Abordagem

Atualmente, não há tratamento curativo estabelecido para a doença de Lesch-Nyhan (LND). As opções de tratamento de suporte dependem do fenótipo, que inclui superprodução de ácido úrico e suas complicações, assim como níveis variáveis de sinais extrapiramidais e piramidais, anomalias comportamentais, incluindo comportamento autolesivo, e aspectos diversos como anemia macrocítica.

Hiperuricemia

Todos os pacientes apresentam hiperuricemia. O alopurinol inibe a conversão da xantina e da hipoxantina em ácido úrico e, portanto, reduz o risco de hiperuricemia associada a complicações urológicas e articulares ao reduzir efetivamente os níveis séricos de ácido úrico.[40][41] As doses são tituladas para manter os níveis de ácido úrico no intervalo normal-alto e devem ser ajustadas para insuficiência renal. Além disso, hidratação generosa em todos os momentos é essencial para limpar as oxipurinas hipoxantina e xantina e o metabólito do alopurinol, o oxipurinol, que também pode causar nefrolitíase (cálculos radiotransparentes).[42][43]

Pedras renais

A nefrolitíase, identificada por cólicas renais, obstrução urinária ou ultrassonografia de acompanhamento de rotina, requer tratamento apropriado para prevenir complicações renais em longo prazo.[43][44] Os cálculos renais em pacientes com LND tratados com alopurinol podem conter ácido úrico, as oxipurinas xantina e hipoxantina ou o metabólito do alopurinol, o oxipurinol.[42] Esses cálculos são radiotransparentes, de modo que a ultrassonografia renal é a modalidade preferida para o diagnóstico.[43] Pequenos cálculos de urato podem geralmente ser tratados com o aumento da ingestão de líquidos e pela alcalinização da urina, sendo o citrato de potássio o agente preferido. Cálculos grandes e cálculos de oxipurina podem exigir litotripsia ou cirurgia, embora os últimos sejam mais difíceis de eliminar.[42][44]

Distonia, coreia e balismo

As características extrapiramidais na LND são na maioria das vezes resistentes às terapias disponíveis atualmente.

Diversas terapias medicamentosas foram testadas. Medicamentos dopaminérgicos como a levodopa, em pacientes com fenótipos estabelecidos, têm efeitos inconsistentes no distúrbio motor e podem agravar a condição.[24][30][45]​ Foi relatado que o tratamento com levodopa/carbidopa iniciado <1 ano após o início dos sintomas melhorou o distúrbio do movimento em um paciente.[46] O tratamento sintomático de distonia grave (por exemplo, para melhorar a função da mão ou evitar contraturas) pode ser realizado por injeções de toxina botulínica em músculos selecionados. Movimentos coreiformes e balísticos não apresentam melhora consistente com um antagonista do receptor de dopamina (por exemplo, flufenazina, pimozida) ou com medicamentos que esgotam os estoques de dopamina (tetrabenazina).[30][45][47][48]​ Não existem relatos detalhados sobre o uso de triexifenidil na LND.

A fisioterapia geralmente é útil para evitar contraturas e para preservar a condição física geral.

Sinais piramidais

Relaxantes musculares, como o baclofeno e o dantroleno, podem ser usados para tratar a espasticidade.[3]

Opcionalmente, podem ser usados benzodiazepínicos (por exemplo, o diazepam). Os benzodiazepínicos têm a vantagem adicional de reduzir a ansiedade, que conhecidamente exacerba as características extrapiramidais e comportamentais.

Frequentemente, um relaxante muscular e um benzodiazepínico são usados de maneira concomitante.

Além disso, a fisioterapia pode evitar contraturas e preservar a condição física geral.

Anormalidades comportamentais

Nenhum tratamento farmacológico demonstrou eficácia consistente no tratamento de transtornos comportamentais estabelecidos em pacientes com LND, incluindo medicamentos que influenciam o metabolismo da dopamina e da serotonina.[30][47][48][49]​ Não há relatos de nenhum tratamento farmacológico que reduza de forma consistente o comportamento autolesivo.[3]

Um efeito positivo de S-adenosilmetionina no comportamento não foi estabelecido, pois os resultados são inconsistentes.[50] Anormalidades comportamentais também não respondem de forma consistente ao tratamento psicológico formal.[3] O reforço negativo geralmente aumenta comportamentos indesejáveis, incluindo a autolesão.[51][52]

O método mais eficaz de lidar com comportamentos difíceis é reconhecer que eles estão além do controle do paciente, envolver o paciente em ambientes ativos, fornecer reforço positivo para comportamentos desejados e ignorar ativamente comportamentos indesejáveis. Para muitos pacientes, é de extrema importância que eles se sintam compreendidos.

A maioria dos pacientes com LND precisa de alguma forma de contenção física, como talas nos braços, tiras para os membros ou luvas de proteção.[3][53][54] Contra mordidas, a extração dentária pode ser necessária quando medidas conservadoras fracassam.[55] Objetos duros que possam ser alcançados, incluindo cadeiras de rodas, precisam de acolchoamento macio.[56]

Durante as internações hospitalares, limitando-se àqueles estritamente necessárias, as contenções devem ser aplicadas o tempo todo para evitar autolesão, inclusive durante o sono. Essa doença é isenta de regulamentações da Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations (JCAHO) contra contenções físicas contínuas e em longo prazo.

Anemia macrocítica

Anemia macrocítica pode ser encontrada em pacientes com LND.[30][57] A causa é incerta, pois os níveis séricos de vitamina B12, folato, ferro e os testes de função tireoidiana tipicamente são normais, e os suplementos geralmente são ineficazes.[3]

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