SHU associada a Escherichia coli produtora de toxina Shiga (STEC)
Crianças com manifestação típica de diarreia hemorrágica, dor abdominal, náuseas e vômitos devem ser hospitalizadas. Isso pode acelerar a avaliação e a manutenção do volume intravascular e, assim, possivelmente reduzir o risco de complicações e o risco de transmissão.[8]Bell BP, Goldoft M, Griffin PM, et al. A multistate outbreak of Escherichia coli 0157:H7-associated bloody diarrhea and hemolytic uremic syndrome from hamburgers. The Washington experience. JAMA. 1994 Nov 2;272(17):1349-53.
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[49]Boyce TG, Swerdlow DL, Griffin PM. Escherichia coli O157:H7 and the hemolytic uremic syndrome. N Engl J Med. 1995 Aug 10;333(6):364-8.
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O tratamento é principalmente de suporte. A reposição precoce de fluido intravascular reduz a frequência de lesão renal aguda oligoanúrica em pacientes com diarreia pré-SHU e parece melhorar os desfechos em crianças com diarreia SHU positiva.[50]Hickey CA, Beattie TJ, Cowieson J, et al. Early volume expansion during diarrhea and relative nephroprotection during subsequent hemolytic uremic syndrome. Arch Pediatr Adolesc Med. 2011 Oct;165(10):884-9.
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[51]Ardissino G, Tel F, Possenti I, et al. Early volume expansion and outcomes of hemolytic uremic syndrome. Pediatrics. 2016 Jan;137(1):e20152153.
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Atenção meticulosa deve ser dada ao equilíbrio hídrico e ao monitoramento do débito urinário; cuidados devem ser tomados para evitar sobrecarga cardiopulmonar, pois esses pacientes correm o risco de desenvolver oligúria.[45]Asherson RA, Cervera R, Piette JC, et al. Catastrophic antiphospholipid syndrome: clinical and laboratory features of 50 patients. Medicine (Baltimore). 1998 May;77(3):195-207.
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[52]Tarr PI, Neill MA. Escherichia coli O157:H7. Gastroenterol Clin North Am. 2001 Sep;30(3):735-51.
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A pressão arterial deve ser monitorada e tratada, se elevada. Pode ocorrer hipertensão como sintoma secundário a vários fatores, entre eles sobrecarga de volume, desequilíbrio eletrolítico e microangiopatia trombótica subjacente que afeta os rins. Bloqueadores dos canais de cálcio, vasodilatadores e betabloqueadores podem ser usados na fase aguda do tratamento da hipertensão.[53]Siegler RL. The hemolytic uremic syndrome. Pediatr Clin North Am. 1995 Dec;42(6):1505-29.
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Geralmente, os inibidores da ECA não são recomendados no quadro agudo por preocupações com a perfusão renal reduzida, mas são recomendados para pacientes com doença renal em estágio terminal pós-SHU.[54]Caletti MG, Lejarraga H, Kelmansky D, et al. Two different therapeutic regimes in patients with sequelae of hemolytic-uremic syndrome. Pediatr Nephrol. 2004 Oct;19(10):1148-52.
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[55]Van Dyck M, Proesmans W. Renoprotection by ACE inhibitors after severe hemolytic uremic syndrome. Pediatr Nephrol. 2004 Jun;19(6):688-90.
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Revisões sistemáticas não revelaram nenhum efeito significativo para antibioticoterapia, colostro bovino contendo anticorpos anti-toxina Shiga, agente de ligação à toxina Shiga (Synsorb Pk) ou urtoxazumabe (um anticorpo monoclonal contra toxina Shiga) para a prevenção secundária de SHU em pacientes com diarreia associada a STEC (evidência de qualidade muito baixa).[30]Thomas DE, Elliott EJ. Interventions for preventing diarrhea-associated hemolytic uremic syndrome: systematic review. BMC Public Health. 2013 Sep 3;13:799.
https://bmcpublichealth.biomedcentral.com/articles/10.1186/1471-2458-13-799
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[56]Imdad A, Mackoff SP, Urciuoli DM, et al. Interventions for preventing diarrhoea-associated haemolytic uraemic syndrome. Cochrane Database Syst Rev. 2021 Jul 5;(7):CD012997.
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Embora não haja dados suficientes sobre o efeito de opioides na evolução da SHU, recomenda-se utilizá-los com precaução.
Algumas intervenções podem aumentar o risco de SHU e dano renal irreversível.
Recomenda-se evitar antibióticos, agentes antimotilidade (antidiarreicos) e anti-inflamatórios não esteroidais em crianças que apresentam diarreia hemorrágica.
Sulfametoxazol/trimetoprima não mostrou efeito significativo para prevenção secundária de SHU em pacientes com STEC (evidência de qualidade muito baixa).[30]Thomas DE, Elliott EJ. Interventions for preventing diarrhea-associated hemolytic uremic syndrome: systematic review. BMC Public Health. 2013 Sep 3;13:799.
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A administração de antibióticos para infecções por STEC não é recomendada devido ao risco potencialmente aumentado de SHU relatado em estudos observacionais.[57]Centers for Disease Control and Prevention. E. coli (Escherichia coli). Resources for clinicians and laboratories. Dec 2014 [internet publication].
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[58]Wong CS, Mooney JC, Brandt JR, et al. Risk factors for the hemolytic uremic syndrome in children infected with Escherichia coli O157:H7: a multivariable analysis. Clin Infect Dis. 2012 Jul;55(1):33-41.
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A administração de agentes antimotilidade pode aumentar o risco de SHU em pacientes com diarreia causada por infecções por STEC; agravamento da condição clínica, incluindo complicações do sistema nervoso central (SNC), foi relatada.[59]Nelson JM, Griffin PM, Jones TF, et al. Antimicrobial and antimotility agent use in persons with shiga toxin-producing Escherichia coli O157 infection in FoodNet Sites. Clin Infect Dis. 2011 May;52(9):1130-2.
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[60]Shane AL, Mody RK, Crump JA, et al. 2017 Infectious Diseases Society of America clinical practice guidelines for the diagnosis and management of infectious diarrhea. Clin Infect Dis. 2017 Nov 29;65(12):e45-80.
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[61]Cimolai N, Morrison BJ, Carter JE. Risk factors for the central nervous system manifestations of gastroenteritis-associated hemolytic-uremic syndrome. Pediatrics. 1992 Oct;90(4):616-21.
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Transfusões de plaquetas foram associadas à deterioração clínica e devem ser evitadas, a menos que haja sangramento ativo.[62]Bell WR, Braine HG, Ness PM, et al. Improved survival in thrombotic thrombocytopenic purpura-hemolytic uremic syndrome. N Engl J Med. 1991 Aug 8;325(6):398-403.
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Transfusão de eritrócitos, diálise e transplante renal
Anemia é comum e pode ter início rápido, precisando de transfusão de eritrócitos. Aproximadamente 50% dos pacientes precisarão de diálise na fase aguda.[61]Cimolai N, Morrison BJ, Carter JE. Risk factors for the central nervous system manifestations of gastroenteritis-associated hemolytic-uremic syndrome. Pediatrics. 1992 Oct;90(4):616-21.
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[63]Siegler RL, Pavia AT, Christofferson RD. A 20-year population-based study of postdiarrheal hemolytic uremic syndrome in Utah. Pediatrics. 1994 Jul;94(1):35-40.
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[64]Rowe PC, Orrbine E, Lior H, et al. Risk of hemolytic uremic syndrome after sporadic Escherichia coli O157:H7 infection: results of a Canadian collaborative study. J Pediatr. 1998 May;132(5):777-82.
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Os pacientes que desenvolvem lesão renal aguda são considerados para transplante renal.
O envolvimento extrarrenal deve ser avaliado, dada a sua contribuição para a morbidade e mortalidade:[65]Upadhyaya K, Barwick K, Fishaut M, et al. The importance of nonrenal involvement in hemolytic-uremic syndrome. Pediatrics. 1980 Jan;65(1):115-20.
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[66]Grodinsky S, Telmesani A, Robson WL, et al. Gastrointestinal manifestations of hemolytic uremic syndrome: recognition of pancreatitis. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 1990 Nov;11(4):518-24.
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[67]Rigamonti D, Simonetti GD. Direct cardiac involvement in childhood hemolytic-uremic syndrome: case report and review of the literature. Eur J Pediatr. 2016 Dec;175(12):1927-31.
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[68]Benvenuto F, Guillen S, Marchiscio L, et al. Purtscher-like retinopathy in a paediatric patient with haemolytic uraemic syndrome: a case report and literature review. Arch Soc Esp Oftalmol (Engl Ed). 2021 Nov;96(11):607-10.
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[69]Mauras M, Bacchetta J, Duncan A, et al. Escherichia coli-associated hemolytic uremic syndrome and severe chronic hepatocellular cholestasis: complication or side effect of eculizumab? Pediatr Nephrol. 2019 Jul;34(7):1289-93.
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O comprometimento do SNC pode causar AVC ou hemorragia e, em casos raros, abscesso cerebral
Pode ocorrer comprometimento pancreático, na forma de pancreatite ou diabetes mellitus insulinodependente de início agudo, além de infarto intestinal, isquemia ou necrose
Pode ocorrer comprometimento cardíaco na forma de comprometimento da contratilidade cardíaca e miocardite
Envolvimento ocular e hepático, embora raro, tem sido relatado em diarreia SHU positiva.
Tratamento da SHU atípica
Deve-se suspeitar de SHU atípica (SHUa) depois de excluir outras causas.
A avaliação da via alternativa do complemento pode revelar a causa da SHUa. No entanto, até o momento não há um teste diagnóstico direto para detectar SHUa.[5]Fakhouri F, Zuber J, Frémeaux-Bacchi V, et al. Haemolytic uraemic syndrome. Lancet. 2017 Aug 12;390(10095):681-96.
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O diagnóstico de SHUa pode ser mais desafiador em adultos devido a outras condições médicas que podem se apresentar de maneira similar. O tratamento não deve ser protelado enquanto aguarda os resultados do exame genético; a plasmaférese é adequada em adultos (principalmente se houver possibilidade de púrpura trombocitopênica trombótica).
Eculizumabe
Um anticorpo monoclonal que se liga à proteína C5 do complemento e bloqueia a ativação do complemento terminal, o eculizumabe foi aprovado para o manejo da SHUa em crianças e adultos. Revisões sistemáticas de pequenos estudos não randomizados de braço único indicam que o eculizumabe melhora a função renal em pacientes com SHUa.[70]Rathbone J, Kaltenthaler E, Richards A, et al. A systematic review of eculizumab for atypical haemolytic uraemic syndrome (aHUS). BMJ Open. 2013 Nov 4;3(11):e003573.
https://bmjopen.bmj.com/content/3/11/e003573.long
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[71]Menne J, Delmas Y, Fakhouri F, et al. Outcomes in patients with atypical hemolytic uremic syndrome treated with eculizumab in a long-term observational study. BMC Nephrol. 2019 Apr 10;20(1):125.
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[72]Pugh D, O'Sullivan ED, Duthie FA, et al. Interventions for atypical haemolytic uraemic syndrome. Cochrane Database Syst Rev. 2021 Mar 23;(3):CD012862.
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Ensaios clínicos randomizados e controlados de pacientes com SHUa são improváveis; é necessário um desenho cuidadoso de ensaios subsequentes de braço único, além de acompanhamento em longo prazo.[70]Rathbone J, Kaltenthaler E, Richards A, et al. A systematic review of eculizumab for atypical haemolytic uraemic syndrome (aHUS). BMJ Open. 2013 Nov 4;3(11):e003573.
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A profilaxia meningocócica é necessária porque existe risco de infecção com organismos encapsulados em pacientes tratados com eculizumabe. O eculizumabe é contraindicado para pacientes com infecção por Neisseria meningitidis não resolvida e para pacientes não vacinados atualmente contra N meningitidis, a menos que os riscos de protelar o tratamento sejam maiores que os riscos de desenvolver uma infecção. Os pacientes que não foram vacinados anteriormente devem ser vacinados contra N meningitidis pelo menos 2 semanas antes de iniciar o tratamento com eculizumabe. Todos os pacientes devem ser vacinados novamente de acordo com as diretrizes locais de vacinação atuais para pacientes com deficiências do complemento.