Etiologia

Luxações anteriores do ombro em pessoas com mais de 40 anos de idade geralmente são consequência de queda ou golpe direto no ombro, enquanto em pacientes mais jovens costumam decorrer de atividades de alto impacto (por exemplo, esportes e colisões de veículo automotor).[6][7] A lesão é consequência de abdução, rotação externa e extensão, seguidas por uma força posterior dirigida. As luxações posteriores geralmente são causadas por uma pancada na parte anterior do ombro e carga axial do braço aduzido e rotacionado internamente. Também podem ser resultado de contrações musculares violentas (por exemplo, convulsões, eletrocussão).[21] A luxação inferior (luxatio erecta) é causada por hiperabdução ou carga axial em um braço abduzido.[22]

As luxações interfalângica distal e interfalângica proximal dos dedos são geralmente na direção dorsal e associadas a carga axial, hiperextensão e esportes de captura de bola.[15][23] Luxações metacarpofalângicas do dedo são relativamente raras e estão frequentemente associadas a fraturas que acompanham a luxação.[15][24]

As luxações patelares agudas primárias ocorrem geralmente em pacientes jovens que participam de atividades atléticas. A patela normalmente é luxada lateralmente e subsequentemente causa ruptura do ligamento femoropatelar medial em cerca de 90% dos pacientes.[25] Os pacientes afirmam com frequência que, quando a lesão ocorreu, a perna afetada estava firmada no chão enquanto eles tentavam girar em pivô. Vários fatores de risco anatômicos para primeiro episódio de luxação patelar lateral e luxação recorrente foram descritos, incluindo displasia troclear, patela alta (uma patela anormalmente alta em relação ao fêmur), aumento da distância entre a tuberosidade tibial e o sulco troclear (TT-ST), inclinação patelar, torção tibial externa (ou seja, a tíbia gira para fora) e um ângulo Q alto (uma medida do ângulo entre o quadríceps e o tendão patelar).[26][27][28][29][30] A displasia troclear parece ser o fator que contribui de forma mais significativa para a instabilidade da articulação patelofemoral.[16][31][32]

As luxações do cotovelo geralmente ocorrem em pacientes jovens, e quase 50% estão relacionadas com esportes.[18] Elas são mais comumente o resultado de uma queda sobre o braço estendido, resultando em um valgo rotacionado externamente e direcionado axialmente ao cotovelo.[33][34] O impacto direto de alta energia também pode ser uma causa.[35]

As luxações adquiridas do quadril são luxações nativas ou luxações após artroplastia total de quadril. A carga axial do fêmur em direção ao acetábulo é o mecanismo classicamente descrito para a luxação do quadril nativo. Costuma ser observada com o impacto do joelho dobrado no painel de instrumentos em um acidente de veículo automotor.[36] A direção da luxação depende da posição do fêmur e do acetábulo no momento do impacto, e da direção do vetor de força aplicada.[37] Um fêmur aduzido que é flexionado no quadril sofrerá uma luxação posterior do quadril. Um quadril que for abduzido e rotacionado externamente terá maior probabilidade de sofrer uma luxação anterior.

A luxação após artroplastia total de quadril geralmente ocorre nos primeiros 3 meses após a cirurgia. Ocorre quando o paciente atinge os extremos da amplitude de movimentos da prótese e o colo do fêmur se alavanca no copo acetabular, permitindo que a cabeça femoral saia do acetábulo. Outras condições comuns que podem levar a luxações pós-operatórias incluem frouxidão ou incompetência dos tecidos moles ao redor da articulação do quadril, posicionamento incorreto dos componentes protéticos e doenças neuromusculares (por exemplo, doença de Parkinson).[38]

Pessoas com ligamentos frouxos podem sofrer entorses ou luxações com mais frequência. Os ligamentos frouxos podem ser generalizados ou restritos a algumas articulações; o caráter é geralmente hereditário. As articulações dos pacientes afetados apresentam uma grande variedade de movimentos (por exemplo, pessoas com “articulação dupla"). A síndrome de Ehlers-Danlos é uma doença hereditária rara caracterizada por articulações excepcionalmente flexíveis, pele muito elástica e tecidos frágeis. Ela pode ser a causa da frouxidão disseminada do tecido conjuntivo.

Fisiopatologia

Luxações do ombro

  • Muitas vezes causadas por trauma; sendo que 25% estão associadas com fraturas concomitantes do úmero.[39]

  • Lesões de Hill-Sachs e Bankart são possíveis sequelas de luxação, se o úmero sofrer luxação anterior.[40]

  • É comum encontrar rupturas do manguito rotador depois das luxações, sobretudo em adultos mais idosos.[41] A frequência geral de rupturas do manguito rotador após uma luxação anterior varia entre 7% e 32% e aumenta com o avanço da idade.[42] Alguns estudos demonstraram que a incidência de ruptura do manguito em pacientes com mais de 70 anos de idade é de até 100%.[43]

Luxações do dedo

  • As luxações interfalângicas distais (IFD) dorsais ocorrem após falha da placa volar (ou seja, restrição ao deslocamento dorsal do dedo) com luxação da falange distal. Às vezes, a placa volar pode ficar presa na articulação, tornando a interfalângica distal irredutível. Luxações volares podem tornar-se irredutíveis conforme o tendão extensor ou os ossos sesamoides fiquem encapsulados na cabeça da falange média.[15][44][45]

  • As luxações interfalângicas proximais (IFP) dorsais envolvem estresse axial e hiperextensão, resultando na ruptura da placa volar. Às vezes, a placa volar pode ficar presa na articulação, tornando a interfalangiana proximal (IFP) irredutível. Em ocasiões raras, estas luxações podem ocorrer na direção volar. Esta luxação frequentemente é irredutível, por causa da interposição da placa dorsal, do deslizamento central ou das bandas laterais do dedo.[15][41][46]

  • As luxações metacarpofalângicas dorsais são incomuns em função da estabilidade proporcionada pelos ligamentos na base dos dedos. Luxações neste nível implicam ruptura da placa volar, dos ligamentos colaterais e da cápsula articular.[15][24]

Luxações patelares

  • A restrição primária quanto à translação lateral da patela é o ligamento patelofemoral medial (LPFM). A incidência de rupturas do ligamento patelofemoral medial durante uma luxação patelar aguda varia de 75% a 98%. Quando esta estrutura deixa de funcionar, há uma ruptura no estabilizador principal, o que permite a translação lateral da patela.[13][31][32]

Luxações do cotovelo

  • A direção mais comum da luxação do cotovelo é posterior ou posterolateral; no entanto, o mecanismo exato tem sido objeto de debate.[47]

  • O'Driscoll et al propuseram uma ruptura sequencial em 3 estágios das estruturas dos tecidos moles, de lateral para medial, denominada "círculo de Horii":[48]

    • o ligamento colateral lateral está lesionado (estágio 1)

    • as estruturas laterais restantes e os anexos capsulares anterior/posterior ficam envolvidos (estágio 2)

    • a banda anterior do ligamento colateral medial está rompida (estágio 3).

  • Outros estudos propuseram que a lesão dos tecidos moles sofrida durante a lesão do cotovelo começa, e é mais grave, no lado medial.[34][47][49][50][51]

  • Comum a todos os mecanismos propostos é um cotovelo estendido com o antebraço em supinação, sujeito a uma carga axial e uma força posterolateral, ou valgo, resultando em um espectro de lesões de tecidos moles.[47] Durante toda a continuidade da lesão, existe um potencial para fraturas associadas nas estruturas intracapsulares, incluindo a cabeça do rádio e a apófise coronoide.[44]

Luxações do quadril

  • A luxação do quadril é um evento raro, visto que o quadril é uma articulação esferoidal confinada que é considerada extremamente estável[52]

  • Uma força significativa aplicada através da cabeça do fêmur pode causar uma luxação na articulação junto com uma fratura da parede posterior do acetábulo, do acetábulo em geral, da cabeça do fêmur e raramente do colo do fêmur[52][53]

  • O dano na cartilagem também costuma ser documentado como consequência de lesão de cisalhamento na cartilagem do acetábulo e na cabeça do fêmur. Os corpos flutuantes resultantes de osso fragmentado e cartilagem podem ficar atrás, dentro e ao redor da articulação do quadril.[4]

Classificação

Definições clínicas

Luxações do ombro:

  • Os tipos se baseiam na direção da luxação: anterior, posterior ou inferior (ou seja, luxatio erecta)

  • Pode também ser descrita como primária (isto é, primeira luxação) ou recorrente.[1]

Luxações do dedo:

  • Caracterizado pela articulação envolvida: metacarpofalângica, interfalângica proximal (IFP) ou interfalângica distal (IFD)

  • Também descrita segundo a direção da luxação (isto é, dorsal ou volar em relação à posição da parte distal).

Luxações patelares:

  • Caracterizadas pela direção da luxação, sendo a maioria lateral

  • Pode também ser descrita como primária (isto é, a primeira luxação) ou recorrente.

Luxações do cotovelo:

  • Caracterizadas como simples ou complexas

  • Luxações simples do cotovelo são definidas como uma luxação aguda que ocorre sem fratura[2]

  • As luxações complexas envolvem fraturas concomitantes do rádio proximal, ulna ou úmero distal. Elas também podem ser classificadas com base na direção da luxação do rádio e da ulna em relação ao úmero (isto é, anterior ou posterior). Uma luxação posterior do cotovelo associada a uma fratura do processo coronoide e fratura da cabeça do rádio é descrita como a "tríade terrível".[3]

Luxações do quadril:

  • Caracterizadas pela direção da luxação (ou seja, anterior ou posterior) e pela gravidade segundo o sistema de classificação Stewart-Milford:[4]

    • Tipo I: luxação simples sem fratura

    • Tipo II: luxação com um ou mais fragmentos do bordo articular, mas com encaixe suficiente para garantir estabilidade após a redução

    • Tipo III: luxação com fratura do bordo articular gerando instabilidade grosseira

    • Tipo IV: luxação com fratura da cabeça ou colo do fêmur.

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