Monitoramento

Para cãibras idiopáticas (usuais) e cãibras associadas ao exercício, não há períodos de tempo típicos para consultas de retorno ou exames de acompanhamento. Para cãibras associadas a doenças orgânicas ou gestação, os exames laboratoriais acompanhamento dependem da doença subjacente. É importante identificar as causas que as exacerbem. Os parâmetros de monitoramento específicos da eficácia e/ou efeitos adversos do medicamento utilizado para o tratamento e prevenção de cãibras são necessários para uma minoria dos tratamentos medicamentosos.

  • Baclofeno

    • Embora o baclofeno tenha vários efeitos adversos desconfortáveis (por exemplo, hipotensão postural), nenhuma programação para acompanhamento tem sido recomendada.

    • No entanto, se houver o desenvolvimento de fraqueza, esse efeito adverso poderá confundir o diagnóstico das cãibras com doença orgânica neurológica e/ou doença muscular, necessitando de acompanhamento adicional, incluindo testes diagnósticos específicos para o músculo.

    • O acompanhamento adicional é necessário se o baclofeno for descontinuado, pois a interrupção demasiadamente rápida pode causar uma constelação perigosa de sinais e sintomas consistentes com a síndrome de abstinência de medicamentos. Eles incluem rigidez muscular, febre alta, estado mental alterado e psicopatologia, inclusive com alucinações auditiva, visual e tátil, delírios, paranoia e agitação.

  • Fenitoína

    • Devido à farmacocinética complexa saturável da fenitoína, recomenda-se o monitoramento da concentração sérica no estado estacionário após um período mínimo de 1 semana em um determinado regime, começando após a posologia ter sido ajustada para até 300 mg/dia. Se cãibras não estão controladas idealmente e o escalonamento de dose é desejado, o monitoramento da concentração sérica é recomendado após cada incremento de posologia (50-100 mg/dia). Isso permitirá obter a dose segura máxima do medicamento a ser utilizada (concentração total sérica deve ser mantida em ≤79 micromoles/L [≤20 mg/L] ou a concentração livre sérica em ≤7.9 micromoles/L [≤2 mg/L]).

    • O monitoramento de perda da eficácia de outros medicamentos (decorrente dos efeitos estimulantes da enzima hepática da fenitoína, aumentando, assim, o clearance de outros medicamentos do corpo) pode necessitar mais acompanhamento, incluindo o de concentração sérica desses outros medicamentos.

    • O acompanhamento dental pode ser necessário se a fenitoína causar hiperplasia gengival.

    • Se a paciente estiver planejando engravidar, ou engravidar, a descontinuação da terapia com fenitoína é altamente recomendada devido ao seu efeito teratogênico em humanos.

    • As recomendações para monitorar os testes da função hepática (TFHs) para hepatotoxicidade e a glicose sanguínea para hiperglicemia (apenas no diabetes do tipo 2), como preconizado pelo fabricante, são necessárias em uma periodicidade anual.

  • Carbamazepina

    • Recomenda-se o monitoramento da concentração sérica da carbamazepina no estado estacionário após um período mínimo de 1 semana em um determinado regime, começando após a posologia ter sido ajustada para até 600 mg/dia. Após cada incremento de posologia (100-200 mg/dia) para cãibras não solucionadas, recomenda-se o monitoramento da concentração sérica. Isso permitirá obter a dose segura máxima do medicamento a ser utilizada (mantendo a concentração total sérica em ≤51 micromoles/L [≤12 mg/L]).

    • A carbamazepina é um estimulante de enzimas hepáticas e pode aumentar o clearance de outros medicamentos, reduzindo assim as suas eficácias. Pode ser necessário realizar um acompanhamento adicional de outros medicamentos.

    • Outros exames laboratoriais são necessários para monitorar anualmente os efeitos adversos do medicamento: TFHs (hepatotoxicidade), hemograma completo com diferencial (supressão da medula óssea), sódio sérico (hiponatremia devida a síndrome de secreção inapropriada de hormônio antidiurético), testes de função renal e os testes de função tireoidiana.

    • Se a paciente estiver planejando engravidar, ou engravidar, a descontinuação da terapia com carbamazepina é altamente recomendada devido ao efeito teratogênico conhecido.

  • Quinina

    • Não é recomendada para as cãibras nas pernas em países como a Austrália. Nos EUA, a Food and Drug Administration emitiu um alerta contra o uso de quinina para cãibras nas pernas. FDA: drug safety information for quinine sulfate Opens in new window A American Academy of Neurology recomenda que o uso de quinina deve ser considerado apenas se os sintomas forem muito incapacitantes, se nenhum outro agente aliviar os sintomas (ou puder ser tolerado) e se os efeitos adversos puderem ser cuidadosamente monitorados. O paciente deve ser informado sobre os potenciais efeitos adversos graves antes de aceitar o tratamento.[98] Em outros países, como no Reino Unido, as preparações de quinina estão facilmente disponíveis para o tratamento de cãibras nas pernas, mas as preocupações de segurança são tais que a quinina não deve ser considerada como o medicamento de primeira escolha para as cãibras idiopáticas.

    • Devido à constante controvérsia sobre a eficácia da quinina, uma visita de acompanhamento para avaliar a eficácia deve ocorrer após 4 a 6 semanas. Se nenhuma eficácia é demonstrada por essa visita, a terapia com quinina deve ser descontinuada e iniciada terapia alternativa.

    • Os exames laboratoriais de acompanhamento para a toxicidade na medula óssea associada à quinina ou hepatotoxicidade não são recomendados devido ao aparecimento dessas entidades serem demasiadamente rápidas para serem descobertas através de rastreamentos não frequentes.

    • A audiometria não é recomendada para toxicidade associada à quinina devido à raridade da afecção.

    • Se a paciente estiver planejando engravidar, ou engravidar, a descontinuação da terapia com quinina é altamente recomendada devido ao efeito teratogênico em humanos.

    • O acompanhamento da concentração sérica de quinina não é recomendado porque o aumento da posologia segura para além de 648 mg diários de sal de sulfato não é possível devido à ausência de qualquer dados de apoio de eficácia clínica ou de segurança. Entretanto, devido à quinina ser um inibidor de enzimas da isoenzima 2D6 (CYP2D6) do citocromo P450, a terapia combinada com quinina pode interagir com outros medicamentos metabolizados pela CYP2D6 e, portanto o aumento das concentrações séricas predispõe à toxicidade. Isso pode necessitar o acompanhamento para acompanhar a concentração sérica de outros medicamentos.

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