Abordagem

Embora a história e os exames físicos sejam importantes na identificação de um abscesso retrofaríngeo (ARF), os exames de imagem ou a drenagem espontânea ou cirúrgica do abscesso confirmam o diagnóstico.[8]

História

É importante obter uma história cuidadosa, já que outras afecções graves fazem parte do diagnóstico diferencial. Os ARFs são, mais comumente, sequelas de uma infecção do trato respiratório superior (por exemplo, faringite, amigdalite, sinusite, infecções dentárias). Eles ocorrem mais comumente em crianças; logo, deve-se observar uma história de ingestão de corpo estranho.

Em crianças, a apresentação pode ser vaga e depende do estágio da doença, mas os sintomas característicos incluem picos de febre, dor cervical (sobretudo no movimento) ou torcicolo, e disfagia. Outros sintomas comuns incluem irritabilidade, mal-estar, fotofobia leve e odinofagia (deglutição dolorosa). A odinofagia causa sialorreia, pouca ingestão de alimentos e anorexia. Os sintomas menos comuns incluem trismo (mandíbula travada), disfonia (rouquidão), estridor ou apneia do sono. Também pode-se observar a criança puxando as orelhas ou garganta, o que indica dor.[3]

Em adultos, o quadro pode ser mais específico, com sialorreia e disfagia, mas geralmente é mais insidioso no início. É importante questionar acerca de comorbidades como diabetes mellitus e, caso esteja presente, otimizar o controle glicêmico. Até um terço dos pacientes com abscesso profundo no pescoço têm diabetes mellitus.[4]

Geralmente, o comprometimento das vias aéreas se manifesta com sintomas de dispneia, sofrimento e fadiga. Os pacientes com uma evolução clínica mais complicada têm maior probabilidade de apresentar obstrução das vias aéreas ou múltiplos abscessos que aqueles com evolução clínica tranquila.[19]

Exame físico

Deve-se fazer uma tentativa de examinar a cavidade oral e o pescoço em busca de edema tonsilar, edema orofaríngeo e linfadenopatia. Pode-se fazer outras observações importantes, como sialorreia, dispneia, torcicolo e edema/massa cervical. Em crianças, o exame físico pode ser limitado dependendo da idade e da cooperação da criança (e dos pais).

Geralmente, o comprometimento das vias aéreas apresenta-se como taquipneia, cianose, repuxamento traqueal ou tiragem intercostal. A frequência respiratória alta e a saturação de oxigênio ajudam no diagnóstico de vias aéreas comprometidas. Nos casos em que há uma preocupação de comprometimento das vias aéreas na forma de obstrução parcial das vias aéreas, estridor ou estertor, o exame orofaríngeo pode ser melhor realizado em um ambiente controlado (ou seja, no centro cirúrgico, onde uma via aérea cirúrgica de emergência pode ser estabelecida, se necessário).[20]

Investigações laboratoriais

Deve-se solicitar um hemograma completo com contagem diferencial, inicialmente, para confirmar neutrofilia. Também pode-se realizar um exame de velocidade de hemossedimentação a fim de estabelecer o grau de doença inflamatória na ausência de neutrofilia significativa. Geralmente, não se fazem hemoculturas, a menos que haja suspeita de sepse. Em apresentações incomuns, considere exames para títulos de vírus Epstein-Barr, citomegalovírus e toxoplasmose, além de proteína C-reativa.[20]

Exames por imagem

São necessárias investigações radiológicas para confirmar o diagnóstico. A investigação selecionada depende do grau de suspeita e do acesso a diferentes modalidades de exame de imagem, bem como da gravidade do caso. Entretanto, uma tomografia computadorizada (TC) é a investigação definitiva, e irá demonstrar uma lesão com realce em anel nos tecidos retrofaríngeos quando realizada com contraste.

Se houver preocupação com as vias aéreas ou probabilidade de drenagem cirúrgica, deve-se considerar sedar e intubar a criança antes da TC, visando levá-la para a sala de operação.

A ultrassonografia e a radiografia simples do pescoço fornecerão algumas evidências de um ARF, mas essas modalidade são menos sensíveis e menos específicas que a TC.[21] Elas só devem ser usadas quando não houver um aparelho para TC disponível.[22][23]

A ressonância nuclear magnética (RNM) não é usada para diagnosticar essa doença, já que a TC fornece um resultado muito mais claro na maioria dos casos e, geralmente, é um recurso mais barato e mais prontamente disponível.

[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Tomografia computadorizada (TC) cervical demonstrando lesão com realce em anelPhilpott CM, Selvadurai D, Banerjee AR. Paediatric retropharyngeal abscess. J Laryngol Otol. 2004;118:919-926 [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@55875835

Cirurgia

Deve-se realizar um exame sob anestesia (ESA) caso haja forte suspeita do diagnóstico de ARF e as vias aéreas estejam comprometidas, ou caso o aparelho para TC não esteja disponível. Também deve-se realizar um ESA caso a TC (ou outros exames de imagens, caso a TC não esteja disponível) tenha sido realizada e o resultado seja consistente com ARF. Nos casos em que a TC não mostra lesões de realce do anel bem definidas, a tentativa de antibióticos intravenosos pode ser tentada antes de considerar a drenagem cirúrgica.[24]

O ESA permite a confirmação do diagnóstico e permite a incisão transoral e drenagem. Em determinados adultos, um ARF bem circunscrito e unilocular pode ser tratado de maneira adequada com drenagem orientada por ultrassonografia.[25][26] Deve-se obter um espécime de pus para cultura e sensibilidade no momento da drenagem.

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