Abordagem

Uma vez que a pessoa for diagnosticada com infecção por HIV, é importante medir a contagem de CD4, além da carga viral. A contagem de CD4 é um marcador altamente sensível e específico que determina a suscetibilidade a determinadas infecções oportunistas.[77]

  • A tuberculose (TB) pode ocorrer com qualquer contagem de CD4, mas o risco aumenta com contagens de CD4 mais baixas.​[1][47][78]​​​​

  • Os indivíduos com uma contagem de CD4 inferior a 250 células/microlitro que vivem ou visitam áreas onde as espécies de Coccidioides são endêmicas apresentam um aumento do risco de contrair coccidioidomicose.[42]

  • O risco de pneumonia por Pneumocystis jirovecii (PPC) e candidíase orofaríngea ou esofágica é significativamente maior quando a contagem de CD4 é inferior a 200 células/microlitro.[1]

  • Os indivíduos com contagem de CD4 abaixo de 150 células/microlitro que vivem ou viajaram para áreas endêmicas de Histoplasma capsulatum apresentam aumento do risco de desenvolver histoplasmose disseminada progressiva.[1]

  • Quando a contagem de CD4 é inferior a 100 células/microlitro, as pessoas correm maior risco de toxoplasmose.[1]

  • O risco de doença de órgãos-alvo por citomegalovírus (CMV) e complexo Mycobacterium avium (MAC) é maior quando a contagem de CD4 é inferior a 50 células/microlitro.[1]​ Mais de três quartos das infecções criptocócicas associadas à AIDS se desenvolvem quando a contagem de CD4 cai para um nível abaixo de 50 células/microlitro.[54]

Os indivíduos que não estiverem recebendo terapia antirretroviral supressora têm maior probabilidade de desenvolverem infecções oportunistas.[57]

Tuberculose

O diagnóstico de TB nas pessoas que vivem com HIV pode ser desafiador, já que ela pode apresentar sinais e sintomas (como febre, perda de peso e mal-estar) que podem ser atribuídos ao próprio HIV e as manifestações clínicas da TB pulmonar podem ser diferentes, dependendo do nível de imunossupressão.[2] Os indivíduos com contagem de CD4 inferior a 350 células/microlitro têm maior probabilidade de apresentarem manifestações menos comuns da TB, como doença pulmonar no lobo inferior, doença miliar e doença extrapulmonar.[79] Independentemente de a pessoa apresentar ou não sinais ou sintomas pulmonares, as avaliações para TB devem começar com uma radiografia torácica, ou mesmo uma tomografia computadorizada (TC), se possível, uma vez que a TC pode detectar infiltrados não observados na radiografia torácica.[80] Dependendo da região acometida, a TB pode se manifestar com dispneia, tosse, linfadenopatia, cefaleia, meningismo, dor abdominal, disúria ou formação de abscesso.

Um alto índice de suspeita deve ser mantido ao se avaliarem pessoas que vivem com HIV com sintomas sugestivos de TB, já que as radiografias torácicas podem parecer normais.[81] As investigações diagnósticas devem incluir esfregaço, cultura e testes de ácido nucleico, se disponíveis, e ser direcionadas com base no sítio anatômico de envolvimento (por exemplo, amostra respiratória ou outra amostra de tecido ou fluido).[1]

Coloração de bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR) e cultura

  • Três amostras de escarro devem ser obtidas para esfregaço e cultura para BAAR.[82]

  • Amostras obtidas por broncoscopia com lavagem broncoalveolar e biópsia transbrônquica podem ser úteis na avaliação de uma pessoa com uma radiografia torácica alterada quando as baciloscopias do escarro forem negativas.

  • Na TB extrapulmonar, esfregaços e culturas para BAAR devem também ser realizados em amostras de outros sítios.[82]

Testes moleculares (teste de amplificação de ácidos nucleicos; reação em cadeia da polimerase)

  • Vários testes de amplificação de ácidos nucleicos (NAATs) rápidos estão disponíveis para o diagnóstico de TB, e alguns também podem detectar resistência a alguns medicamentos para TB.[83][84][85][86][87][88]​​​​​​​​​​​ Dado que os NAAT são mais sensíveis que os esfregaços e podem ajudar a distinguir entre M tuberculosis e micobactérias não tuberculosas, eles devem ser realizados em pelo menos uma amostra dos indivíduos com suspeita de TB pulmonar.[89]​ Embora os NAATs tenham sido originalmente concebidos e aprovados para amostras respiratórias, eles podem também ser solicitados em amostras de outros sítio quando houver suspeita de envolvimento de TB (por exemplo, líquido cefalorraquidiano, aspirado de linfonodo, biópsia de linfonodo, líquido pleural, líquido peritoneal, líquido pericárdico, líquido sinovial ou urina).[83] Nos EUA, o uso de NAATs para amostras extrapulmonares não é aprovado pela Food and Drug Administration dos EUA e, portanto, o uso nesse cenário é off-label.

Teste do lipoarabinomanano

  • Os testes de fluxo lateral que detectam o antígeno lipoarabinomanano (LAM) na urina surgiram como possíveis testes laboratoriais remotos adjuvantes em certos países. Uma revisão Cochrane constatou que o teste de fluxo lateral do lipoarabinomanano (LF-LAM) na urina tem sensibilidade de 42% e especificidade de 91% no diagnóstico da TB em indivíduos HIV-positivos com sintomas de TB.[90]

  • A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o LF-LAM seja usado para auxiliar no diagnóstico de TB ativa em indivíduos HIV-positivos, quando utilizado em combinação com outros testes.[83] Essa abordagem é respaldada por outra revisão Cochrane, que constatou redução na mortalidade e um aumento nos inícios de tratamento com o uso de LF-LAM em pacientes hospitalizados e ambulatoriais.[91]​ A cultura ainda seria necessária para o teste de sensibilidade aos medicamentos.

Ensaios in vitro

  • Níveis elevados de adenosina desaminase (ADA) no líquido pleural mostraram ser altamente sensíveis e específicos para a pleurite tuberculosa, independentemente da contagem de CD4. Embora outras doenças, como câncer, possam também causar elevação da ADA no líquido pleural, os níveis geralmente não excedem os valores de corte sugeridos para a TB.[92] Em um estudo, a sensibilidade da adenosina desaminase foi de 94% e a especificidade, de 95%, em pessoas vivendo com HIV, independentemente das contagens de CD4, quando o valor de corte foi de 30 U/L.[93]

Exames por imagem

  • A radiografia torácica deve ser realizada em todos os indivíduos com suspeita de TB. Um infiltrado no lobo superior, com ou sem cavidades, é altamente sugestivo de TB pulmonar, embora muitas pessoas com coinfecção por HIV e TB apresentem radiografias torácicas atípicas.[94] Os indivíduos com contagem de CD4 inferior a 200 células/microlitro podem apresentar escarro positivo para cultura de TB e uma radiografia torácica normal.

  • A tomografia computadorizada (TC) é útil para detectar a TB pulmonar em indivíduos com radiografias torácicas normais e para detectar lesões extrapulmonares. A TC da cabeça é recomendada se houver suspeita de meningite tuberculosa; os achados incluem tuberculomas, realce basal pós-contraste, hidrocefalia e infartos.[95] Uma TC do abdome deve ser considerada nos indivíduos com dor abdominal.

Biópsia

  • Pode ser transbrônquica ou de um sítio extrapulmonar (por exemplo, medula óssea, coluna vertebral, fígado, linfonodo).

  • No exame patológico, granulomas tuberculosos são detectados em 60% a 100% dos casos, dependendo do estado imunológico do indivíduo e do local da amostra.[96]

  • A amostra obtida também deve ser examinada para BAAR e cultivada para micobactéria.

Hemoculturas

  • As hemoculturas micobacterianas podem ser positivas na TB disseminada.[97]

Doença do complexo Mycobacterium avium (MAC) disseminada

A doença por MAC disseminada ocorre apenas em pessoas com imunossupressão avançada; em pessoas que vivem com HIV, ela ocorre principalmente naquelas com contagem de CD4 inferior a 50 células/microlitro. O quadro clínico pode incluir sinais e sintomas inespecíficos, como febre alta, sudorese noturna, fadiga, perda de peso, anemia e anorexia. A dor abdominal pode resultar do envolvimento de linfonodos retroperitoneais, e uma diarreia crônica pode representar envolvimento da mucosa intestinal. As outras manifestações incluem hepatoesplenomegalia, linfadenopatia e leucopenia. As apresentações mais incomuns incluem ulceração palatal e gengival, artrite séptica, osteomielite, endoftalmite, pericardite e sangramento gastrointestinal.[98][99][100]

Investigações laboratoriais

  • O hemograma completo pode mostrar anemia (geralmente, grave, hematócrito <25%) e leucopenia.

  • Testes de função hepática anormal, incluindo fosfatase alcalina e lactato desidrogenase (LDH) elevadas e albumina baixa.

  • Culturas: as hemoculturas para BAAR detectam mais de 90% dos casos e são o exame de escolha para o diagnóstico de MAC disseminado; elas devem ser coletadas de todos os indivíduos com fatores de risco e características clínicas.[101][102]​​ O MAC não cresce em meios de hemocultura padrão. A identificação de espécies pode ser estabelecida usando sondas DNA, e o isolamento de MAC de outros locais estéreis, como medula óssea, linfonodos, articulações e amostras gastrointestinais, também pode ser útil.[103]

Exames por imagem

  • Uma TC abdominal pode ser útil na avaliação diagnóstica de uma pessoa com MAC disseminado, pois é provável que demonstre aumento dos linfonodos mesentéricos e abdominais, bem como hepatoesplenomegalia e espessamento da parede do intestino delgado.[104] Entretanto, TCs abdominais normais foram relatadas em 25% dos indivíduos com AIDS com MAC disseminado.[105]

Pneumonia por P jirovecii

Os indivíduos com pneumonia por Pneumocystis (PPC) geralmente se apresentam com dispneia que piora aos esforços, febre e tosse não produtiva. Em comparação com indivíduos clinicamente imunossuprimidos sem infecção por HIV, aqueles com HIV geralmente apresentam sintomas que evoluem durante um período mais longo (28 dias, em média, em comparação com 5 dias, respectivamente).[106][107]

A avaliação inicial de uma pessoa com suspeita de PPC deve começar com uma radiografia torácica. Se a radiografia torácica for normal, mas houver suspeita de PPC, uma TC de alta resolução (TCAR) deve ser solicitada.[1]

O diagnóstico da PPC é estabelecido pela visualização das formas císticas ou tróficas em amostras respiratórias obtidas por escarro induzido ou broncoscopia com lavagem broncoalveolar (LBA), a qual apresenta um rendimento diagnóstico significativamente maior.[108]O Pneumocystis não pode ser cultivado.

Investigações laboratoriais

  • A concentração sérica da lactato desidrogenase (LDH) está frequentemente elevada e pode ser sugestiva de PPC em indivíduos com fatores de risco e características clínicas compatíveis.[109]

  • A diminuição da oxigenação sanguínea é o achado laboratorial mais comum entre indivíduos com PPC. Gradientes alargados de oxigênio alvéolo-arterial (PAO₂-PaO₂) foram relatados em >90% dos casos, e a magnitude pode refletir a gravidade da doença e ser útil para monitoramento nos casos graves.[110] A dessaturação de oxigênio durante o esforço físico pode ser um achado especialmente sensível.[111]

  • O beta-D-glucano, um componente da parede celular da maioria dos fungos, pode ser útil para diagnóstico não invasivo. Embora o beta-D-glucano elevado não seja específico para PPC, ele deve levantar suspeita se for detectado em uma pessoa com fatores de risco e um quadro clínico compatível.[112]

Indução de escarro (por inalação de solução salina hipertônica aerossolizada)

  • O rendimento diagnóstico do escarro expectorado é muito baixo para ter qualquer utilidade clínica. O exame do escarro induzido é recomendado como teste de rastreamento inicial. Como o valor preditivo negativo deste teste é relativamente baixo, se o teste der negativo, deve-se providenciar o encaminhamento para broncoscopia por fibra óptica com LBA, o que aumenta significativamente o rendimento diagnóstico para >90%.[108] As amostras devem ser avaliadas com métodos de coloração específicos (por exemplo, metenamina de prata de Gomori, Wright-Giemsa, Diff-Quick ou imunofluorescência). A reação em cadeia da polimerase é cada vez mais utilizada para auxiliar no diagnóstico de PPC. Embora um teste positivo possa refletir colonização em vez de doença ativa, um teste negativo de uma amostra do trato respiratório inferior pode ser usado para descartar PPC com segurança.[1][112]

Exames por imagem

  • A radiografia torácica deve ser realizada em todos os indivíduos com suspeita de PPC. Um infiltrado intersticial difuso é típico. Cavitação ou lesões císticas, abscesso, condensação lobar, lesões nodulares, derrames e pneumotórax são apresentações menos comuns.[113] Infiltrados no lobo superior podem ser observados em indivíduos com PPC que estão usando pentamidina aerossolizada.[114]

  • TC de tórax: a TCAR tem sensibilidade de 100% e deve ser considerada quando a radiografia torácica for normal, uma vez que uma TCAR normal descarta essencialmente a PPC. Os achados da TCAR em pacientes com PPC precoce incluem opacidades reticulares, nodulares e em vidro fosco. Nos casos mais avançados, a TC pode demonstrar condensações, cistos de paredes finas no lobo superior ou pneumotórax.[115]

Biópsia

  • Biópsias transbrônquicas poderão ser realizadas se a LBA inicial for negativa, mas a suspeita clínica de PPC for alta, ou se outros diagnósticos forem considerados prováveis. A sensibilidade das biópsias transbrônquicas é de 95% a 100%.[1]

  • A biópsia aberta não é mais recomendada, dadas as vantagens da LBA e das técnicas moleculares. Em casos raros, biópsias por cirurgia torácica videoassistidas são consideradas quando a broncoscopia é inconclusiva.

Toxoplasmose

Nas pessoas com AIDS, a encefalite toxoplásmica geralmente se apresenta com febre e sintomas de encefalite, inclusive cefaleia, convulsões, fraqueza motora e/ou uma série de alterações do estado mental.[116] As manifestações extracerebrais menos comuns incluem a pneumonite e a coriorretinite.[117][118]​​ Pode ainda haver comprometimento gastrointestinal e musculoesquelético.

Um diagnóstico presuntivo pode ser realizado com uma probabilidade de 90% em uma pessoa com uma contagem de CD4 abaixo de 100 células/microlitro e:

  • Soropositividade para anticorpo imunoglobulina G (IgG) contra Toxoplasma gondii

  • Ausência de profilaxia prévia eficaz contra o toxoplasma

  • Exame de imagem cerebral com padrão radiológico típico (como lesões múltiplas com realce em anel).

Nesses casos, a prática comum é o tratamento empírico para toxoplasmose. Entretanto, se a pessoa não responder à terapia empírica após 2 semanas (com base na melhora clínica e radiográfica), deve-se realizar uma biópsia cerebral.[119]

Sorologia

  • A soropositividade para anticorpos IgG antitoxoplasma torna o diagnóstico mais provável; no entanto, a ausência desses anticorpos não a exclui.

Punção lombar

  • Os achados do líquido cefalorraquidiano (LCR) são inespecíficos e frequentemente mostram pleocitose mononuclear leve e proteína elevada. A coloração de Giemsa pode exibir taquizoítos. A detecção de T gondii no LCR por reação em cadeia da polimerase estabelece o diagnóstico, mas um resultado negativo não o descarta.[120]

Exames por imagem

  • A TC e a ressonância magnética (RNM) devem ser consideradas; Ressonância magnética é mais sensível que TC.[121] A TC e a RNM do cérebro geralmente exibem lesões com realce em anel, frequentemente associadas a edema. As lesões múltiplas são mais comuns que as lesões únicas.[122]

  • A TC por emissão de fóton único de tálio (SPECT) e a tomografia por emissão de pósitrons (PET) podem ser úteis na distinção entre toxoplasmose (ou outras infecções intracranianas) e linfoma do sistema nervoso central.[123][124]​​ Para diferenciar o linfoma cerebral da encefalite toxoplásmica, uma PET com F-fluordeoxiglucose (FDG) pode ser útil; a captação da F-FDG é normalmente significativamente maior no linfoma cerebral. Os exames com tálio na era da TAR são de utilidade limitada.[125][126]

Biópsia cerebral (aberta ou estereotáxica)

  • Estabelece um diagnóstico definitivo de toxoplasmose cerebral, embora os indivíduos sejam normalmente tratados com base em um diagnóstico presuntivo sem biópsia cerebral, a qual está associada a um risco significativamente alto de complicações. O teste de reação em cadeia da polimerase para toxoplasma também estabelece um diagnóstico definitivo, e tornou as biópsias cerebrais menos necessárias.[127]

citomegalovírus (CMV)

A retinite é o quadro clínico mais comum na doença por CMV em pessoas com AIDS e pode causar comprometimento visual grave. O exame fundoscópico é útil. Moscas volantes são comuns, e áreas de infarto, hemorragia, infiltrados retinianos brancos flocosos perivasculares e opacificação retiniana geralmente são observados.[128] O diagnóstico é estabelecido clinicamente por um oftalmologista. As outras manifestações menos comuns podem incluir colite (segunda mais comum), ventriculite, colangite, encefalite e gastrite.[129] Dor e fraqueza podem indicar a presença de polirradiculopatia por CMV.​[130]

Investigações laboratoriais

  • O hemograma completo pode exibir anemia, leucopenia ou trombocitopenia.

  • Sorologia: a doença relacionada ao CMV é baseada no quadro clínico e, quando possível, na identificação do vírus no tecido. A sorologia de rotina para CMV não é recomendada para fins de confirmação da doença por CMV em pessoas com HIV, uma vez que uma proporção significativa dessa população é soropositiva.[131]​ No entanto, a IgG anti-CMV pode ser considerada se a transfusão de sangue for contemplada em uma pessoa com baixo risco de exposição ao CMV. Uma IgG anti-CMV negativa pode dar suporte ao uso de hemoderivados livres de CMV.[131]​ A sorologia não é útil para diagnosticar retinite por CMV.

  • O teste por reação em cadeia da polimerase quantitativa para CMV tem utilidade limitada e não é recomendado para pessoas vivendo com HIV, pois a viremia pode estar presente na ausência de doença por CMV. Além disso, o desempenho do teste é limitado: com ponto de corte de 400 cópias/mL (o limite de detecção para viremia por CMV), sua sensibilidade é de apenas 47%, e o valor preditivo negativo é de 70%.[132] Além disso, a viremia por CMV está ausente em mais da metade dos indivíduos com retinite por CMV.[133]

Infecção por Cryptococcus

Geralmente manifesta-se como uma meningite subaguda ou como meningoencefalite com febre, mal-estar e cefaleia. Os indivíduos podem também apresentar rigidez de nuca, fotofobia, vômitos e estado mental alterado. A doença disseminada pode também ocorrer, com ou sem meningite concomitante. Nesses casos, pode haver comprometimento pulmonar ou lesões cutâneas.

Punção lombar

  • A punção lombar é necessária para o diagnóstico. A pressão de abertura do líquido espinhal deve ser medida, já que se mostra elevada em até 75% dos indivíduos (com pressões >200 mm de H₂O).

  • Os achados do LCR costumam não ser dignos de nota, com células mononucleares e proteínas minimamente elevadas e glicose reduzida ou normal; o perfil do LCR pode ser normal em aproximadamente um quarto dos casos.[134][135]​​​​ O exame do LCR em tinta nanquim continua sendo um teste rápido que é positivo em mais de 60% das pessoas com AIDS com meningite criptocócica.[136]​ No entanto, um exame negativo de coloração com tinta nanquim não descarta infecção. Os testes de antígeno criptocócico (CrAg) no LCR são altamente sensíveis e específicos e devem sempre ser incluídos na avaliação diagnóstica.[137] Culturas fúngicas do LCR devem também ser realizadas.

  • O CrAg sérico deve também ser realizado, pois a sensibilidade é comparável à do CrAG no LCR e porque as punções lombares podem, às vezes, ser proteladas ou inviáveis.[138]

  • Os testes criptocócicos com reação em cadeia da polimerase estão incluídos em alguns testes multiplex com reação em cadeia da polimerase, embora o desempenho e o valor clínico desses testes exijam estudos mais aprofundados.[139]

Hemoculturas

  • Três quartos das pessoas com criptococose associada ao HIV apresentam hemoculturas positivas para Cryptococcus neoformans, o qual pode crescer na maioria dos meios bacterianos e fúngicos.[140]

Candidíase mucocutânea

As infecções orais por Candida podem causar candidíase, uma IO comum nas pessoas com AIDS, caracterizada por manchas brancas cremosas semelhantes a coalhada na língua e nas mucosas orais que podem ser removidas por raspagem. A candidíase pode ser assintomática ou causar sensação de algodão na boca, sabor potencialmente alterado e dificuldade de deglutição.[141] Os indivíduos também podem desenvolver esofagite por Candida, a qual pode se manifestar como deglutição dolorosa, sensação de obstrução e, às vezes, dor torácica subesternal.[142] Pode também ocorrer candidíase da mucosa envolvendo as regiões vaginal e retal, causando edema, prurido e corrimento espesso, de aspecto caseoso.[143]

A candidíase é diagnosticada clinicamente, geralmente com base em sintomas característicos e na aparência das lesões.

Investigações laboratoriais

  • A confirmação diagnóstica da candidíase pode ser feita com raspagem para exame microscópico, utilizando esfregaço de hidróxido de potássio (KOH) a 10% ou coloração de Gram, a qual pode mostrar achados característicos, tais como hifas, pseudo-hifas e leveduras de brotamento.[144]

  • Geralmente as culturas não são necessárias, a menos que as lesões não se resolvam com o tratamento antifúngico.

Exames por imagem

  • Endoscopia digestiva alta é útil no diagnóstico de candidíase esofágica.[145][146]

  • A esofagografia baritada é de utilidade limitada, já que a aparência radiográfica somente não pode determinar a causa das lesões.

Coccidioidomicose

Os sintomas da coccidioidomicose pulmonar são frequentemente semelhantes aos das doenças respiratórias típicas, e os indivíduos apresentam frequentemente sinais e sintomas sugestivos de uma infecção respiratória viral ou pneumonia adquirida na comunidade; portanto, um alto índice de suspeita é importante em pessoas com exposições endêmicas.[147] Embora o período de incubação típico seja de 1-3 semanas, os indivíduos que desenvolvem imunossupressão por infecção avançada por HIV podem desenvolver doença sintomática vários anos após a exposição.[148] O estabelecimento do diagnóstico de coccidioidomicose depende da detecção de anticorpos anticoccidioides no sangue, LCR ou outro fluido corporal, ou da recuperação de espécies ou esférulas de Coccidioides de uma amostra clínica. Pessoas imunocomprometidas, como aquelas com infecção avançada por HIV, podem não ser capazes de produzir uma resposta de anticorpos, caso em que podem ser necessários testes de antígeno e/ou reação em cadeia da polimerase, além de culturas.[149]

Cultura

  • O isolamento de organismos Coccidioides do escarro de uma pessoa ou de outra amostra clínica estabelece definitivamente o diagnóstico de coccidioidomicose e não deve ser considerado como representando colonização. Os organismos crescem bem dentro de 5 a 7 dias após a incubação na maioria dos meios micológicos e bacteriológicos. Quando se observa crescimento, são imperativas medidas apropriadas de biocontenção, uma vez que as culturas são altamente infecciosas e a equipe do laboratório corre risco de infecção.[150]

Sorologia

  • Os testes sorológicos são mais frequentemente usados para diagnosticar a coccidioidomicose pulmonar primária e são altamente específicos para infecção.[151] Se o teste sorológico for negativo em caso de suspeita de infecção, recomenda-se a repetição do teste sorológico, pois podem ser necessárias semanas para se desenvolver uma resposta adequada de anticorpos.

  • A sorologia para Coccidioides deve ser realizada em indivíduos com quadros clínicos compatíveis, caso tenham residido ou visitado regiões endêmicas.

  • O ensaio imunoenzimático (EIE) está amplamente disponível e detecta anticorpos IgM e IgG específicos contra Coccidioides. Resultados positivos no EIE devem ser confirmados com imunodifusão e fixação de complemento.[1]

Teste de antígeno

  • O teste do antígeno de Coccidioides pode ser realizado no soro, na urina e no LCR.

reação em cadeia da polimerase

  • A reação em cadeia da polimerase em tempo real pode ser usada para detecção de Coccidioides, embora a disponibilidade seja geralmente limitada.

Exames por imagem

  • Estudos de imagem, como radiografia torácica ou tomografia computadorizada, são geralmente úteis durante a avaliação inicial, mas os achados radiográficos são inespecíficos.

Histoplasmose

A histoplasmose disseminada em indivíduos com HIV geralmente apresenta sintomas sistêmicos, como febre, perda de peso, fadiga, sintomas respiratórios e hepatoesplenomegalia. É uma infecção oportunista significativa em regiões endêmicas e, geralmente, ocorre quando as contagens de CD4 estão abaixo de 150 células/microlitro.[1]​ As características clínicas comuns incluem tosse, dispneia e sintomas gastrointestinais, como diarreia, dor abdominal, náuseas e vômitos.[1][152][153]​​ O envolvimento do sistema nervoso central (SNC) pode manifestar-se como meningite séptica, convulsões ou estado mental alterado. Em casos graves, os indivíduos podem desenvolver choque séptico, insuficiência de múltiplos órgãos ou complicações pericárdicas que exigem intervenção urgente.[1][43]

Teste de antígeno

  • Os testes de detecção de antígeno para Histoplasma capsulatum são o método diagnóstico preferencial para histoplasmose disseminada. Esses ensaios demonstram alta sensibilidade e especificidade, particularmente em casos disseminados. Eles permitem um diagnóstico rápido, reduzindo o tempo até o início do tratamento.[1]

  • O teste de antígeno pode usar amostras não invasivas, como urina ou soro. Também pode ser realizado no líquido cefalorraquidiano (LCR) e no líquido da lavagem broncoalveolar em casos que envolvam o SNC ou os pulmões.[1]

Cultura[1]

  • A cultura é um método diagnóstico definitivo para H capsulatum, mas requer várias semanas para obter resultados devido ao crescimento lento do organismo.

  • As hemoculturas podem ser particularmente úteis para diagnosticar histoplasmose disseminada, especialmente em indivíduos gravemente imunossuprimidos.

Histopatologia[27]

  • Colorações específicas para fungos, como a metenamina de prata de Gomori, são usadas para identificar as formas de levedura características de H capsulatum.

  • A coloração com ácido periódico de Schiff também pode ser usada para visualizar elementos fúngicos em amostras de tecido.

  • A histopatologia é particularmente útil para o diagnóstico presuntivo rápido em cenários clínicos agudos.

Métodos moleculares

  • Os métodos de diagnóstico molecular baseados em reação em cadeia da polimerase demonstram alta sensibilidade e especificidade para detecção de DNA de Histoplasma. Esses métodos podem servir como testes adjuvantes, principalmente quando os diagnósticos convencionais produzem resultados inconclusivos.

  • A disponibilidade e a padronização de ensaios moleculares continuam limitadas na prática clínica.

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