Etiologia
A SMD pode ocorrer "de novo" ou de maneira secundária a uma neoplasia hematológica antecedente, ou após a exposição a quimioterapia ou radioterapia.[3] A maioria dos casos de SMD ocorre "de novo", e a causa exata é desconhecida. No entanto, vários fatores de risco (genéticos, ambientais e história médica pregressa) foram identificados.
Anomalias cromossômicas
Anormalidades cromossômicas são encontradas em aproximadamente 50% dos pacientes com SMD 'de novo", e elas podem ocorrer em até 90% dos pacientes com SMD secundária a uma quimioterapia ou radioterapia prévias.[20][21] As anormalidades cromossômicas mais comuns incluem -5, del(5q), -7, del(7q), del(11q), del(12p), -17, del(17p) e del(20q), o que sugere um papel para os genes supressores de tumor localizados nesses cromossomos.[18][22]
Mutações genéticas
Mutações somáticas são encontradas em 80% a 90% dos pacientes com SMD.[23][24][25] As mutações mais comuns incluem a DNMT3A, TET2, ASXL1, TP53 e SF3B1.[18][23]
Doença congênita
A SMD em crianças e adultos jovens normalmente está associada com doenças congênitas.[18]
O risco de SMD é maior em indivíduos com síndrome de falência medular hereditária (por exemplo, anemia de Fanconi, anemia de Diamond-Blackfan, síndrome de Shwachman-Diamond, disceratose congênita, neutropenia congênita grave [síndrome de Kostmann]), síndrome de Down (trissomia do cromossomo 21), ataxia-telangiectasia, xeroderma pigmentoso, síndrome de Bloom, defeito no gene glutationa transferase teta 1 (GSTT1) e síndrome de Li-Fraumeni.[15][16][18][26][27][28][29][30]
Distúrbios hematológicos prévios
O risco de SMD é maior nos pacientes com distúrbios hematológicos prévios, inclusive anemia aplásica e hemoglobinúria paroxística noturna.[18][31]
Exposições ambientais
O aumento do risco de SMD foi associado com exposição a tabaco e a benzeno.[32][33][34]
Exposição prévia a quimioterapia ou a radioterapia
Os agentes alquilantes (por exemplo, clorambucila, ciclofosfamida, melfalana), inibidores da topoisomerase (por exemplo, etoposídeo, teniposídeo), antraciclinas (por exemplo, doxorrubicina, daunorrubicina) e agentes derivados da platina (por exemplo, cisplatina, carboplatina) estão associados a aumento do risco de SMD secundária.[35][36][37]
A radioterapia está associada com um aumento do risco de SMD secundária.[37] A radioterapia combinada com quimioterapia aumenta o risco, em comparação com a radioterapia isolada.[38][39]
O transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas aumenta o risco, mas é provável que isso esteja relacionado ao uso de quimioterapia para condicionamento antes do transplante.[40]
Fisiopatologia
A SMD é um grupo heterogêneo de neoplasias hematopoiéticas clonais que surgem de uma célula-tronco hematopoiética multipotente.[41] Acredita-se que a aquisição sequencial de mutações somáticas em células-tronco hematopoiéticas desempenhe um papel importante no desenvolvimento e expansão de um clone maligno de células-tronco. O clone da célula-tronco na SMD dá origem a tipos celulares intermediários que são defeituosos e suscetíveis à apoptose, resultando em morte celular prematura na medula óssea e, por fim, citopenias.
A desregulação do sistema imunológico e os sinais inflamatórios na SMD podem resultar em hematopoiese anormal, morte celular desequilibrada e proliferação celular na medula óssea, o que pode contribuir para a patogênese da SMD.[42][43]
Classificação
5a edição da classificação de tumores hematolinfoides da Organização Mundial da Saúde (OMS): neoplasias mieloides e histiocíticas/dendríticas[1]
A classificação da OMS introduz o termo neoplasias mielodispláticas (SMD) para substituir as síndromes mielodisplásicas. A SMD é categorizada com base na definição de anormalidades genéticas, ou na morfologia.
SMD com anormalidades genéticas definidoras
SMD com blastos baixos e deleção isolada de 5q (SMD-5q)
Blastos: <5% na medula óssea e <2% no sangue periférico
Citogenética: deleção de 5q isolada, ou com uma outra anormalidade que não seja monossomia 7 ou deleção de 7q.
SMD com blastos baixos e mutação SF3B1 (SMD-SF3B1)
Blastos: <5% na medula óssea e <2% no sangue periférico
Citogenética: ausência de deleção de 5q, monossomia de 7 ou cariótipo complexo
Mutações: SF3B1 (≥15% dos sideroblastos em anel podem substituir a mutação em SF3B1).
SMD com inativação bialélica de TP53 (SMD-biTP53)
Blastos: <20% na medula óssea e no sangue periférico
Citogenética: geralmente complexa
Mutações: duas ou mais mutações TP53, ou uma mutação com evidência de perda de número de cópias de TP53 ou perda neutra de cópias de heterozigosidade.
SMD, morfologicamente definida
SMD com blastos baixos (SMD-BB)
Blastos: <5% na medula óssea e <2% no sangue periférico.
SMD, hipoplásica (SMD-h)
Blastos: <5% na medula óssea e <2% no sangue periférico
Celularidade da medula óssea ≤25% (ajustada para a idade).
SMD com aumento de blastos (SMD-AB)
SMD-AB1
Blastos: 5% a 9% na medula óssea ou 2% a 4% no sangue periférico.
SMD-AB2
Blastos: 10% a 19% na medula óssea ou 5% a 19% no sangue periférico, ou bastonetes de Auer.
SMD com fibrose (SMD-f)
Blastos: 5% a 19% na medula óssea; ou 2% a 19% no sangue periférico.
Classificação de Consenso Internacional (ICC) de neoplasias mieloides e leucemias agudas[2]
O ICC categoriza a SMD com base nas anormalidades citogenéticas, na displasia morfológica ou na presença de blastos em excesso. A declaração de "relacionada à terapia" é acrescentada a classificações específicas, como um qualificador diagnóstico se a SMD estiver relacionada a uma terapia.
SMD com mutação SF3B1 (SMD-SF3B1)
Linhagens displásicas: normalmente ≥1
Citopenias: ≥1
Citoses: 0
Blastos: <5% na medula óssea; <2% no sangue periférico
Citogenética**: qualquer uma, exceto del(5q) isolada, -7/del(7q), abn3q26.2 ou complexa
Mutações: SF3B1 (frequência doe alelo variante [FAV] ≥10%), sem TP53 multi-hit ou RUNX1.
SMD com del(5q) [SMD-del(5q)]
Linhagens displásicas: normalmente ≥1
Citopenias: ≥1
Citoses: trombocitose permitida
Blastos*: <5% na medula óssea; <2% no sangue periférico
Citogenética**: del(5q), com até 1 adicional, exceto -7/del(7q)
Mutações: qualquer uma, exceto TP53 multi-hit.
SMD, sem outra especificação (SOE) sem displasia
Linhagens displásicas: 0
Citopenias: ≥1
Citoses: 0
Blastos*: <5% na medula óssea; <2% no sangue periférico
Citogenética**: -7/del(7q) ou complexa
Mutações: qualquer uma, exceto TP53 multi-hit ou SF3B1 (FAV ≥10%).
SMD, SOE com displasia unilinhagem
Linhagens displásicas: 1
Citopenias: ≥1
Citoses: 0
Blastos*: <5% na medula óssea; <2% no sangue periférico
Citogenética**: qualquer uma, exceto não atendimento aos critérios para SMD-del(5q)
Mutações: qualquer uma, exceto TP53 multi-hit; não atendimento aos critérios para SMD-SF3B1.
SMD, SOE com displasia multilinhagem
Linhagens displásicas: ≥2
Citopenias: ≥1
Citoses: 0
Blastos*: <5% na medula óssea; <2% no sangue periférico
Citogenética**: qualquer uma, exceto não atendimento aos critérios para SMD-del(5q)
Mutações: qualquer uma, exceto TP53 multi-hit; não atendimento aos critérios para SMD-SF3B1.
SMD com excesso de blastos (SMD-EB)
Linhagens displásicas: normalmente ≥1
Citopenias: ≥1
Citoses: 0
Blastos: 5% a 9% na medula óssea; 2% a 9% no sangue periférico. Para pacientes pediátricos (<18 anos de idade), os limiares de blastos para SMD-EB são 5% a 19% na medula óssea e 2% a 19% no sangue periférico, e a entidade SMD/LMA não se aplica
Citogenética**: qualquer uma
Mutações: qualquer uma, exceto TP53 multi-hit.
SMD/LMA
Linhagens displásicas: normalmente ≥1
Citopenias: ≥1
Citoses: 0
Blastos: 10% a 19% na medula óssea ou no sangue periférico. Para pacientes pediátricos (<18 anos de idade), os limiares de blastos para SMD-EB são 5% a 19% na medula óssea e 2% a 19% no sangue periférico, e a entidade SMD/LMA não se aplica
Citogenética**: qualquer, exceto anormalidades citogenéticas definidoras de LMA (ver Leucemia mieloide aguda)
Mutações: qualquer uma, exceto em NPM1, bZIP CEBPA ou TP53.
*A presença de 1% de blastos no sangue periférico, confirmada em suas ocasiões separadas, também qualifica para SMD-EB.
**Rearranjo BCR::ABL1 ou qualquer rearranjo associado com neoplasias mieloides/linfoides com eosinofilia e fusões gênicas de tirosina quinase descartam o diagnóstico de SMD, mesmo no contexto de citopenia.
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