Embora a retinite pigmentosa (RP) não tenha cura, muitos pacientes podem beneficiar-se significativamente da otimização da visão remanescente. Todos os pacientes devem ser submetidos a exames de visão para ter sua capacidade de refração avaliada. Muitos pacientes beneficiarão da assistência de um especialista em baixa visão (um oftalmologista ou optometrista), que pode ajudar na obtenção de vários recursos visuais como óculos, lupas ou telescópios.
Vitamina A (retinol)
Embora altas doses de vitamina A oral (retinol) tenham sido recomendadas anteriormente para retardar o declínio da função da retina, com base em dados históricos de ensaios clínicos randomizados, essa recomendação não se aplica mais. Um estudo publicado em 2023 reavaliou os dados históricos e sequenciou amostras de DNA do ensaio original para determinar se certos genótipos responderam preferencialmente à suplementação de vitamina A (retinol).[38]Comander J, Weigel DiFranco C, Sanderson K, et al. Natural history of retinitis pigmentosa based on genotype, vitamin A/E supplementation, and an electroretinogram biomarker. JCI Insight. 2023 Aug 8;8(15):e167546.
https://insight.jci.org/articles/view/167546
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/37261916?tool=bestpractice.com
Os autores revelaram que o tempo implícito de cintilação do cone de 30 Hz do eletrorretinograma (ERG) basal (o tempo que a retina leva para responder completamente à luz fraca) foi um preditor independente e forte da progressão da RP para indivíduos incluídos no ensaio clínico. Em contraste, não houve evidência de um efeito neuroprotetor generalizado da suplementação de vitamina A (retinol) nesta população de pacientes.[38]Comander J, Weigel DiFranco C, Sanderson K, et al. Natural history of retinitis pigmentosa based on genotype, vitamin A/E supplementation, and an electroretinogram biomarker. JCI Insight. 2023 Aug 8;8(15):e167546.
https://insight.jci.org/articles/view/167546
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/37261916?tool=bestpractice.com
Este estudo mudou fundamentalmente a compreensão do papel da suplementação de vitamina A (retinol) no tratamento de pacientes com RP.[8]Jain N, Maguire MG, Flaxel CJ, et al. Dietary supplementation for retinitis pigmentosa: a report by the American Academy of Ophthalmology. Ophthalmology. 2025 Mar;132(3):354-67.
https://www.aaojournal.org/article/S0161-6420(24)00553-0/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/39453328?tool=bestpractice.com
Além disso, os pacientes com distrofia cones-bastonetes devem evitar a vitamina A (retinol), devido a potenciais danos que foram observados em camundongos com mutações ABCA4, os quais tiveram maior acúmulo de componentes A2-E (N-retinilideno-N-retiniletanol-amina) fototóxicos.[39]Radu RA, Hu J, Peng J, et al. Retinal pigment epithelium-retinal G protein receptor-opsin mediates light-dependent translocation of all-trans-retinyl esters for synthesis of visual chromophore in retinal pigment epithelial cells. J Biol Chem. 008 Jul 11;283(28):19730-8.
https://www.jbc.org/content/283/28/19730.full
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18474598?tool=bestpractice.com
O componente A2-E é danoso à função celular do epitélio pigmentar da retina (EPR) por uma variedade de mecanismos, incluindo a inibição da capacidade degradativa lisossomal, perda da integridade da membrana e fototoxicidade.[40]Schütt F, Davies S, Kopitz J, et al. Photodamage to human RPE cells by A2-E, a retinoid component of lipofuscin. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2000 Jul;41(8):2303-8.
https://iovs.arvojournals.org/article.aspx?articleid=2123494
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10892877?tool=bestpractice.com
A suplementação de vitamina A (retinol) em altas doses em longo prazo também pode elevar as enzimas hepáticas e os triglicerídeos, além de aumentar o risco de osteoporose.[41]Sibulesky L, Hayes KC, Pronczuk A, et al. Safety of <7500 RE (<25000 IU) vitamin A daily in adults with retinitis pigmentosa. Am J Clin Nutr. 1999 Apr;69(4):656-63.
https://ajcn.nutrition.org/content/69/4/656.full
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10197566?tool=bestpractice.com
Pacientes que recebem vitamina A (retinol), principalmente crianças, idosos ou pacientes com doença hepática, hiperlipidemia, alto consumo de álcool ou uma combinação desses fatores, devem ser monitorados por seu médico quanto a esses potenciais efeitos adversos.[8]Jain N, Maguire MG, Flaxel CJ, et al. Dietary supplementation for retinitis pigmentosa: a report by the American Academy of Ophthalmology. Ophthalmology. 2025 Mar;132(3):354-67.
https://www.aaojournal.org/article/S0161-6420(24)00553-0/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/39453328?tool=bestpractice.com
Sugeriu-se que o betacaroteno (um precursor da vitamina A) é benéfico no tratamento da retinite pigmentosa, mas esses resultados ainda são preliminares e requerem estudos adicionais antes que uma recomendação formal possa ser feita.[8]Jain N, Maguire MG, Flaxel CJ, et al. Dietary supplementation for retinitis pigmentosa: a report by the American Academy of Ophthalmology. Ophthalmology. 2025 Mar;132(3):354-67.
https://www.aaojournal.org/article/S0161-6420(24)00553-0/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/39453328?tool=bestpractice.com
[42]Rotenstreich Y, Belkin M, Sadetzki S, et al. Treatment with 9-cis β-carotene-rich powder in patients with retinitis pigmentosa: a randomized crossover trial. JAMA Ophthalmol. 2013 Aug;131(8):985-92.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23700011?tool=bestpractice.com
[43]Pennesi ME. A little algae a day keeps the retinal degeneration specialist away? JAMA Ophthalmol. 2013 Aug;131(8):983-4.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23700100?tool=bestpractice.com
Ácido docosa-hexaenoico (DHA)
O DHA é um ácido graxo ômega-3 e componente essencial dos óleos de peixe. Está presente em altas concentrações nos fotorreceptores e pode ser um precursor de fatores neuroprotetores.[8]Jain N, Maguire MG, Flaxel CJ, et al. Dietary supplementation for retinitis pigmentosa: a report by the American Academy of Ophthalmology. Ophthalmology. 2025 Mar;132(3):354-67.
https://www.aaojournal.org/article/S0161-6420(24)00553-0/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/39453328?tool=bestpractice.com
Dois estudos randomizados em pacientes com RP não mostraram um benefício significativo da suplementação de DHA.[44]Berson EL, Rosner B, Sandberg MA, et al. Clinical trial of docosahexaenoic acid in patients with retinitis pigmentosa receiving vitamin A treatment. Arch Ophthalmol. 2004 Sep;122(9):1297-305.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15364708?tool=bestpractice.com
[45]Hoffman DR, Locke KG, Wheaton DH, et al. A randomized, placebo-controlled clinical trial of docosahexaenoic acid supplementation for X-linked retinitis pigmentosa. Am J Ophthalmol. 2004 Apr;137(4):704-18.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15059710?tool=bestpractice.com
Um ensaio clínico de 4 anos de fase 2 em um único local que avaliou a eficácia do DHA em pacientes com RP ligada ao cromossomo X não demonstrou benefício terapêutico em desacelerar a taxa de perda funcional na ERG de cone.[46]Hoffman DR, Hughbanks-Wheaton DK, Pearson NS, et al. Four-year placebo-controlled trial of docosahexaenoic acid in X-linked retinitis pigmentosa (DHAX trial): a randomized clinical trial. JAMA Ophthalmol. 2014 Jul;132(7):866-73.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24805262?tool=bestpractice.com
Muitos centros ainda recomendam a suplementação de DHA devido ao benefício teórico, baixo risco e perfil de efeito colateral mínimo.[47]Hughbanks-Wheaton DK, Birch DG, Fish GE, et al. Safety assessment of docosahexaenoic acid in X-linked retinitis pigmentosa: the 4-year DHAX trial. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2014 Jul 11;55(8):4958-66.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25015354?tool=bestpractice.com
Luteína
A luteína é um carotenoide alimentar encontrado na retina humana e em vegetais com folhas verde-escuras. Um ensaio clínico randomizado e controlado examinou a eficácia da luteína no retardo da perda do campo de visão em pacientes com RP que estavam tomando vitamina A.[48]Berson EL, Rosner B, Sandberg MA, et al. Clinical trial of lutein in patients with retinitis pigmentosa receiving vitamin A. Arch Ophthalmol. 2010 Apr;128(4):403-11.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20385935?tool=bestpractice.com
O estudo mostrou uma redução na perda dos campos visuais centro-periféricos.[48]Berson EL, Rosner B, Sandberg MA, et al. Clinical trial of lutein in patients with retinitis pigmentosa receiving vitamin A. Arch Ophthalmol. 2010 Apr;128(4):403-11.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20385935?tool=bestpractice.com
No entanto, outras investigações desafiaram as conclusões deste estudo.[49]Massof RW, Fishman GA. How strong is the evidence that nutritional supplements slow the progression of retinitis pigmentosa? Arch Ophthalmol. 2010 Apr;128(4):493-5.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20385948?tool=bestpractice.com
Edema macular cistoide (EMC)
Inibidores da anidrase carbônica como a dorzolamida tópica ou a acetazolamida por via oral são eficazes para tratamento de EMC em alguns pacientes.[50]Grover S, Apushkin MA, Fishman GA. Topical dorzolamide for the treatment of cystoid macular edema in patients with retinitis pigmentosa. Am J Ophthalmol. 2006 May;141(5):850-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16546110?tool=bestpractice.com
[51]Fishman GA, Gilbert LD, Fiscella RG, et al. Acetazolamide for treatment of chronic macular edema in retinitis pigmentosa. Arch Ophthalmol. 1989 Oct;107(10):1445-52.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2803090?tool=bestpractice.com
Frequentemente, os pacientes devem usar esses medicamentos por vários meses antes que um efeito seja observado. O efeito pode desaparecer com o tempo, e alguns pacientes não têm benefício. Além disso, alguns pacientes podem não tolerar os efeitos adversos desses medicamentos, como parestesias e micção frequente.
Catarata
A catarata subcapsular posterior é especialmente comum e frequentemente afeta a visão central. A extração da catarata pode beneficiar muitos pacientes, especialmente se a degeneração não envolveu a mácula central. É importante descartar a presença de edema macular cistoide antes da extração da catarata, pois ele pode piorar após a cirurgia. Zônulas fracas ocultas requerem precauções cirúrgicas adequadas para minimizar os riscos de complicações durante a cirurgia de catarata.
Terapia de substituição genética
O voretigeno neparvovec, vetor recombinante viral adeno-associado que carrega uma cópia normal do gene RPE65, demonstrou melhora na visão de pacientes com amaurose congênita de Leber secundária a mutações bialélicas no RPE65 quando injetado no espaço sub-retiniano.[52]Maguire AM, Simonelli F, Pierce EA, et al. Safety and efficacy of gene transfer for Leber's congenital amaurosis. N Engl J Med. 2008 May 22;358(21):2240-8.
https//www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa0802315#t=article
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18441370?tool=bestpractice.com
[53]Bainbridge JW, Smith AJ, Barker SS, et al. Effect of gene therapy on visual function in Leber's congenital amaurosis. N Engl J Med. 2008 May 22;358(21):2231-9.
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa0802268#t=article
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18441371?tool=bestpractice.com
[54]Hauswirth WW, Aleman TS, Kaushal S, et al. Treatment of Leber congenital amaurosis due to RPE65 mutations by ocular subretinal injection of adeno-associated virus gene vector: short-term results of a phase I trial. Hum Gene Ther. 2008 Oct;19(10):979-90.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18774912?tool=bestpractice.com
[55]Bainbridge JW, Mehat MS, Sundaram V, et al. Long-term effect of gene therapy on Leber's congenital amaurosis. N Engl J Med. 2015 May 14;372(20):1887-97.
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1414221#t=article
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25938638?tool=bestpractice.com
[56]Jacobson SG, Cideciyan AV, Roman AJ, et al. Improvement and decline in vision with gene therapy in childhood blindness. N Engl J Med. 2015 May 14;372(20):1920-6.
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1412965#t=article
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25936984?tool=bestpractice.com
[57]Bennett J, Wellman J, Marshall KA, et al. Safety and durability of effect of contralateral-eye administration of AAV2 gene therapy in patients with childhood-onset blindness caused by RPE65 mutations: a follow-on phase 1 trial. Lancet. 2016 Aug 13;388(10045):661-72.
https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(16)30371-3/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27375040?tool=bestpractice.com
Um ensaio clínico de fase 3 subsequente apresentou melhora da visão funcional em pacientes com distrofia retiniana hereditária mediada por RPE65 tratados com voretigeno neparvovec.[58]Russell S, Bennett J, Wellman JA, et al. Efficacy and safety of voretigene neparvovec (AAV2-hRPE65v2) in patients with RPE65-mediated inherited retinal dystrophy: a randomised, controlled, open-label, phase 3 trial. Lancet. 2017 Aug 26;390(10097):849-60.
https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(17)31868-8/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28712537?tool=bestpractice.com
Estudos de acompanhamento do ensaio clínico de fase 3 e um ensaio clínico inicial de fase 1 demonstraram um perfil de segurança consistente e eficácia de longo prazo.[59]Maguire AM, Russell S, Wellman JA, et al. Efficacy, safety, and durability of voretigene neparvovec-rzyl in RPE65 mutation-associated inherited retinal dystrophy: results of phase 1 and 3 trials. Ophthalmology. 2019 Sep;126(9):1273-85.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31443789?tool=bestpractice.com
[60]Maguire AM, Russell S, Chung DC, et al. Durability of voretigene neparvovec for biallelic RPE65-mediated inherited retinal disease: phase 3 results at 3 and 4 years. Ophthalmology. 2021 Oct;128(10):1460-8.
https://www.aaojournal.org/article/S0161-6420(21)00236-0/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33798654?tool=bestpractice.com
Muitos outros ensaios clínicos para novas terapias para tratar outras formas de RP e amaurose congênita de Leber foram concluídos ou estão em andamento.[61]Cehajic-Kapetanovic J, Xue K, Martinez-Fernandez de la Camara C, et al. Initial results from a first-in-human gene therapy trial on X-linked retinitis pigmentosa caused by mutations in RPGR. Nat Med. 2020 Mar;26(3):354-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32094925?tool=bestpractice.com
[62]Michaelides M, Besirli CG, Yang Y, et al. Phase 1/2 AAV5-hRKp.RPGR (Botaretigene Sparoparvovec) gene therapy: safety and efficacy in RPGR-associated X-linked retinitis pigmentosa. Am J Ophthalmol. 2024 Nov;267:122-34.
https://www.ajo.com/article/S0002-9394(24)00244-7/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38871269?tool=bestpractice.com
[63]Lam BL, Pennesi ME, Kay CN, et al. Assessment of visual function with cotoretigene toliparvovec in X-linked retinitis pigmentosa in the randomized XIRIUS phase 2/3 study. Ophthalmology. 2024 Sep;131(9):1083-93.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38423215?tool=bestpractice.com
[64]Yang P, Pardon LP, Ho AC, et al. Safety and efficacy of ATSN-101 in patients with Leber congenital amaurosis caused by biallelic mutations in GUCY2D: a phase 1/2, multicentre, open-label, unilateral dose escalation study. Lancet. 2024 Sep 7;404(10456):962-70.
https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(24)01447-8/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/39244273?tool=bestpractice.com