Abordagem

O diagnóstico do pênfigo é baseado em quatro critérios:[1][31]

  • Achados clínicos

  • Histopatologia

  • Exame de imunofluorescência direta (IFD) da pele perilesional ou biópsia da mucosa

  • Detecção sorológica de autoanticorpos contra a superfície celular epitelial por imunofluorescência indireta (IFI) e/ou ensaio de imunoadsorção enzimática (ELISA Dsg1 e Dsg3).

O pênfigo vulgar (PV) afeta tipicamente a mucosa oral e a pele. Também pode afetar a mucosa da nasofaringe, conjuntiva e esôfago. Raramente o PV está confinado somente à pele ou mucosa oral.

O pênfigo foliáceo (PF) está limitado à pele, mas pode evoluir e comprometer a boca.

A lesão clássica do PV e PF é uma erosão ou vesícula superficial. Muitas vezes, essas vesículas não estão inflamadas, mas, em casos mais crônicos, é comum uma infecção secundária bacteriana ou fúngica e torna a erosão ou bolha prototípica não inflamatória menos aparente.

O pênfigo paraneoplásico (PPN) é caracterizado por um envolvimento das mucosas agressivo, mas também pode afetar a pele e os pulmões.

Atrasos no diagnóstico do pênfigo não são raros. Em pessoas com PV e PF, até 25% têm títulos positivos para a desmogleína 1 ou a desmogleína 3 antes dos sintomas.[32] Inicialmente, o diagnóstico equivocado inclui condições como pitiríase rósea e estomatite aftosa.

No diagnóstico inicial, pontos importantes a considerar incluem:[1][31]

  • Identificação de fatores de risco e comorbidades

  • Especificar o tipo de envolvimento inicial (pele, mucosa) e a extensão

  • Avaliar o prognóstico com base na idade e no estado geral

  • Registrar a gravidade da doença de acordo com um dos dois sistemas de escore validados: o Índice de Área da Doença Pênfigo (PDAI) ou o Escore de Intensidade e Gravidade da Pele Bolhosa Autoimune (ABSIS)

  • Medição do impacto da doença na qualidade de vida usando um escore específico de dermatologia (DLQI).

História e exame físico

Pontos importantes a serem cobertos ou abordados no histórico e no exame incluem:[1][31]

  • Tempo transcorrido desde o início dos primeiros sintomas

  • Sintomas funcionais (dor, prurido, intensidade da disfagia, sintomas oculares e otorrinolaringológicos, disúria, problemas anogenitais e perda de peso)

  • História médica hematológica, oncológica, endócrina, cardiovascular e infecciosa para identificar fatores de risco para o tratamento com corticosteroides orais e complicações decorrentes da terapia imunossupressora

  • Discutir possível gravidez futura (especialmente, ao considerar o tratamento imunossupressor) com pacientes do sexo feminino

  • Elaborar uma história de uso de medicamentos para identificar quais poderiam induzir o pênfigo

  • Avaliação do impacto na qualidade de vida usando questionários validados, por exemplo, DLQI

  • Verificar a vacinação atualizada; perguntar sobre uma possível viagem futura que possa afetar a imunossupressão.

O componente principal na história do PV ou PF é uma dermatite bolhosa, erosiva e crônica da pele, da mucosa ou de ambas com prurido e dor. No PV, a mucosa oral é frequentemente afetada. A pele é comumente afetada. A mucosa nasal e a conjuntiva também podem ser afetadas. As lesões nasais podem causar epistaxes.

No PF, as lesões estão confinadas à pele e frequentemente acentuadas no couro cabeludo, na face e no tronco superior. No exame físico, a presença do sinal de Nikolsky (ou seja, descamação superficial com pressão lateral sobre a pele) indica PV e PF. As diretrizes afirmam que a maioria dos especialistas não recomenda mais a realização do sinal de Nikolsky, observando que existem outras ferramentas para medir a atividade da doença.[1]

O pênfigo paraneoplásico é caracterizado por uma mucosite agressiva, em especial nos lábios e na língua. O envolvimento conjuntival pode causar uma conjuntivite com cicatrizes sugestiva de penfigoide de membranas mucosas (ou seja, uma conjuntivite cicatricial). O envolvimento do epitélio pulmonar é proeminente, e a insuficiência respiratória é a principal causa de morte nesses pacientes.[16][33][34]​ Os pacientes também podem ter lesões sugestivas de eritema multiforme, líquen plano ou doença do enxerto contra o hospedeiro.

Biópsia de pele, coloração de hematoxilina e eosina

O primeiro teste diagnóstico para o pênfigo é uma biópsia de pele, mucosa ou ambas. A biópsia de pele deve incluir a epiderme e a derme. A coloração de rotina com hematoxilina e eosina no tecido fixado e a coloração de imunofluorescência direta em tecidos congelados são necessárias. Essa biópsia de pele deve ser da pele afetada adjacente à vesícula ativa. A biópsia de uma vesícula ativa pode tornar o diagnóstico de pênfigo difícil quando a epiderme está faltando.

Biópsia de pele, imunofluorescência

A coloração por imunofluorescência é um teste diagnóstico mais específico que a coloração com hematoxilina e eosina e deve ser realizada como parte da investigação inicial.

O teste de imunofluorescência direta (IFD) envolve demonstrar a presença de imunoglobulina A (IgA), G (IgG) e M (IgM), C3 e fibrina na epiderme. A presença de IgG, C3 ou ambos entre os ceratinócitos epiteliais é diagnóstica de PV e PF.

A coloração da superfície epitelial dos ceratinócitos (como observado no PV e PF) e ao longo da junção derme-epiderme fortemente dá suporte ao diagnóstico de pênfigo paraneoplásico (PPN).

A coloração de imunofluorescência indireta (IFI) envolve a aplicação de soro do paciente a um substrato (ou seja, pele humana normal, esôfago de macaco, esôfago de porquinho da Índia ou bexiga de roedor). A presença de autoanticorpos que caracteristicamente mancha o substrato fortemente dá suporte ao diagnóstico de pênfigo.

O IFD é mais sensível que a coloração de IFI no diagnóstico de pênfigo, no entanto, a coloração de IFI acrescenta especificidade adicional durante o diagnóstico de investigação.

Assim como na coloração de rotina com hematoxilina e eosina, a biópsia de pele deve ser da pele afetada adjacente a qualquer vesícula.

Extensão da doença

As diretrizes referentes ao pênfigo recomendam registrar:[1][31]

  • A extensão das lesões cutâneas e da membrana mucosa, o grau de danos à mucosa e o comprometimento funcional (disfagia, disfonia, perda de peso, comprometimento da visão, dispareunia)

  • A gravidade das lesões cutâneas e mucosas usando um dos dois sistemas de escore validados (PDAI ou ABSIS)

  • Peso corporal

  • Pressão arterial

  • Condição geral, comorbidades (neoplásicas, cardiovasculares, musculoesqueléticas, diabetes, etc.).

Os sistemas do corpo afetados devem ser investigados de forma mais aprofundada depois das biópsias iniciais. Por exemplo, a endoscopia digestiva alta é indicada para definir a extensão do envolvimento da mucosa em pacientes com disfagia.

Investigações pulmonares, tais como radiografia torácica, tomografia computadorizada do tórax e testes da função pulmonar, devem ser realizadas em pacientes com dispneia ou com PNN.

Em pacientes com suspeita de PPN, uma investigação abrangente para malignidades subjacentes é importante, se a malignidade ainda não tiver sido diagnosticada.[16]

Testes imunológicos especializados

Testes sorológicos indiretos, como o ELISA e a imunoprecipitação sérica, podem também ser usados para detectar autoanticorpos específicos, particularmente anticorpos contra a desmogleína 1 e 3.

A immunoblotting (Western Blot) pode demonstrar autoanticorpos do desmossomo ou hemidesmossomo de ceratinócitos.

O uso deste conteúdo está sujeito ao nosso aviso legal