Etiologia
A etiologia da demência com corpos de Lewy (DCL) é desconhecida. Os possíveis mecanismos causadores incluem:[11]
Agregação de proteínas tóxicas
Fosforilação anormal
Outros mecanismos moleculares, como nitração, inflamação, estresse oxidativo e disfunção lisossomal.
Quase todos os casos de DCL são esporádicos. No entanto, grupos familiares têm sido registrados. É provável que fatores genéticos contribuam para a patogênese da DCL. A maioria tem um padrão hereditário autossômico dominante, mas a herança autossômica recessiva também tem sido implicada.[12][13] Os genes identificados em famílias com DCL incluem o gene alfa-sinucleína no cromossomo 4, e o alelo do épsilon 4 (ε4) do gene para apolipoproteína E (ApoE).[12][14] Os outros genes implicados incluem SNCA e glucocerebrosidase.[15] Parece não haver associação com locus de MAPT, diferentemente daquela encontrada na doença de Parkinson.[1]
Fisiopatologia
A demência com corpos de Lewy (DCL) é uma doença degenerativa do sistema nervoso central caracterizada pelo acúmulo de corpos de Lewy em locais vulneráveis. Os corpos de Lewy foram descritos pela primeira vez na doença de Parkinson idiopática. A patologia da DCL mimetiza a patologia da doença de Parkinson idiopática. As inclusões de corpos de Lewy são compostas pela proteína alfa-sinucleína, uma proteína citoplasmática associada às vesículas sinápticas.[11] A função normal dessa proteína inclui a participação no transporte de vesículas sinápticas e na plasticidade sináptica. As outras proteínas nos corpos de Lewy incluem neurofilamentos de cadeia leve e a ubiquitina. Acredita-se que a distribuição e a densidade dos corpos de Lewy estejam correlacionadas aos sintomas clínicos, embora a distribuição da patologia da doença de Alzheimer (DA) em pacientes com DCL possa contribuir para o fenótipo.[16][17]
Uma patologia coexistente da DA é comum nos pacientes com DCL, especialmente a patologia amiloide. Os emaranhados neurofibrilares costumam ser menos graves que nos casos típicos de DA.[11] Se a patologia neurofibrilar for grave, haverá menor probabilidade de as características clínicas se parecerem com uma DCL.[1] Outras características patológicas incluem uma vacuolização focal no lobo temporal e neurite de Lewy.
No nível bioquímico, há a presença de um deficit colinérgico significativo, em comparação com a DA. Um deficit dopaminérgico também é comum.
Classificação
Classificação patológica no momento da autópsia: patologia do tipo com corpos de Lewy[1]
A classificação neuropatológica se baseia na distribuição e na densidade dos corpos de Lewy no momento da autópsia:
Na doença predominante na região da substância negra, a maioria dos corpos de Lewy está nos núcleos pigmentados do tronco encefálico (por exemplo, locus cerúleo, substância negra).
Para a forma límbica (tipo transitório), os corpos de Lewy se estendem nas regiões límbicas/prosencéfalo basal (por exemplo, transentorrinal, córtex cingulado).
Na doença neocortical difusa, o envolvimento dos corpos de Lewy se estende de modo difuso nas áreas neocorticais (por exemplo, córtices frontal e temporal).
O quadro clínico pode ser complicado por demências mistas. É comum a patologia da DA ser concomitante. Isso normalmente resulta em uma síndrome clínica atípica.[1] Existe também uma associação com demências vasculares, estando a patologia vascular presente em até um terço dos pacientes com DCL. Isso é acrescentado à heterogeneidade das manifestações e à complexidade do diagnóstico e dos cuidados.
A diferenciação da demência na doença de Parkinson (DDP) pode ser complicada e, clinicamente, depende da relação entre o momento da demência e o início dos sintomas motores: a DCL é diagnosticada se a demência estiver presente no início dos sintomas ou até 1 ano após o início do parkinsonismo; a DDP é diagnosticada se o paciente tiver tido o diagnóstico de DP pelo menos 1 ano antes do início da demência. Essa cronologia é útil na prática clínica, mas é arbitrária e se baseia na opinião de especialistas; assim, ela pode ser modificada no futuro quando houver mais dados disponíveis.[1]
Essa avaliação patológica continua a ser usada no quarto relatório do consórcio de DCL, com apenas algumas modificações que predizem a probabilidade de que os achados patológicos estejam associados a uma síndrome clínica de DCL típica (ou seja, espera-se que os casos com alta probabilidade atendam aos critérios clínicos de provável DCL, enquanto os casos com baixa probabilidade possam apresentar poucas ou nenhuma característica clínica de DCL).[1]
Classificação de critérios para transtorno neurocognitivo vascular maior e/ou leve do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª ed., texto revisado (DSM-5-TR)[3][4]
O DSM-5-TR define transtornos neurocognitivos maior e leve como sendo devidos a:
Doença de Alzheimer
Degeneração frontotemporal
Doença com corpos de Lewy
Doença vascular
Lesão cerebral traumática
Uso de substância/medicamento
Infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV)
Doença de príon
Doença de Parkinson
Doença de Huntington
Outra condição clínica
Múltiplas etiologias
Etiologia desconhecida.
A gravidade é definida para os transtornos neurocognitivos maiores como leve, moderada ou grave; e a presença ou ausência de sintomas comportamentais e psicológicos também é especificada.
Critérios específicos relacionados à doença com corpos de Lewy são apresentados em Critérios diagnósticos.
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