paciente tiver hipóxia ou desconforto respiratório, a broncoscopia precoce pode ser útil, mas há risco de disseminar o contraste para vias aéreas não afetadas.[24]​​[74][Figure caption and citation for the preceding image starts]: Broncoscopia mostrando aspiração de bário para o brônquio principal direito depois de um estudo de esofagografia baritada em um paciente com pulmão transplantadoDo acervo de Dr. Kamran Mahmood [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@1c51f5a0​​ Outro papel terapêutico ocasional além da lavagem das vias aéreas e pulmão é a potencial colocação de stent traqueal ou brônquico em caso de fístula traqueoesofágica, bem como a colocação de traqueostomia percutânea para pacientes com disfagia grave.

Além do potencial papel terapêutico, a broncoscopia também é importante em termos de diagnóstico. As técnicas de lavagem broncoalveolar ou escovado brônquico protegido podem ser usadas para identificar, confirmar ou refutar a presença de infecção, o que terá impacto direto no tratamento antibiótico do paciente.[2]​ Além da infecção, a lavagem broncoalveolar pode diagnosticar pneumonia eosinofílica e hemorragia alveolar difusa, que podem se manifestar de maneira similar à aspiração aguda, com desconforto respiratório agudo e infiltrados pulmonares.[75]​ Ocasionalmente, a análise citológica pode detectar tumores incomuns que podem parecer pneumônicos na imagem. Quando o diferencial é mais amplo, uma biópsia broncoscópica pode ser usada para pneumonias intersticiais e outras considerações, embora não frequentemente em cenário agudo.[75]​ Por fim, um exame broncoscópico detalhado pode ser importante para identificar fístula traqueoesofágica, que pode complicar o câncer, cirurgia, radiação ou trauma.

Biomarcadores de síndromes de aspiração

Múltiplos biomarcadores são usados no ambiente de pesquisa e em alguns centros. Isso incluiu a avaliação de macrófagos lipídicos, pepsina, amilase, bile e citocinas diretamente de amostras de vias aéreas inferiores.[40][76]​​ A sensibilidade e a especificidade desses marcadores ainda não estão claras, pois não há validação clínica.[40]

Testes para identificar a necessidade de antibióticos

Os testes para identificar um componente bacteriano na apresentação pneumônica dependem do quadro clínico e podem incluir cultura e sensibilidades de amostras obtidas da lavagem broncoalveolar escovação broncoalveolar, venopunção ou toracocentese. Consulte Pneumonia por aspiraçãoPneumonia hospitalarPneumonia adquirida na comunidadeDerrame pleuralEmpiemaAbscesso pulmonarSepse em adultos.

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