Abordagem
Os objetivos gerais do tratamento de epididimite aguda são:[2]
Alívio sintomático
Erradicação da infecção se presente
Prevenção da transmissão para outros (epididimite sexualmente transmissível)
Prevenção das complicações em potencial (por exemplo, formação de abscesso, infertilidade ou dor crônica/epididimite).
Medidas de suporte
Repouso no leito, elevação escrotal e analgésicos simples são as principais terapias de apoio no tratamento de epididimite aguda independentemente da etiologia da doença. Essas medidas são recomendadas até os sinais de inflamação local ou febre remitirem.[2]
Se o paciente estiver sistemicamente doente com sinais de sepse, a fluidoterapia intravenosa pode ser indicada. Recomenda-se o encaminhamento a um infectologista caso sejam necessários antibióticos por via parenteral. Consulte Sepse em adultos.
Erradicação da infecção bacteriana
A maioria das diretrizes internacionais para o tratamento da epididimite baseia-se em estudos com mais de 10 anos.[17] No entanto, estudos mais recentes destacaram uma mudança na distribuição etária, no organismo causador e na importância da atividade sexual sobre a etiologia.
Nos casos em que a infecção bacteriana é o fator causador presumido, a antibioticoterapia empírica é indicada antes que os exames laboratoriais estejam disponíveis. A escolha dos antibióticos dependerá da idade do paciente e dos fatores de risco associados, incluindo história de relação sexual sem proteção, intervenção recente do trato urinário, obstrução do fluxo de saída da bexiga ou doença sistêmica/imunossupressão.[3] Quando os resultados dos testes estiverem disponíveis, os antibióticos podem ser ajustados para atacar o organismo causador.
Infecção gonocócica ou por clamídia
Nos casos em que a epididimite pode ser causada por infecção gonocócica ou clamídia, ceftriaxona associada a doxiciclina é recomendada como terapia empírica inicial.[2] Para os homens que praticam penetração anal insertiva desprotegida com outros homens, os organismos entéricos também podem ser uma causa de epididimite, e o tratamento com ceftriaxona associada a levofloxacino deve ser administrado.[2] Nos pacientes em que há probabilidade de gonorreia (presença de fatores de risco: secreção uretral purulenta, contato conhecido com infecção gonorreica, homens que fazem sexo com homens), a diretriz europeia da International Union against Sexually Transmitted Infections (IUSTI) sobre epidídimo-orquite recomenda adição de azitromicina à ceftriaxona e à doxiciclina.[3] Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) atualizaram suas orientações sobre infecção gonorreica não complicada para monoterapia com ceftriaxona; mas as recomendações para infecções complicadas (como epididimite) permanecem inalteradas e requerem terapia combinada com ceftriaxona associada a doxiciclina.[2] Devido às altas taxas de resistência, as fluoroquinolonas não são mais recomendadas para epididimite gonocócica suspeitada ou confirmada.
Mycoplasma genitalium
O reconhecimento do Mycoplasma genitalium como um potencial patógeno na epididimite gerou uma atualização nas recomendações de algumas diretrizes, como quando o teste para M genitalium tiver sido realizado e o organismo tiver sido identificado, o tratamento antibiótico deve ser escolhido com base no teste de resistência. A IUTSI recomenda realizar o teste de resistência a macrolídeos em todos os casos confirmados de M genitalium.[3][32] As infecções por M genitalium complicadas, como a epididimite, devem ser tratadas com o moxifloxacino como agente de primeira linha.[32] Os pacientes com epididimite e um parceiro com teste positivo para M genitalium também devem ser tratados com moxifloxacino.[31]
Organismos entéricos
Recomenda-se o uso de levofloxacino em casos de epididimite aguda provavelmente causada por organismos entéricos (instrumentação recente do trato urinário, doença sistêmica ou imunossupressão).[2]
Segurança dos antibióticos com fluoroquinolona
Os antibióticos sistêmicos do tipo fluoroquinolonas, como moxifloxacino e levofloxacino, podem causar eventos adversos graves, incapacitantes e potencialmente duradouros ou irreversíveis. Isso inclui, mas não está limitado a: tendinopatia/ruptura de tendão; neuropatia periférica; artropatia/artralgia; aneurisma e dissecção da aorta; regurgitação de valva cardíaca; disglicemia; e efeitos sobre o sistema nervoso central, incluindo convulsões, depressão, psicose e pensamentos e comportamento suicidas.[40]
Restrições de prescrição aplicam-se ao uso das fluoroquinolonas, e essas restrições podem variar entre os países. Em geral, o uso das fluoroquinolonas deve ser restrito apenas nas infecções bacterianas graves e com risco à vida. Algumas agências regulatórias também podem recomendar que eles sejam usados apenas em situações em que outros antibióticos comumente recomendados para a infecção sejam inadequados (por exemplo, resistência, contraindicações, falha do tratamento, indisponibilidade).
Consulte as diretrizes locais e o formulário de medicamentos para obter mais informações sobre adequação, contraindicações e precauções.
Epididimite tuberculosa
A epididimite tuberculosa deve ser tratada com medicamentos antituberculose sistêmicos de acordo com as diretrizes locais, devido às cepas de tuberculose extremamente variáveis e aos padrões de resistência antibiótica. Recomenda-se o encaminhamento a um infectologista ou especialista em tuberculose.
Vasculite subjacente
A vasculite do epidídimo é rara, mas pode acontecer por causa de síndrome de Behçet ou púrpura de Henoch-Schönlein. O encaminhamento a um reumatologista é aconselhado para estabelecer o diagnóstico e determinar se o envolvimento do epidídimo faz parte de um processo vasculítico sistêmico, e para planejar o tratamento apropriado.
Epididimite induzida por amiodarona
Os efeitos adversos da amiodarona, incluindo a epididimite, dependem da dose e da duração.[8] Os sinais e sintomas remitem rapidamente depois da redução da dose ou da interrupção da terapia.
Prevenção de possíveis complicações
O tratamento imediato e medidas de suporte limitarão a gravidade global da doença e, portanto, reduzirão o risco de evoluir para complicações. A antibioticoterapia empírica imediata pode impedir a formação de abscesso e, assim, evitar a necessidade de hospitalização e cirurgia.[41] A isquemia/infarto testicular é uma complicação rara de epididimite grave, a qual pode causar problemas de subfertilidade/infertilidade. Embora os dados sejam limitados, o uso de corticosteroides não tem demonstrado nenhum benefício significativo na redução das sequelas em longo prazo da obstrução do epidídimo devida à inflamação.[42] O desenvolvimento de dor crônica/epididimite depois de epididimite aguda é raro, e pouco se sabe sobre sua etiologia e patogênese.[43]
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