Há um debate sobre o número exato de bactérias em uma urocultura necessário para se definir a infecção do trato urinário (ITU) em homens. O limite padronizado nos pacientes sintomáticos é >100,000 UFC/mL para os organismos identificados como patógenos comuns; no entanto, muitos locais agora usam o limite de 10,000 UFC/mL ou 1000 UFC/mL, com base no método de coleta ou na população de pacientes, como a linha basal para a cultura e a significância clínica.[43]Miller JM, Binnicker MJ, Campbell S, et al. Guide to utilization of the microbiology laboratory for diagnosis of infectious diseases: 2024 update by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and the American Society for Microbiology (ASM). Clin Infect Dis. 2024 Mar 5:ciae104.
https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciae104/7619499
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38442248?tool=bestpractice.com
A urina de um homem com sintomas do trato urinário (disúria, polaciúria, urgência, dor suprapúbica, dor no ângulo costovertebral) que cultive ≥10³ unidades formadoras de colônias (UFC)/mL de um organismo único ou predominante na cultura sugere a presença de ITU.[25]Lipsky BA, Schaberg DR. Managing urinary tract infections in men. Hosp Prac. 2000 Jan 15;35(1):53-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10645989?tool=bestpractice.com
[44]European Association of Urology. Guidelines on urological infections. Apr 2024 [internet publication].
https://uroweb.org/guidelines/urological-infections
História
A maioria das ITUs ocorre em homens depois dos 50 anos de idade, e a incidência é mais alta entre os residentes de unidades de cuidados de longa permanência.
A disúria frequentemente resulta de infecção.[6]Roberts RG, Hartlaub PP. Evaluation of dysuria in men. Am Fam Physician. 1999 Sep 1;60(3):865-72.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10498112?tool=bestpractice.com
Além disso, polaciúria, urgência e dor suprapúbica são sinais de ITU. A dor no ângulo costovertebral sugere a extensão da ITU para o rim (pielonefrite). A dor retal ou perineal pode indicar ITU associada à prostatite. Homens podem apresentar secreção uretral ou ter sintomas relacionados ao fluxo da urina comprometido, como hesitação ou noctúria.[25]Lipsky BA, Schaberg DR. Managing urinary tract infections in men. Hosp Prac. 2000 Jan 15;35(1):53-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10645989?tool=bestpractice.com
Por fim, a história inclui a identificação de sinais sistêmicos (por exemplo, febre, calafrios) e possíveis estados imunocomprometidos (por exemplo, diabetes mellitus) que podem indicar uma doença mais grave e que requer hospitalização.
A história médica pregressa pode revelar os seguintes riscos que contribuem com a ITU:[25]Lipsky BA, Schaberg DR. Managing urinary tract infections in men. Hosp Prac. 2000 Jan 15;35(1):53-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10645989?tool=bestpractice.com
ITU prévia
Hiperplasia prostática benigna (HPB)
Cálculos no trato urinário
Instrumentação ou cirurgia urológica prévia
Internação recente
A história social irá identificar práticas e preferências sexuais; particularmente, o sexo anal aumenta o risco de ITU.
Exame físico
O exame físico é útil para excluir outras possíveis causas dos sintomas do paciente. Ele deve pelo menos incluir abdome, genitália, reto e palpação do ângulo costovertebral.
A próstata com sensibilidade à palpação e esponjosa, a próstata firme e aumentada ou nodularidade sugerem prostatite, hiperplasia da próstata e câncer de próstata, respectivamente.
As lesões ou secreções do pênis sugerem infecção sexualmente transmissível.
A dor ou edema do epidídimo ou testículos implica a presença de epididimite ou orquite, respectivamente.
A febre pode ocorrer em pacientes com ITU complicada.
Laboratório
A tira reagente ou urinálise microscópica são os exames iniciais para homens com suspeita de ITU. Se a tira reagente for negativa para nitritos e esterase leucocitária, ou se a urinálise microscópica for negativa para bactérias e leucócitos, isto descarta infecção, mas a presença desses marcadores não exclui ITU.[2]Hummers-Pradier E, Kochen MM. Urinary tract infections in adult general practice patients. Br J Gen Pract. 2002 Sep;52(482):752-61.
http://bjgp.org/content/bjgp/52/482/752.full.pdf
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12236281?tool=bestpractice.com
[45]Devillé WL, Yzermans JC, van Duijn NP, et al. The urine dipstick test useful to rule out infections: a meta-analysis of the accuracy. BMC Urol. 2004 Jun 2;4:4.
https://bmcurol.biomedcentral.com/articles/10.1186/1471-2490-4-4
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15175113?tool=bestpractice.com
Resultados negativos indicam a necessidade de se buscar outra causa para os sintomas do paciente. Uma urinálise positiva em um homem com sintomas típicos de ITU deve ser acompanhada pela urocultura e a antibioticoterapia empírica, enquanto o resultado da cultura é aguardado. Na ausência de sinais e sintomas de ITU, a urocultura normalmente não é recomendada.[43]Miller JM, Binnicker MJ, Campbell S, et al. Guide to utilization of the microbiology laboratory for diagnosis of infectious diseases: 2024 update by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and the American Society for Microbiology (ASM). Clin Infect Dis. 2024 Mar 5:ciae104.
https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciae104/7619499
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38442248?tool=bestpractice.com
Nos homens com uma urinálise positiva, a coloração de Gram da urina pode orientar a escolha inicial do antibiótico; no entanto, isso não é necessário, pois a terapia empírica pode ser escolhida com base nas bactérias patogênicas previstas. A coloração de Gram, como a urinálise, não confirma a presença de ITU.[15]Cornia PB, Takahashi TA, Lipsky BA. The microbiology of bacteriuria in men: a 5-year study at a Veterans' Affairs hospital. Diagn Microbiol Infect Dis. 2006 Sep;56(1):25-30.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16713165?tool=bestpractice.com
A cultura é essencial para confirmar o diagnóstico de ITU e por causa do potencial de organismos não tradicionais em homens.[5]Schaeffer AJ. Infections of the urinary tract. In: Walsh PC, ed. Campbells' urology, 8th ed. Philadelphia, PA: Saunders; 2002.[19]Stamm WE, Hooton TM. Management of urinary tract infections in adults. N Engl J Med. 1993 Oct 28;329(18):1328-34.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8413414?tool=bestpractice.com
A presença de ≥10² UFC/mL de um organismo único ou predominante em uma cultura confirma a ITU em homens sintomáticos. Uma amostra de urina de jato médio usada para cultura se compara favoravelmente à aspiração suprapúbica ou a amostras de cateteres.[46]Lipsky BA, Ireton RC, Fihn SD, et al. Diagnosis of bacteriuria in men: specimen collection and culture interpretation. J Infect Dis. 1987 May;155(5):847-54.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3559288?tool=bestpractice.com
Não há diferenças na abordagem para pacientes de ambulatório ou de unidades de cuidados de longa permanência. No entanto, nos cuidados de longa permanência, a urinálise é ainda menos preditiva da presença de ITU, porque uma grande proporção desses pacientes tem piúria relacionada à bacteriúria assintomática.[11]Shortliffe LM, McCue JD. Urinary tract infection at the age extremes: pediatrics and geriatrics. Am J Med. 2002 Jul 8;113(suppl 1A):55S-66S.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12113872?tool=bestpractice.com
[4]Nicolle LE, Gupta K, Bradley SF, et al. Clinical practice guideline for the management of asymptomatic bacteriuria: 2019 update by the Infectious Diseases Society of America. Clin Infect Dis. 2019 May 2;68(10):e83-110.
https://academic.oup.com/cid/article/68/10/e83/5407612
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30895288?tool=bestpractice.com
Porém, uma urinálise negativa descarta a presença de ITU.[4]Nicolle LE, Gupta K, Bradley SF, et al. Clinical practice guideline for the management of asymptomatic bacteriuria: 2019 update by the Infectious Diseases Society of America. Clin Infect Dis. 2019 May 2;68(10):e83-110.
https://academic.oup.com/cid/article/68/10/e83/5407612
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30895288?tool=bestpractice.com
[11]Shortliffe LM, McCue JD. Urinary tract infection at the age extremes: pediatrics and geriatrics. Am J Med. 2002 Jul 8;113(suppl 1A):55S-66S.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12113872?tool=bestpractice.com
Marcadores biológicos de infecção bacteriana, como a expressão do receptor do gatilho solúvel em célula mieloide (sTREM-1), não têm sido um método confiável para detectar a infecção do trato urinário masculino como resultado de sua baixa sensibilidade.[42]Naber KG, Cho YH, Matsumoto T, et al. Immunoactive prophylaxis of recurrent urinary tract infections: a meta-analysis. Int J Antimicrob Agents. 2009 Feb;33(2):111-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18963856?tool=bestpractice.com
[47]Jiyong J, Tiancha H, Wei C, et al. Diagnostic value of the soluble triggering receptor expressed on myeloid cells-1 in bacterial infection: a meta-analysis. Intensive Care Med. 2009 Apr;35(4):587-95.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18936908?tool=bestpractice.com
[48]Masson P, Matheson S, Webster AC, et al. Meta-analyses in prevention and treatment of urinary tract infections. Infect Dis Clin North Am. 2009 Jun;23(2):355-85.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19393914?tool=bestpractice.com
Exames por imagem
O exame de imagem dos rins, ureteres e bexiga, por tomografia computadorizada (TC), ultrassonografia ou urograma intravenoso, deve ser reservado para:[1]Ronald AR, Harding GK. Complicated urinary tract infections. Infect Dis Clin North Am. 1997 Sep;11(3):583-92.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9378924?tool=bestpractice.com
[3]Ulleryd P, Zackrisson B, Aus G, et al. Selective urological evaluation in men with febrile urinary tract infection. BJU Int. 2001 Jul;88(1):15-20.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11446838?tool=bestpractice.com
Pessoas com disfunção urinária, sem uma causa claramente identificável, como hiperplasia prostática benigna (HPB)
Casos de falha do tratamento
Pessoas com hematúria persistente
Pessoas com sinais de infecção do trato superior.
Embora o exame de imagem de homens com ITU muitas vezes resulte em achados anormais, ele geralmente não altera o tratamento. Portanto, não é indicado em todos os casos.[1]Ronald AR, Harding GK. Complicated urinary tract infections. Infect Dis Clin North Am. 1997 Sep;11(3):583-92.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9378924?tool=bestpractice.com
[3]Ulleryd P, Zackrisson B, Aus G, et al. Selective urological evaluation in men with febrile urinary tract infection. BJU Int. 2001 Jul;88(1):15-20.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11446838?tool=bestpractice.com
[12]Krieger JN, Ross SO, Simonsen JM. Urinary tract infections in healthy university men. J Urol. 1993 May;149(5):1046-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8483206?tool=bestpractice.com
[13]Lipsky BA. Prostatitis and urinary tract infection in men: what's new; what's true? Am J Med. 1999 Mar;106(3):327-34.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10190383?tool=bestpractice.com
[19]Stamm WE, Hooton TM. Management of urinary tract infections in adults. N Engl J Med. 1993 Oct 28;329(18):1328-34.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8413414?tool=bestpractice.com
[26]Andrews SJ, Brooks PT, Hanbury DC, et al. Ultrasonography and abdominal radiography versus intravenous urography in investigation of urinary tract infection in men: prospective incident cohort study. BMJ. 2002 Feb 23;324(7335):454-6.
http://www.bmj.com/content/324/7335/454.full
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11859046?tool=bestpractice.com
O profissional de saúde deve escolher uma técnica de imagem com base na disponibilidade dos recursos locais e da patologia subjacente suspeita. A TC oferece mais detalhes em geral, mas é cara. Uma radiografia simples dos rins, ureter e bexiga pode ser útil se houver suspeita de cálculos, mas a TC é mais confiável. Se houver suspeita de um processo obstrutivo, a ultrassonografia pode descartá-lo. O urograma intravenoso (UIV) tem apenas uma utilidade limitada em comparação com outros modos de imagem, mas o médico pode pensar em obtê-lo se a suspeita continuar após uma TC ou ultrassonografia negativa, ou nos casos em que um teste mais econômico é desejado.