Abordagem

O tamponamento cardíaco é uma emergência médica que requer tratamento urgente.

Os pacientes com tamponamento confirmado à avaliação ecocardiográfica requerem estabilização com drenagem pericárdica por meio de pericardiocentese com agulha ou drenagem cirúrgica; a abordagem de escolha dependerá da etiologia subjacente ao tamponamento e das comorbidades do paciente.[15] Após a intervenção, os pacientes devem ser monitorados (de preferência em uma unidade de terapia intensiva) para a síndrome da descompressão pericárdica: uma complicação rara, mas com risco à vida, da drenagem pericárdica que resulta em instabilidade hemodinâmica paradoxal e/ou edema pulmonar.[47]

A terapia medicamentosa é geralmente inefetiva no tratamento do tamponamento. A fluidoterapia intravenosa pode ser administrada nos pacientes hipovolêmicos; no entanto, a estabilidade é apenas temporária.[48][49] Os inotrópicos são inefetivos, e nem os vasodilatadores nem diuréticos são recomendados no tratamento do tamponamento.[15]​ A ventilação mecânica com pressão positiva pode reduzir ainda mais o enchimento cardíaco, já que ela aumenta a pressão intratorácica, e portanto deve ser evitada.[50]​​​

O tratamento concomitante de qualquer etiologia subjacente identificada é essencial.[15] São necessárias investigações diagnósticas adicionais nos pacientes sem uma causa aparente do tamponamento.

Tratamento dos pacientes sem hemopericárdio, trauma ou derrame purulento

Na ausência de hemorragia, trauma e purulência, os pacientes com tamponamento cardíaco devem ser tratados com pericardiocentese por agulha sob orientação ecocardiográfica ou fluoroscópica.[15]​ A pericardiocentese deve ser realizada imediatamente nos pacientes que apresentarem um colapso hemodinâmico súbito e um derrame pericárdico grande. Nas circunstâncias extremas que representarem risco à vida em que houver tamponamento conhecido ou suspeitado, mas a orientação por imagem não estiver disponível, a pericardiocentese deve ser tentada por operadores experientes através do uso de marcos anatômicos.

As complicações importantes incluem: laceração de artérias coronárias ou do miocárdio, laceração de vísceras abdominais ou do fígado, êmbolo aéreo, pneumotórax, dano ao nervo frênico ou arritmias.[51][52] Essas complicações ocorrem em 1.5% a 2.0% dos casos com o uso da ecocardiografia como guia, e em cerca de 1% dos casos quando ela é guiada por fluoroscopia.[34][53]

A pericardiocentese é contraindicada na dissecção da aorta e relativamente contraindicada em pacientes com coagulopatia grave.[15]​ A drenagem cirúrgica imediata pode ser considerada como uma opção alternativa se a pericardiocentese for contraindicada.

Tratamento dos pacientes com hemopericárdio, trauma ou derrame purulento

A drenagem cirúrgica é indicada no tratamento de um tamponamento cardíaco complicado por hemopericárdio, trauma ou derrame purulento.[15]

Embora existam várias modalidades cirúrgicas para a drenagem pericárdica, não há ensaios clínicos randomizados que comparem os desfechos entre as diferentes técnicas. Portanto, a escolha da modalidade depende da técnica de preferência do cirurgião e da etiologia subjacente.

A abordagem cirúrgica tradicional envolve uma pequena incisão subxifoide, a visualização direta do pericárdio e a incisão do pericárdio parietal. A abordagem por meio de toracoscopia assistida por vídeo com a crianção de uma de janela pericárdica é outra abordagem que cria uma comunicação entre a pleura e o pericárdio, permitindo a descompressão do pericárdio.[54] Um estudo retrospectivo pequeno constatou uma associação com tempo cirúrgico e morbidade peri-procedimento, mas uma menor recorrência de derrame e tamponamento.[55]​ A pericardiotomia por balão é uma abordagem percutânea, minimamente invasiva, que apresenta boas taxas de êxito de curto prazo e baixa incidência de derrame recorrente ou tamponamento.[15]

Tratamento de pacientes com pericardite

Nos pacientes com tamponamento cardíaco secundário a uma pericardite não purulenta (ou seja, viral ou idiopática), o tratamento com um anti-inflamatório não esteroidal (AINE) e colchicina deve ser administrado juntamente com a intervenção.[56] Isto é para prevenir o reacúmulo de líquido pericárdico. Quando a pericardite é refratária ao tratamento clínico, ou há recidiva após a resposta inicial, a adição de um corticosteroide ou inibidor da interleucina-1 deve ser considerada. O ensaio clínico AIRTRIP, um ensaio randomizado do anakinra versus placebo para a pericardite refratária em 21 pacientes, mostrou que o anakinra foi associado de maneira significativa a uma redução da ocorrência de pericardite recorrente e levou à descontinuação dos corticosteroides em todos os pacientes, comparado ao placebo.​[57]​ No ensaio clínico RHAPSODY, a monoterapia com rilonacepte reduziu significativamente a recorrência da pericardite.

A pericardite purulenta é uma ocorrência rara com o advento dos antibióticos, embora seja um forte fator de risco para tamponamento.[32]​ Quando suspeitada, a antibioticoterapia intravenosa deve ser iniciada imediatamente.

Consulte Pericardite.

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