Etiologia

A tripanossomíase humana africana é causada por protozoários pertencentes ao gênero Trypanosoma, espécie brucei. Existem duas subespécies que são patógenos humanos: T b gambiense e T b rhodesiense. Eles são parasitas extracelulares. Tradicionalmente, apenas as subespécies rhodesiense e gambiense causam a doença do sono. Existem relatos, embora raros, de infecções humanas pelos tripanossomos semelhantes, patogênicos em animais, T b brucei, T evansi e T congolense. As infecções estão provavelmente associadas à ausência ou à redução de apolipoproteína L-1, demonstrada como fator tripanolítico no sangue humano, mas também observada em adultos e crianças imunossuprimidos.​​​​[8]​​[9][10]

A doença é transmitida de forma cíclica, pela picada de uma mosca tsé-tsé (gênero Glossina). A transmissão é principalmente antroponótica para a tripanossomíase gambiense, na qual o reservatório animal desempenha um papel mínimo, e é zoonótica para a forma rhodesiense, na qual o gado e os animais selvagens são o reservatório principal.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Mosca tsé-tsé (Glossina)Publicado com permissão de M. Madder PhD, Institute of Tropical Medicine, Antwerp, Belgium [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@e3c88c1

Outros modos de transmissão como de mãe para filho, transfusões sanguíneas ou infecção em laboratório são raras. A transmissão mecânica por outros insetos e a transmissão sexual foram descritas, mas são controversas.[11][12][13]

Fisiopatologia

Quando as moscas tsé-tsé picam um hospedeiro mamífero infectado, elas ingerem tripanossomos com o sangue do hospedeiro. Após várias etapas de diferenciação na mosca, os tripanossomos alcançam as glândulas salivares. Com cada picada subsequente, as moscas tsé-tsé infectadas injetam os tripanossomos com a saliva.[14][Figure caption and citation for the preceding image starts]: Ciclo de vida do T b gambiense e do T b rhodesiensePublicado com permissão dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@5226e97

Um cancro de inoculação pode se formar no local por causa da reação inflamatória localizada; ele se resolve espontaneamente dentro de alguns dias ou semanas. Os tripanossomos se multiplicam e se disseminam para o sistema linfático e para a corrente sanguínea. Na corrente sanguínea, a superfície dos tripanossomos é inteiramente coberta com a glicoproteína variante de superfície (VSG), que forma uma capa com proteínas idênticas. O hospedeiro produz uma resposta imune efetiva à VSG, resultando em opsonização (marcação do antígeno para destruição por fagócitos) e em depuração do parasita. Os tripanossomos são capazes de evitar essa resposta imune por variação antigênica: eles trocam espontaneamente a sua capa de VSG, a qual não é mais reconhecida pelos anticorpos existentes.[15][16] A interação entre a resposta imune do hospedeiro e a variação antigênica do parasita resulta em picos de parasitemia. Assim como os anticorpos anti-VSG, a ativação de células B policlonais gera anticorpos contra os antígenos de tripanossomos invariantes, mas também gera autoanticorpos.

Progressivamente, a doença avança para um estado de imunossupressão com hipergamaglobulinemia. Os linfonodos, fígado e baço tornam-se aumentados como resultado da ativação imune. Surgem altas concentrações de citocinas inflamatórias (gamainterferona e fator de necrose tumoral [TNF]-alfa) e anti-inflamatórias (interleucina [IL]-10). As mudanças hormonais são frequentes e relacionadas à infiltração de órgãos endócrinos (principalmente a tireoide e as adrenais), e por fim relacionadas a lesões do trato hipotálamo-hipofisário e a alterações do ritmo circadiano.

Por fim, os tripanossomas atravessam a barreira hematoencefálica e entram no sistema nervoso central (SNC). Eles causam meningoencefalite extensa, infiltração da substância branca com células inflamatórias, infiltrado perivascular e estimulação de astrócitos e de macrófagos. O local da invasão e a reação inflamatória determinam o aspecto e o tipo de sintomas neuropsiquiátricos. A invasão cerebral é acompanhada por uma forte resposta de imunoglobulina intratecal.[17][18]​ A produção de citocinas (IL-10, IL-6) e quimiocinas (CXCL-8, CXCL-10, CXCL-13) no SNC parece estar relacionada à progressão da doença e à gravidade dos sinais neurológicos.[19][20][21][22]​ Se não tratados, os pacientes geralmente evoluem para o coma, insuficiência de órgãos grave e finalmente, morte.[23][24]

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