Abordagem

História

As apresentações comuns de cervicite incluem:

Disúria e corrimento vaginal associado

  • Pacientes com cistite simples normalmente apresentam disúria, polaciúria, urina com odor desagradável e/ou dor suprapúbica.

  • Essas pacientes devem ser avaliadas quanto a vaginite/cervicite caso a disúria esteja relacionada com corrimento, pois a Trichomonas vaginalis pode afetar as glândulas de Skene adjacentes e a Chlamydia trachomatis pode se apresentar na forma de uretrite.

Corrimento vaginal pruriginoso

  • Essa queixa pode resultar de várias infecções vaginais (cândida, T vaginalis, vaginose bacteriana) ou cervicais.

Dispareunia

  • A relação sexual dolorosa pode resultar de diversos processos patológicos e benignos, porém, a infecção sexualmente transmissível (IST) deve ser incluída no diferencial.

Sangramento intermenstrual ou pós-coito

  • Essas pacientes devem ser avaliadas quanto a ISTs e câncer cervical.

Achados físicos

Deve ser realizado exame pélvico completo em todas as pacientes com suspeita de cervicite. Achados do exame que corroboram o diagnóstico de cervicite incluem:

Vulva

  • Pode ser eritematosa (mais compatível com vaginite por cândida) secundária ao corrimento inflamatório da vagina ou do colo uterino.

  • A aparência normal da vulva não é suficiente para descartar a cervicite.

Vagina

  • Geralmente eritematosa e sensível à palpação ao exame especular, o que, porém, também pode decorrer de infecção vaginal.

  • Corrimento mucopurulento é mais característico de infecção por Neisseria gonorrhoeae, com um valor preditivo positivo de 40%.

Colo uterino

  • Friável, exsudatos inflamatórios do óstio cervical.

  • Dor ao exame de toque ou ao swab.

  • Colo uterino com aparência de morango é mais compatível com infecção por T vaginalis.

  • Sangramento cervical facilmente induzido sugere infecção por clamídia, com valor preditivo positivo de 40%.

Investigações

Uma avaliação microscópica de corrimento cervical em câmara úmida é indicada para todas as pacientes com corrimento vaginal. O valor preditivo positivo da leucorreia indicando a presença de uma IST é mais alto para mulheres não gestantes (92%) que para mulheres gestantes (60%). O valor preditivo negativo de leucorreia também é elevado (92% a 99%).[19]

Uma amostra de corrimento cervical também deve ser enviada para:

  • Cultura de Thayer-Martin: um teste sensível para infecção gonocócica

  • Teste de amplificação de ácidos nucleicos: é o teste definitivo para detecção de C trachomatis, N gonorrhoeae ou M genitalium, ou T vaginalis[20]

  • Coloração de Gram: padrão ouro para o diagnóstico de vaginose bacteriana.[1]​​

Diretrizes europeias recomendam que todos os testes de amplificação de ácidos nucleicos positivos para M genitalium devem ser acompanhados de um ensaio capaz de detectar mutações relacionada à resistência a macrolídeos. A sensibilidade dos ensaios de resistência a macrolídeos varia consideravelmente.[8]

Testes remotos rápidos e confiáveis, realizados no local de atendimento, já se encontram disponíveis para detectar a T vaginalis. Os resultados estão disponíveis em 30 minutos com o OSOM Trichomonas Rapid Test e em 45 minutos com o AFFIRM VP III.

Ensaios sorológicos para tipos específicos de vírus do herpes simples (HSV) podem ser úteis nos seguintes cenários: 1) sintomas genitais recorrentes ou atípicos com culturas de HSV negativo; 2) diagnóstico clínico de herpes genital (lesões vesiculares ou erosões cervicais) sem confirmação laboratorial; ou 3) parceiro com herpes genital.[1]​​

A vaginose bacteriana pode ser diagnosticada por coloração de Gram vaginal (pelo uso do escore de Nugent) ou pela presença de pelo menos 3 dos 4 critérios de Amsel: 1) corrimento vaginal branco aderente; 2) células-chave (clue cells) na microscopia (células epiteliais vaginais com aparência pontilhada distinta como se recobertas por bactérias); 3) pH vaginal >4.5; 4) "teste de aminas (Whiff)" (libera odor de peixe após adição de solução de hidróxido de potássio a 10%).[21][22]

Se a paciente apresentar alto risco (<25 anos de idade, vários parceiros sexuais, uso inconstante de preservativo), o rastreamento para outras ISTs é necessário. Além disso, caso seja diagnosticada alguma IST, uma bateria completa de rastreamento para ISTs deverá ser oferecida, incluindo ISTs não causadoras de cervicite, como vírus da imunodeficiência humana (HIV), hepatites B e C e sífilis. Dentro do intervalo de rastreamento, pode ser realizado um teste de Papanicolau durante esse exame, embora não seja útil no diagnóstico de ISTs específicas. A coloração de Gram endocervical demonstrou baixo nível de detecção de N gonorrhoeae (apenas 50%), tendo sido excluída das diretrizes dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.[1]​​

As gestantes representam uma população de risco. Mulheres sexualmente ativas em idade reprodutiva devem realizar teste de gravidez.

Para auxiliar no fornecimento de serviços de testes de IST, a Organização Mundial da Saúde recomenda a autocoleta de amostras como uma opção para testar para N gonorrhoeae e C trachomatis e, se for o caso, T pallidum e T vaginalis.[23]​ O National Health and Care Excellence do Reino Unido também recomenda que a autoamostragem remota seja oferecida como alternativa ao comparecimento à clínica para melhorar a captação e a frequência dos testes de IST.[16]

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