Etiologia
Os mecanismos fisiológicos que normalmente reduzem o risco de aspiração incluem a junção gastroesofágica, o esfíncter esofágico superior e os reflexos laríngeos protetores. Esses mecanismos de proteção podem ser afetados por diversas condições, idade ou medicamentos.[26]
A aspiração de alimentos e líquidos é mais comum em:[27]
Pacientes com disfagia orofaríngea, especialmente quando é decorrente de AVC, doença de Parkinson, demência ou cirurgia da coluna cervical[28][29][30]
Pacientes idosos
Pacientes que estão tomando sedativos
Pacientes que estão sendo alimentados por uma sonda gástrica[29]
Pacientes que dependem de outros para se alimentar
Fumantes atuais
Pacientes tomando >8 medicamentos
Gestantes.
Entre os pacientes gravemente doentes, os principais fatores de risco para aspiração incluem:[31]
Episódio prévio documentado de aspiração
Nível de consciência reduzido (Escore na escala de coma de Glasgow <9 ou alto nível de sedação)
Doença neuromuscular ou anomalias estruturais congênitas ou adquiridas do trato aerodigestivo
Intubação endotraqueal
Vômitos
Volume gástrico residual persistentemente alto
Posição supina.
Fatores de risco adicionais incluem a presença de sonda nasoenteral, alimentação intermitente, cirurgia ou trauma abdominal/torácico, esvaziamento gástrico protelado, idade avançada, equipe de enfermagem inadequada, tamanho ou diâmetro grande do tubo de alimentação em crianças, posição errada do tubo de alimentação e transporte.
No período perioperatório, os fatores que aumentam a probabilidade de aspiração incluem:[8]
Cirurgia de extrema urgência
Vias aéreas difíceis
Profundidade de anestesia inadequada
Uso da posição de litotomia
Problemas gastrointestinais como retardo do esvaziamento gástrico, refluxo gastroesofágico, íleo paralítico, abdome agudo ou obstrução intestinal[12]
Consciência deprimida
Aumento da gravidade da doença
Obesidade
Uso de medicamentos que reduzem a pressão do esfíncter esofágico inferior ou retardam o esvaziamento gástrico.
Alguns medicamentos reduzem a pressão do esfíncter esofágico inferior e promovem refluxo gastroesofágico na anestesia e nos estados patológicos e, portanto, aumentam o risco de aspiração. Esses medicamentos incluem atropina, glicopirrônio, dopamina, nitroprussiato, bloqueadores ganglionares, tiopental, antidepressivos tricíclicos, estimulantes beta-adrenérgicos, halotano, opioides e propofol.
Certos medicamentos retardam o esvaziamento gástrico. Os opioides podem retardar significativamente o esvaziamento gástrico e promover íleo paralítico. Os agonistas do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon 1 (GLP-1) e os agonistas duplos do receptor de polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose (GIP)/GLP-1 são conhecidos por retardar o esvaziamento gástrico e, devido ao conteúdo gástrico retido, seu uso é um fator de risco para aspiração durante procedimentos que requerem anestesia geral ou sedação profunda.[32][33][34]
Fisiopatologia
Uma maior prevalência de doença cerebrovascular e neurológica degenerativa em pessoas com >70 anos explica o motivo pelo qual a idade avançada é um fator de risco para a aspiração. Essas condições resultam em disfagia e redução no reflexo de tosse, o que aumenta o risco de aspiração de corpos estranhos, alimentos, líquidos e contraste de bário.[4][35]
Anticolinérgicos, antipsicóticos ou ansiolíticos também podem prejudicar o reflexo de tosse e/ou deglutição.
A taquipneia, decorrente de várias condições clínicas, altera a coordenação entre a deglutição e a respiração e aumenta o risco de aspiração.[36]
O tônus dos esfíncteres esofágicos inferior e superior diminui na doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), com alguns medicamentos (anticolinérgicos, antipsicóticos e ansiolíticos) e com a colocação de sondas endotraqueais, de traqueostomia, gástricas ou nasogástricas. Essa diminuição no tônus dos esfíncteres aumenta o risco de aspiração do conteúdo gástrico.[8]
A perda ou o comprometimento dos reflexos laríngeos de proteção durante o período perioperatório contribui para o aumento do risco de aspiração pulmonar relacionada à anestesia. Além dos reflexos obnubilados da anestesia e da sedação, a posição supina durante procedimentos diagnósticos, cirúrgicos e odontológicos alinha a traqueia e a orofaringe, aumentando o risco de aspiração.[37]
Estados fisiológicos alterados como gestação, distúrbios gastrointestinais e diabetes mellitus estão associados ao retardo na taxa de esvaziamento gástrico, o que aumenta o volume gástrico. Os opioides podem retardar significativamente o esvaziamento gástrico e promover íleo paralítico. Foi demonstrado que os agonistas do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon 1 (GLP-1) e os agonistas do receptor polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose (GIP)/GLP-1retardam o esvaziamento gástrico.[32][33]
A gravidez aumenta o risco de aspiração porque a progesterona diminui o tônus do esfíncter esofágico inferior e retarda o esvaziamento gástrico, além do aumento da pressão intra-abdominal secundária ao útero gravídico. A aspiração de suco gástrico e a pneumonite resultante que ocorre no contexto da gravidez e da anestesia foram descritas pela primeira vez pelo epônimo Mendelson e são a base para a ampla prática do jejum pré-operatório.[38]
A aspiração de diferentes materiais gástricos pode ter efeitos diferentes. O material com pH baixo (ácido) leva à lesão pulmonar com predominância de neutrófilos. Existe a apoptose do epitélio alveolar tipo I causada pelo contato direto com ácido e a liberação de mediadores pró-inflamatórios em decorrência da ativação dos receptores sensíveis à capsaicina (TRPV-1). Em alternativa, a aspiração de pequenas partículas gástricas não ácidas (PPNA) ou bactérias estimula diretamente os macrófagos alveolares para liberar mediadores imunes/pró-inflamatórios inatos por meio da ativação de receptores scavenger polianiônicos ou receptores do tipo Toll. Mesmo sem lesões relacionadas a partículas ou ácidos, o suco gástrico pode conter enzimas digestivas, como pepsina e sais biliares, que são cáusticas para o epitélio respiratório e provavelmente influenciam o tipo e a gravidade da apresentação respiratória.[39] A maioria dos pacientes aspira conteúdo gástrico complexo, que é uma combinação de partículas alimentares gástricas, produtos bacterianos, citocinas e ácido, chamada de combinação de ácido e pequenas partículas de alimento (CAPP). A aspiração de CAPP pode agravar os danos em decorrência do efeito sinérgico do ácido e das pequenas partículas gástricas. O volume, a viscosidade, a força da inalação durante a aspiração e as defesas do hospedeiro contribuem para a apresentação variável que pode se manifestar como bronquite, bronquiolite, pneumonite/pneumonia e, finalmente, síndrome do desconforto respiratório agudo.
Independentemente do tipo de material da aspiração, há uma inflamação aguda no pulmão caracterizada por infiltração de neutrófilos, hemorragia alveolar, edema intra-alveolar e intersticial e comprometimento da remoção do líquido alveolar. Isso é seguido por um processo de reparo caracterizado pela coleta e eliminação dos detritos alveolares feitas por macrófagos e pela proliferação de células epiteliais alveolares tipo II.[40]
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