Etiologia

Mucormicose é um grupo de infecções fúngicas causadas por fungos da ordem Murocales.[1][2]

Os agentes da mucormicose são abundantes no solo e podem ser encontrados em matéria orgânica em decomposição como alimentos, feno e vegetação.[2]​ Substratos de carboidratos promovem crescimento rápido de hifas e esporangiósporos assexuados para ajudar na disseminação eficiente no meio ambiente. A maneira mais comum de adquirir a infecção é através de inalação, embora a infecção também possa ser adquirida por inoculação cutânea e subcutânea.

As principais características dos agentes da mucormicose são hifas largas.[26]

  • Na cultura: hifas não septadas e esporângios contendo esporangiósporos suportados por esporangióforos.

  • No tecido: hifas asseptadas a minimamente septadas ramificadas a 90°.

Fisiopatologia

A inalação de esporos é o modo mais comum de entrada. Depois, os esporos germinam, produzindo hifas, que invadem os vasos sanguíneos, causando trombose e subsequente necrose no tecido. A invasão dos vasos também promove a disseminação de fungos a outros órgãos. Fagócitos mononucleares e polimorfonucleares normais são essenciais para destruir Mucorales através da geração de metabólitos oxidativos e defensinas de peptídeos catiônicos.[27] Os macrófagos inibem a germinação de esporos e os neutrófilos danificam as hifas.

Vários fatores aumentam o risco de adquirir mucormicose ao reduzir a quantidade de neutrófilos, como ocorre na neutropenia induzida por quimioterapia, ou ao alterar a qualidade dos neutrófilos, como ocorre com o uso de corticosteroides e na acidose.

Hipoglicemia e acidose interferem na capacidade oxidativa e não oxidativa dos fagócitos de avançar sobre e destruir os organismos. A função dos macrófagos de prevenir a germinação de esporos in vitro e in vivo é afetada por corticosteroides em modelos animais. Os mecanismos exatos das ações acima são desconhecidos.[3] Quando aplicável, a reversão da acidose em associação com reconhecimento precoce, com tratamento apropriado, resulta em desfechos melhores.

Evidências experimentais sugerem o papel do ferro na patogênese da mucormicose. A desferroxamina, um quelante de ferro, um sideróforo, forma um complexo com o ferro, que estimula o crescimento de Rhizopus in vitro e patogenicidade in vivo.[28]

Esporos pré-germinados de R oryzae podem aderir à matriz subendotelial. Esses esporos podem causar danos após fagocitose por células endoteliais. Não é necessária viabilidade dos esporos para que ocorram danos celulares, implicando que agentes antifúngicos de ação fungicida não afetam a evolução clínica na doença estabelecida.[3]

Classificação

Classificação taxonômica de agentes clinicamente significativos de mucormicose

A mucormicose era previamente conhecida como zigomicose, do filo Zygomycota. No entanto, estudos moleculares resultaram na reclassificação taxonômica de vários grupos de fungos. A análise filogenética resultou na reclassificação do filo Zygomycota, que foi substituído por dois filos distintos: Zoopagomycota e Mucoromycota. O filo Mucoromycota é ainda dividido em três subfilos: Glomeromycotina, Mortierellomycotina e Mucoromycotina, sendo que este último abrange as ordens Mucorales, Umbelopsidales e Endogenales.[1]​ Os entomoftoromicetos, agora classificados como Zoopagomycota, não estão incluídos na mucormicose, mas estão incluídos no primeiro termo zigomicose.[5] As infecções por Mucorales são chamadas de mucormicose, enquanto as por Entomophthorales são denominadas entomoftoromicose.[1][6]​ A classificação taxonômica desses fungos é uma área de pesquisa ativa, mas uma análise completa desse tema está fora do escopo deste tópico.

Ordem: Mucorales

  • Os organismos neste grupo podem causar infecções fatais no hospedeiro imunocomprometido.

  • O Mucorales compreende 55 gêneros e 261 espécies, com 11 gêneros e 39 espécies conhecidas por causar infecções humanas. Os gêneros clinicamente significativos incluem:[1][6]

    • Actinomucor (espécie: A elegans)

    • Apophysomyces (espécie: A mexicanus; A ossiformis; A trapeziformis; A variabilis)

    • Cokeromyces (espécie: C recurvatus)

    • Cunninghamella (espécie: C arunalokei; C bertholletiae; C blakesleeana; C echinulata; C elegans)

    • Lichtheimia (espécie: L corymbifera; L ornata; L ramosa)

    • Mucor (espécie: M amphibiorum; M circinelloides; M griseocyanus; M indicus; M irregularis; M janssenii; M lusitanicus; M plumbeus; M racemosus; M ramosissimus; M variicolumellatus; M velutinosus)

    • Rhizomucor (espécie: R miehei; R pusillus)

    • Rhizopus (espécie: R arrhizus [incluindo var. arrhizus e var. delemar]; R homothallicus; R microsporus; R schipperae)

    • Saksenaea (espécie: S erythrospora; S loutrophoriformis; S trapezispora; S vasiformis)

    • Syncephalastrum (espécie: S racemosum)

    • Thamnostylum (espécie: T lucknowense)

Ordem: Entomophthorales

  • Infecções desses organismos não eram consideradas mucormicose, mas estavam incluídas no antigo termo zigomicose.

  • Os organismos neste grupo geralmente causam infecções indolentes de pele, tecido subcutâneo, nasais e de seios nasais em pessoas imunocompetentes em regiões tropicais e subtropicais.

  • Apenas dois gêneros estão implicados em infecções humanas; são eles:[5]

    • Conidiobolus (espécie: C coronatus; C incongruus; C lamprauges)

    • Basidiobolus (espécie: B ranarum).

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