Abordagem

Os pacientes com aparecimento recente de flutter atrial, em geral, queixam-se de palpitações, fadiga, tontura, dor torácica e/ou dispneia. Também podem ocorrer intolerância a exercícios, sintomas de agravamento de insuficiência cardíaca e queixas pulmonares. Com menor frequência, uma hipotensão, síncope ou eventos embólicos podem aparecer como sintomas.[4] A anamnese deve ser direcionada no sentido de identificar o aparecimento, a frequência e a duração, bem como a presença de cardiopatia estrutural ou de causa precipitante.

História

Em cerca de 60% dos pacientes, o flutter atrial ocorre como parte de um processo de doença aguda e se resolve juntamente com esse processo.[5] Portanto, a identificação dessa causa subjacente ou desse fator desencadeante é fundamental para o manejo do problema. A anamnese deve estabelecer se há quaisquer sintomas concomitantes de um processo de doença aguda, como febre e tosse em caso de pneumonia. Uma detalhada história médica pregressa deve identificar se há uma história de fatores de risco:

  • Cardiopatia hipertensiva

  • Insuficiência cardíaca

  • Asma

  • doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)

  • Hipertireoidismo

  • Valvopatia tricúspide ou mitral

  • Fibrilação atrial

  • Doença cardíaca estrutural, como cardiomiopatia hipertrófica ou cardiopatia congênita

  • Procedimentos cardíacos ou torácicos recentes, inclusive ablação

  • Infarto do miocárdio (IAM) ou embolia pulmonar prévios, ou outra patologia capaz de causar dilatação atrial

  • Diabetes.

Uma história medicamentosa revelará se o paciente está tomando antiarrítmicos para supressão crônica da fibrilação atrial, como medicamentos classe Ic (flecainida e propafenona) ou classe Ia (disopiramida, procainamida, quinidina) e amiodarona.​​[7][8][20]​​​​ Os medicamentos digitálicos (por exemplo, digoxina) também são um fator de risco conhecido para o flutter atrial.

Exame físico

O pulso dos pacientes com flutter atrial pode ser regular ou irregularmente irregular. Pulsações venosas jugulares com ondas rápidas de flutter podem ser observadas ao se avaliar a pressão venosa jugular. As manifestações da causa subjacente devem ser investigadas em um exame físico minucioso. Sibilância, estertores e hiperinsuflação sugerem doença pulmonar. Sopros ou atritos à ausculta sugerem valvopatia, pericardite ou cardiopatia congênita. Pode haver sinais de hipertireoidismo, como taquicardia, tremor fino, bócio com ou sem nódulos, eritema palmar e rarefação de cabelos. A pressão arterial deve ser aferida e devem-se procurar cicatrizes de cirurgias cardíacas ou torácicas recentes. Elas podem sugerir condições subjacentes capazes de complicar o tratamento.

Investigações

O padrão no ECG pode variar entre flutter atrial e fibrilação atrial. ​O ECG é diagnóstico:

  • Na forma típica (flutter arterial anti-horário): deflexões atriais em dente de serra (ondas f) direcionadas negativamente nas derivações II, III e aVF, e deflexões positivas em V1 com frequências atriais de 240 a 320 bpm.

  • Normalmente, há um bloqueio atrioventricular (AV) 2:1, e a frequência ventricular característica é de 150 bpm.

  • Pode ocorrer bloqueio variável, que leva a uma frequência irregular.

  • Na forma típica inversa (flutter no sentido horário dependente do istmo): ondas positivas de flutter nas derivações II, III e aVF e ondas negativas de flutter na derivação V1.

  • O flutter atípico tem um padrão de ECG de ondulação contínua do complexo atrial que não atende aos critérios de flutter atrial típico ou típico inverso com frequências atriais >240 bpm.[3][4]​​

    [Figure caption and citation for the preceding image starts]: Flutter atrial típico com bloqueio variável (3 a 4:1)Do acervo de Dr K.C. Wu [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@7e032a48[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Fibrilação atrialDo acervo de Dr K.C. Wu [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@7d65763f[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Detalhe das imagens das derivações V1, II, III e aVF, mostrando as características do flutter atrial típico: deflexões positivas em dente de serra na derivação V1 e deflexões negativas nas derivações II, III e aVF (setas)Do acervo de Dr K.C. Wu [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@4b7a247b[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Flutter atrial típico inversoDe: Waldo AL. Heart. 2000 Aug;84(2):227-32; usado com permissão [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@7be713f9[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Derivações selecionadas de um paciente com flutter atrial típico inverso confirmado por estudo eletrofisiológico. As deflexões atriais são negativas na derivação V1 e positivas nas derivações II, III e aVF (setas)Adaptado de: Waldo AL. Heart. 2000 Aug;84(2):227-32; usado com permissão [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@73951189[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Flutter atípico com bloqueio de ramo direitoDo acervo de Dr K.C. Wu [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@57122f60[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Detalhe das derivações II, III e V1 mostrando o padrão de ondulação contínua das deflexões atriais que não atendem aos critérios de flutter atrial típico nem típico inversoDo acervo de Dr K.C. Wu [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@366b2221

Em geral, as anormalidades eletrolíticas não são a causa isolada do flutter atrial, mas os desequilíbrios devem ser verificados e corrigidos. Testes de função tireoidiana devem ser realizados para descartar a possibilidade de doenças da tireoide como causa subjacente. As enzimas cardíacas devem ser verificadas se houver suspeita de infarto agudo do miocárdio, e os níveis de digitálicos devem ser medidos se o paciente estiver usando esse tipo de medicamento (por exemplo, digoxina).

Uma radiografia torácica deve ser feita e testes de função pulmonar devem ser considerados, uma vez que o flutter atrial frequentemente está associado a uma história conhecida ou a um quadro sugestivo de doença pulmonar. A tomografia computadorizada helicoidal com protocolo para embolia pulmonar pode ser considerada, se houver suspeita de embolia pulmonar.

O ecocardiograma transtorácico deve ser usado para se detectar uma cardiopatia estrutural. Especificamente, pode-se medir o tamanho dos átrios e avaliar valvopatia, função ventricular e doença pericárdica. Também podem ser medidas as pressões sistólicas no ventrículo direito e indicada a presença ou ausência de hipertensão pulmonar, que pode ser observada em processos pulmonares.

Em geral, estudos eletrofisiológicos são realizados nos pacientes que apresentam flutter atrial recorrente, especialmente se a terapia medicamentosa antiarrítmica estiver sendo ineficaz ou não tolerada devido a efeitos adversos, se a frequência ventricular for difícil de controlar com medicamentos ou se o flutter atrial persistir apesar da resolução da doença aguda subjacente. Os estudos eletrofisiológicos requerem a participação de eletrofisiologistas e podem ajudar no diagnóstico, no mapeamento do istmo crítico (por exemplo, do istmo cavotricuspídeo) e na ablação terapêutica.

O registro de um eletrograma atrial pode ajudar a visualizar as ondas de flutter quando o diagnóstico não for claro. Elas são registradas por derivações epicárdicas pós-cirúrgicas, marca-passo de câmara dupla ou derivação esofágica.

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