Etiologia
A etiologia da granulomatose eosinofílica com poliangiite (GEPA) é desconhecida. Um mecanismo proposto que pode ser a base do desenvolvimento da doença inclui a exposição a um antígeno não identificado (inalante, medicamento, vacina ou vírus) que desencadeia uma resposta imune.
Diversos medicamentos têm sido vinculados à GEPA, inclusive antibióticos macrolídeos e quinidina. No entanto, os mais dignos de nota são os antagonistas do receptor do leucotrieno (montelucaste e zafirlucaste). Embora um papel patogênico ainda não tenha sido excluído, é provável que os antagonistas do receptor do leucotrieno, ao permitir a redução dos corticosteroides sistêmicos, revelem o estado patológico não reconhecido anteriormente.[18][19][20]
Fisiopatologia
A patogênese subjacente da granulomatose eosinofílica com poliangiite (GEPA) é desconhecida. Geralmente, há três fases da doença que ocorrem sequencialmente. A primeira fase é a de rinite alérgica, sinusite e asma. Posteriormente, ela é em geral seguida por uma segunda fase de infiltração dos tecidos por eosinófilos, a qual pode se manifestar como uma pneumonia eosinofílica. A terceira fase é a inflamação vasculítica do sistema de órgãos envolvido. A fase vasculítica da doença é tipicamente associada aos anticorpos anticitoplasma de neutrófilos (ANCA) em circulação.[21]
Condizente com uma doença que tem um componente alérgico, foram observados níveis elevados de imunoglobulina (Ig) E sérica e imunocomplexos que contêm IgE, sobretudo durante exacerbações da GEPA.[22] O papel desempenhado pelas células T auxiliares do tipo 2 (Th2) na resposta inflamatória da asma no desenvolvimento da GEPA ainda está sendo avaliado. Foi documentado que a citocina interleucina (IL)-5 das Th2 estava elevada no soro e no líquido da lavagem broncoalveolar na GEPA ativa. Os níveis são influenciados pelo tratamento da GEPA. A IL-5 desempenha um importante papel na maturação e ativação eosinofílicas.[23] Os eosinófilos, por sua vez, são conhecidos por terem efeitos patogênicos diretos em decorrência da liberação de suas proteínas citotóxicas, inclusive ribonucleases e a proteína principal básica dos eosinófilos. O envolvimento cardíaco da GEPA está associado a um maior grau de eosinofilia; é provável que essa inflamação eosinofílica seja o fator primário por trás da cardiotoxicidade observada na GEPA e na síndrome hipereosinofílica.[24]
Acredita-se também que os ANCAs tenham um papel patogênico na GEPA, sobretudo com o desenvolvimento da vasculite. Um papel patogênico dos anticorpos antimieloperoxidase, os quais são um sinônimo do ANCA perinuclear, foi demonstrado em modelos animais.[25] Pacientes positivos para ANCA têm maior incidência de manifestações vasculíticas graves, inclusive glomerulonefrite, hemorragia alveolar e mononeurite múltipla. Eles podem representar um subgrupo específico de pacientes.[16][17][26][27] A patogênese da vasculite em pacientes negativos para ANCA ainda não está clara.
Classificação
Nomenclatura das vasculites sistêmicas[1]
As vasculites sistêmicas primárias são divididas de acordo com o tamanho dos vasos sanguíneos que são predominantemente alvos.
Vasculite de grandes vasos
Arterite de Takayasu
Arterite de células gigantes
Vasculite de vasos médios
Poliarterite nodosa
Doença de Kawasaki
Vasculite de pequenos vasos
Vasculite associada ao ANCA (granulomatose com poliangiite [antigamente conhecida como granulomatose de Wegener], poliangiite microscópica, GEPA [síndrome de Churg-Strauss])
Vasculite por imunocomplexo
Doença antimembrana basal glomerular (anti-GBM)
Vasculite crioglobulinêmica
Vasculite de imunoglobulina A (Henoch-Schönlein)
Vasculite urticariforme hipocomplementêmica (vasculite anti-C1q)
Vasculite de vasos variáveis
Doença de Behçet
Síndrome de Cogan
Critérios de classificação de 2022 do American College of Rheumatology/European Alliance of Associations for Rheumatology para GEPA[2]
Esses critérios devem ser aplicados para classificar um paciente como portador de GEPA quando houver diagnóstico de vasculite de pequenos ou médios vasos.
Critérios clínicos
Doença obstrutiva das vias aéreas (+3)
Pólipos nasais (+3)
Mononeurite múltipla (+1)
Critérios laboratoriais e biópsia
Contagem de eosinófilos sanguíneos ≥1 x 10⁹/L (+5)
Inflamação eosinofílica predominante extravascular na biópsia (+2)
Teste positivo para anticorpo anticitoplasma de neutrófilo citoplasmático (cANCA) ou anticorpos antiproteinase 3 (anti-PR3) (-3)
Hematúria (-1)
É necessário um escore ≥6 para a classificação da vasculite como GEPA.
Definição da granulomatose eosinofílica com poliangiite pelo consenso da conferência de Chapel Hill (CHCC2012)[1]
Uma inflamação granulomatosa rica em eosinófilos e necrosante que geralmente envolve o trato respiratório, e uma vasculite necrosante que afeta predominantemente vasos sanguíneos pequenos a médios, associada com asma e eosinofilia. ANCA é mais frequente quando glomerulonefrite está presente.
Granulomatose eosinofílica com poliangiite “forme fruste”[3]
Definida como granulomatose eosinofílica com poliangiite (antes denominada síndrome de Churg-Strauss), na qual a vasculite é suprimida devido aos corticosteroides que estão sendo usados para tratar a asma subjacente, causando assim um atraso no diagnóstico definitivo.
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