Os pacientes diagnosticados com colite tóxica/megacólon tóxico (CT/MT) frequentemente apresentam choque séptico; em caso de suspeita de choque séptico, o paciente deve ser urgentemente avaliado pela unidade de terapia intensiva. A Surviving Sepsis Campaign produziu diretrizes de tratamento da sepse que constituem, ainda hoje, o padrão mais amplamente aceito em todo o mundo.[28]Evans L, Rhodes A, Alhazzani W, et al. Surviving sepsis campaign: international guidelines for management of sepsis and septic shock 2021. Crit Care Med. 2021 Nov 1;49(11):e1063-143.
https://journals.lww.com/ccmjournal/Fulltext/2021/11000/Surviving_Sepsis_Campaign__International.21.aspx
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34605781?tool=bestpractice.com
As diretrizes regionais incluem as da Academy of Medical Royal Colleges (AOMRC) do Reino Unido.[29]Academy of Medical Royal Colleges (AOMRC). Statement on the initial antimicrobial treatment of sepsis. May 2022 [internet publicaiton].
https://www.aomrc.org.uk/wp-content/uploads/2022/05/Statement_on_the_initial_antimicrobial_treatment_of_sepsis_0522.pdf
Devem ser seguidos os protocolos locais para o manejo da suspeita de sepse; estes podem incluir pacotes de cuidados baseados em diretrizes para assegurar que as principais intervenções sejam realizadas em tempo hábil, de acordo com cada paciente.
Uma equipe multidisciplinar (que inclua um gastroenterologista, um especialista em cuidados intensivos cirúrgicos e um cirurgião) deve ser implicada na primeira oportunidade. As principais metas do tratamento são a mitigação de complicações da colite e a prevenção da morbidade e da mortalidade associadas. Um alto índice de suspeita e a intervenção cirúrgica no momento adequado são fundamentais para a prevenção da mortalidade.
Tratamento clínico
O paciente deve ser monitorado tanto pela equipe clínica quanto pela equipe cirúrgica. Devem ser realizados exames físicos frequentes que avaliem a presença de instabilidade hemodinâmica, febre, desconforto abdominal, dor à descompressão brusca e distensão abdominal. São aconselhados exames laboratoriais diários, inclusive hemograma completo com diferencial, bioquímica sérica, albumina e níveis de ácido lático.
O paciente deve ser adequadamente submetido a fluidoterapia intravenosa e eletrólitos para corrigir anormalidades (especialmente de potássio e magnésio), receber transfusão caso tenha anemia significativa e ser colocado em dieta zero para evitar o agravamento da dilatação do intestino grosso. A descompressão nasogástrica é um adjuvante útil para diminuir a distensão gasosa do trato gastrointestinal superior, se presente. A nutrição parenteral tem pouco valor neste contexto porque não reduz a probabilidade de colectomia ou morbidade associada ao procedimento; no entanto, o repouso intestinal é normalmente indicado no contexto de atonia colônica sintomática.[7]Autenrieth DM, Baumgart DC. Toxic megacolon. Inflamm Bowel Dis. 2012 Mar;18(3):584-91.
https://academic.oup.com/ibdjournal/article/18/3/584/4608027
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22009735?tool=bestpractice.com
Para prevenir o agravamento do íleo paralítico, devem ser evitados antidiarreicos, anticolinérgicos e analgésicos opioides.[7]Autenrieth DM, Baumgart DC. Toxic megacolon. Inflamm Bowel Dis. 2012 Mar;18(3):584-91.
https://academic.oup.com/ibdjournal/article/18/3/584/4608027
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22009735?tool=bestpractice.com
[30]Kelly CR, Fischer M, Allegretti JR, et al. ACG clinical guidelines: prevention, diagnosis, and treatment of Clostridioides difficile infections. Am J Gastroenterol. 2021 Jun 1;116(6):1124-47.
https://journals.lww.com/ajg/Fulltext/2021/06000/ACG_Clinical_Guidelines__Prevention,_Diagnosis,.12.aspx
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34003176?tool=bestpractice.com
Os pacientes devem receber profilaxia para úlcera gástrica de estresse fisiológico e trombose venosa profunda.[5]Rubin DT, Ananthakrishnan AN, Siegel CA, et al. ACG clinical guideline: ulcerative colitis in adults. Am J Gastroenterol. 2019 Mar;114(3):384-413.
https://journals.lww.com/ajg/Fulltext/2019/03000/ACG_Clinical_Guideline__Ulcerative_Colitis_in.10.aspx
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30840605?tool=bestpractice.com
[7]Autenrieth DM, Baumgart DC. Toxic megacolon. Inflamm Bowel Dis. 2012 Mar;18(3):584-91.
https://academic.oup.com/ibdjournal/article/18/3/584/4608027
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22009735?tool=bestpractice.com
[31]De Simone B, Davies J, Chouillard E, et al. WSES-AAST guidelines: management of inflammatory bowel disease in the emergency setting. World J Emerg Surg. 2021 May 11;16(1):23.
https://wjes.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13017-021-00362-3
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33971899?tool=bestpractice.com
Todos os pacientes com CT/MT secundário a doença inflamatória intestinal (DII) devem receber corticosteroides intravenosos.[5]Rubin DT, Ananthakrishnan AN, Siegel CA, et al. ACG clinical guideline: ulcerative colitis in adults. Am J Gastroenterol. 2019 Mar;114(3):384-413.
https://journals.lww.com/ajg/Fulltext/2019/03000/ACG_Clinical_Guideline__Ulcerative_Colitis_in.10.aspx
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30840605?tool=bestpractice.com
Os corticosteroides não têm utilidade no MT associado a colite infecciosa. A sulfassalazina ou outros aminossalicilatos devem ser evitados em caso de megacólon tóxico, pois podem ter desencadeado o episódio. Esses medicamentos podem ser considerados para tratar DII subjacente uma vez que o megacólon tóxico tenha remitido.
Embora não tenha sido provada a utilidade dos antibióticos no tratamento de MT, devem ser considerados em todos os pacientes antibióticos de amplo espectro dado o risco de perfuração e bacteremia sistêmica.[7]Autenrieth DM, Baumgart DC. Toxic megacolon. Inflamm Bowel Dis. 2012 Mar;18(3):584-91.
https://academic.oup.com/ibdjournal/article/18/3/584/4608027
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22009735?tool=bestpractice.com
Em pacientes com diagnóstico presuntivo de megacólon tóxico em decorrência de colite por Clostridium difficile, devem-se interromper os medicamentos antimicrobianos que possam ter desencadeado a infecção.[32]van Prehn J, Reigadas E, Vogelzang EH, et al. European Society of Clinical Microbiology and Infectious Diseases: 2021 update on the treatment guidance document for Clostridioides difficile infection in adults. Clin Microbiol Infect. 2021 Dec;27(2 suppl):S1-21.
https://www.clinicalmicrobiologyandinfection.com/article/S1198-743X(21)00568-1/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34678515?tool=bestpractice.com
Devem ser seguidos os protocolos locais para o manejo da colite por C difficile. Para recomendações detalhadas, inclusive regimes de medicamentos, consulte nosso tópico Doença associada ao Clostridium difficile.
Pacientes com tratamento clínico malsucedido
Na ausência de perfuração livre ou peritonite, o tratamento clínico intensivo deve ser realizado agressivamente. Se não for observada melhora após 24-72 horas ou se o paciente piorar a qualquer momento, será necessário tratamento cirúrgico urgente.[31]De Simone B, Davies J, Chouillard E, et al. WSES-AAST guidelines: management of inflammatory bowel disease in the emergency setting. World J Emerg Surg. 2021 May 11;16(1):23.
https://wjes.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13017-021-00362-3
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33971899?tool=bestpractice.com
As indicações para intervenção cirúrgica urgente incluem perfuração livre, hemorragia com necessidade de aumento das transfusões, aumento dos sinais de toxicidade e agravamento da distensão do cólon.[4]Ausch C, Madoff RD, Gnant M, et al. Aetiology and surgical management of toxic megacolon. Colorectal Dis. 2006 Mar;8(3):195-201.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16466559?tool=bestpractice.com
[33]Klobuka AJ, Markelov A. Current status of surgical treatment for fulminant clostridium difficile colitis. World J Gastrointest Surg. 2013 Jun 27;5(6):167-72.
https://www.wjgnet.com/1948-9366/full/v5/i6/167.htm
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23977418?tool=bestpractice.com
[34]Teeuwen PH, Stommel MW, Bremers AJ, et al. Colectomy in patients with acute colitis: a systematic review. J Gastrointest Surg. 2009 Apr;13(4):676-86.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19132451?tool=bestpractice.com
Em pacientes com DII, os sinais e sintomas de perfuração iminente podem ser mascarados pelos efeitos dos medicamentos imunossupressores.[35]Lightner AL, Vogel JD, Carmichael JC, et al. The American Society of Colon and Rectal Surgeons clinical practice guidelines for the surgical management of Crohn's disease. Dis Colon Rectum. 2020 Aug;63(8):1028-52.
https://journals.lww.com/dcrjournal/Fulltext/2020/08000/The_American_Society_of_Colon_and_Rectal_Surgeons.7.aspx
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32692069?tool=bestpractice.com
A cirurgia imediata é indicada para pacientes com DII. Atrasos na cirurgia aumentam a taxa de perfuração; as taxas de mortalidade aumentam com o aumento do tempo entre a perfuração e a intervenção cirúrgica.[31]De Simone B, Davies J, Chouillard E, et al. WSES-AAST guidelines: management of inflammatory bowel disease in the emergency setting. World J Emerg Surg. 2021 May 11;16(1):23.
https://wjes.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13017-021-00362-3
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33971899?tool=bestpractice.com
[35]Lightner AL, Vogel JD, Carmichael JC, et al. The American Society of Colon and Rectal Surgeons clinical practice guidelines for the surgical management of Crohn's disease. Dis Colon Rectum. 2020 Aug;63(8):1028-52.
https://journals.lww.com/dcrjournal/Fulltext/2020/08000/The_American_Society_of_Colon_and_Rectal_Surgeons.7.aspx
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32692069?tool=bestpractice.com
Em pacientes com vírus da imunodeficiência humana/síndrome de imunodeficiência adquirida (HIV/AIDS), o fracasso do tratamento clínico deve ser reconhecido atempadamente. Nessa população, se o paciente puder tolerar cirurgia, é necessária laparotomia de emergência com colectomia abdominal e ileostomia.[14]Beaugerie L, Ngo Y, Goujard F, et al. Etiology and management of toxic megacolon in patients with human immunodeficiency virus infection. Gastroenterology. 1994 Sep;107(3):858-63.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8076773?tool=bestpractice.com