História e exame físico
Principais fatores diagnósticos
comuns
presença de fatores de risco
Os principais fatores de risco da fibrilação atrial (FA) incluem os de origem cardiovascular (por exemplo, hipertensão, doença arterial coronariana [DAC], insuficiência cardíaca, valvopatia cardíaca, cardiomiopatia e presença de outras arritmias).
Os principais fatores de risco também incluem doenças não cardiovasculares, como diabetes mellitus, doença tireoidiana, uso indevido de bebidas alcoólicas, tabagismo e determinados cânceres (por exemplo, câncer de pulmão primário envolvendo a pleura e o pericárdio; câncer de mama e melanoma maligno com metástase para o pericárdio). A FA também pode se desenvolver durante um tratamento de câncer com cirurgia, radioterapia e quimioterapia.[61]
palpitações
Sintoma comum, embora alguns pacientes sejam assintomáticos.
taquicardia
A maioria dos pacientes apresentará taquicardia se ainda não estiver tomando medicamentos de controle de frequência cardíaca.
pulso irregular
Mais de 90% dos pacientes com FA persistente apresentam pulso irregular na palpação. Entretanto, um pulso aparentemente regular não descarta a fibrilação atrial (FA). Pode ser extremamente difícil perceber a irregularidade se a frequência cardíaca for muito rápida ou muito lenta. A frequência muito lenta pode ocorrer em pacientes com condução nodal atrioventricular (AV) bastante baixa, provocada por doença do nó AV ou medicamentos de bloqueio do nó AV.
Um pulso aparentemente irregular nem sempre indica FA; por exemplo, outras causas de pulso irregular são complexos ventriculares e/ou atriais prematuros frequentes na presença de ritmo sinusal, taquicardia atrial ou flutter atrial. Portanto, é necessário confirmar o ritmo com um ECG.
Outros fatores diagnósticos
comuns
acidente vascular cerebral (AVC)
Como complicação da fibrilação atrial (FA).
Estudos avaliando pacientes com primeiro episódio de AVC isquêmico revelaram uma alta prevalência (15% a 25%) de FA.[4][5]
Estudos avaliando o monitoramento prolongado por eletrocardiograma (ECG; usando um gravador desencadeado por evento por 30 dias ou um dispositivo de monitoramento cardíaco implantável) em pacientes com acidente vascular cerebral (AVC) criptogênico demonstraram que a FA é comum nesses pacientes.[94][95]
Incomuns
dispneia
Os pacientes podem apresentar dispneia decorrente de cardiomiopatia relacionada à fibrilação atrial.
fadiga
Os pacientes podem apresentar fadiga decorrente de cardiomiopatia relacionada à fibrilação atrial.
dor torácica
Os pacientes podem apresentar dor torácica de angina, decorrente de DAC concomitante.
tontura
São várias as razões para tontura. Devido à perda do chute atrial e à diminuição resultante no volume sistólico, os pacientes com ventrículos rígidos e disfunção diastólica em particular podem sentir tontura.
Os pacientes também podem desenvolver tontura decorrente de eventos tromboembólicos, ou devido à perfusão cerebral inadequada, especialmente se houver doença cerebrovascular concomitante.
síncope
Os pacientes podem apresentar síncope.[93]
hipotensão
Fibrilação atrial com frequência ventricular rápida pode causar instabilidade hemodinâmica.
pressão venosa jugular elevada
Uma característica de insuficiência cardíaca associada.
sopro ou ritmo de galope
Sopros associados à valvopatia subjacente, como estenose mitral decorrente de doença reumática cardíaca, podem ser audíveis. Um ritmo de galope pode ser ouvido na insuficiência cardíaca.
estertores
Uma característica de insuficiência cardíaca associada.
atividade mental diminuída ou desatenção
Em pacientes idosos, os sintomas podem ser sutis, como lentidão na atividade mental ou desatenção. Vários estudos mostraram uma clara associação entre fibrilação atrial e aumento do risco de comprometimento cognitivo e demência.[82] Esta associação é independente de os pacientes terem tido AVC prévio ou não, e se a demência é devida à doença de Alzheimer ou a vasculopatias.[86]
Fatores de risco
Fortes
hipertensão
A hipertensão é um forte fator de risco estabelecido para o desenvolvimento de fibrilação atrial (FA) e é uma comorbidade comum.[12][28][29][30] No estudo de Framingham, a hipertensão foi significativamente associada ao risco de FA em homens e mulheres (razão de chances de 1.5 e 1.4, respectivamente).[29] A elevação da pressão arterial diastólica e sistólica sobre o que é considerada a faixa normal também foi associada a um maior risco de desenvolvimento de FA.[30] Os mecanismos prováveis podem estar relacionados ao efeito da pressão e do estiramento do miocárdio sobre as características eletrofisiológicas no músculo atrial.
doença arterial coronariana (DAC)
insuficiência cardíaca congestiva
A insuficiência cardíaca e a FA normalmente coexistem, e as duas afecções podem causar ou exacerbar uma à outra.[2] A insuficiência cardíaca é um preditor importante da ocorrência de FA, sendo diagnosticada em até 35% dos pacientes, e esse pode ser um valor subestimado.[33] Os mecanismos estão relacionados a efeitos mediados pelo estiramento atrial. A FA ocorre com mais frequência nos pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada.[3] A presença de FA nos pacientes com insuficiência cardíaca está associada a um prognóstico mais desfavorável.[3]
idade avançada
A prevalência aumenta drasticamente com idade avançada para ambos os sexos (razão de chances de 2.1 para homens e 2.2 para mulheres para cada década de avanço na idade); pelo menos dobrando após os 50 anos de idade.[29]
diabetes mellitus
valvopatia
A valvopatia cardíaca é observada em 33% dos pacientes com FA.[3] Forte associação com doença reumática cardíaca, especialmente na estenose mitral e na regurgitação mitral. No estudo de Framingham, a valvopatia foi significativamente associada ao risco de FA em homens e mulheres (razão de chances de 1.8 e 3.4, respectivamente).[29]
cardiomiopatia hipertrófica
Aproximadamente 20% a 25% dos pacientes com cardiomiopatia hipertrófica também têm FA.[3]
abuso de álcool
Quantidades excessivas de bebidas alcoólicas agudamente ou quantidades moderadas durante um período longo, especialmente se associadas a uma cardiomiopatia, estão associadas a um maior risco de FA.[35][36] As associações são relatadas de modo variável, mas vários estudos sugerem uma relação.[37][38][39] Isso também pode ser observado com os sintomas de abstinência.[40][41]
presença de outras arritmias
A FA também pode ser resultado da degeneração de outras arritmias rápidas, como taquicardia atrial, flutter atrial ou taquicardia por reentrada no nó atrioventricular e taquicardia atrioventricular reentrante.
tabagismo
O tabagismo está associado à incidência de FA, mais do que duplicando o aumento de risco de FA atribuído ao tabagismo vigente.[3]
Nos ex-fumantes, há uma tendência a uma menor incidência de FA, em comparação com os que continuam a fumar.
Em um amplo estudo prospectivo de risco de aterosclerose em comunidades (Atherosclerosis Risk in Communities), os participantes foram acompanhados por uma mediana de 13.1 anos.[42] Comparado com os que nunca fumaram, as razões de riscos de FA ajustadas para múltiplas variáveis foram de 1.32 (intervalo de confiança [IC] de 95% 1.10 a 1.57) em ex-fumantes, de 2.05 (IC de 95% 1.71 a 2.47) em fumantes atuais e de 1.58 (IC de 95% 1.35 a 1.85) em todos os que já fumaram. As associações foram semelhantes por gênero, raça e tipo de FA. Os ex-fumantes exibiram uma tendência indicando um risco ligeiramente menor de evoluir para FA, em comparação com as pessoas que continuaram a fumar.[42]
obesidade
distúrbios respiratórios do sono (DRS)
Os DRS, incluindo a apneia obstrutiva do sono (AOS), a apneia central do sono e a respiração de Cheyne-Stokes, estão fortemente associados à FA.[45]
Estima-se que a prevalência de AOS entre indivíduos com FA seja de 50% ou mais.[46] A AOS e a FA têm fatores de risco em comum (por exemplo, idade, sexo masculino, obesidade, hipertensão e insuficiência cardíaca).[45][47] Há evidências crescentes de uma relação de causa e efeito entre DRS e FA; por exemplo, o estudo de coorte VARIOSA-AF (Variability of Sleep Apnea Severity and Risk of Atrial Fibrillation) mostrou que ≥1 hora de FA foi duas vezes mais provável no dia seguinte a noites com DRS em maior gravidade, em comparação com noites com DRS em menor gravidade. Por outro lado, a FA não foi um preditor de distúrbios respiratórios.[45][48] Acredita-se que os estresses fisiológicos sustentados associados aos DRS, incluindo perturbação do sono, flutuações autonômicas e hipóxia e hipercapnia repetitivas, interajam com os mecanismos circadianos para remodelar a estrutura e a função eletrofisiológica do coração ao longo do tempo, aumentando o risco de distúrbios do ritmo.[45] O uso de pressão positiva contínua nas vias aéreas em pacientes com AOS está associado a menor risco de FA recorrente após uma ablação por cateter.[49] No entanto, há necessidade de evidências de alta qualidade de ensaios clínicos randomizados nessa área.[45] Consulte Apneia obstrutiva do sono, Apneia central do sono.
doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)
A DPOC está presente em 10% a 15% dos pacientes com FA e é um preditor independente de evolução da FA de paroxística para permanente.[3]
doença renal crônica (DRC)
A DRC está presente em até 50% dos pacientes com FA.[2][50] Os mecanismos propostos incluem um estado pró-inflamatório generalizado e a ativação patológica do sistema renina-angiotensina-aldosterona levando à remodelação atrial.[3] A FA é particularmente comum em pacientes submetidos a hemodiálise.[3]
estilo de vida sedentário
O sedentarismo pode ser um fator de risco independente para a FA.[51]
doença tireoidiana
Cerca de 10% a 15% dos pacientes com tireotoxicose não tratada desenvolvem FA.[52][53][54]
A supressão do hormônio estimulante da tireoide, isoladamente, é um fator de risco para FA. Na população idosa, o hipertireoidismo pode não ser clinicamente evidente (hipertireoidismo apático) e a FA pode ser um sinal clínico dessa entidade.[52][54]
Uma metanálise constatou que o hipertireoidismo subclínico, o hipotireoidismo subclínico e o hipertireoidismo clínico estão associados a um aumento do risco de FA.[55]
Fracos
disfunção neuronal autonômica
O tônus parassimpático aumentado está relacionado à ocorrência de FA, pois ele heterogeneamente reduz o período refratário atrial efetivo e predispõe à reentrada.[20][56][57][58] Medicamentos experimentais que bloqueiam determinados canais de potássio regulados pela acetilcolina suprimiram a FA em determinados modelos experimentais. Os dados de procedimentos de ablação por cateter sugerem melhores resultados em longo prazo com a denervação dos gânglios parassimpáticos perto das veias pulmonares.
uso indevido de cafeína
Pode ser um fator de risco em pessoas suscetíveis.
câncer
Os pacientes com câncer têm maior risco de desenvolvimento de FA, e o risco pode depender do tipo de câncer.[59][60]
A FA também pode se desenvolver em pacientes que fazem tratamento para câncer, principalmente aqueles com ≥65 anos e/ou doença cardiovascular preexistente.[61] A cirurgia para câncer está associada com FA, sendo a taxa mais alta associada a cirurgia pulmonar.[61] Além disso, os pacientes submetidos a radioterapia no mediastino para cânceres como os linfomas de Hodgkin e não Hodgkin estão propensos à FA. Muitos agentes quimioterápicos também estão associados com o desenvolvimento de FA, por exemplo os inibidores de tirosina quinase.[61][62]
longas horas de trabalho
Um estudo prospectivo de várias coortes descobriu que pessoas que trabalhavam longas horas (≥55 horas por semana) tinham maior probabilidade de desenvolver FA do que aquelas que trabalhavam o número de horas padrão (35-40 horas por semana).[63]
esforço excessivo
altura
Indivíduos mais altos provavelmente apresentam aumento do risco de FA. Os mecanismos prováveis estão relacionados ao maior tamanho do átrio esquerdo, que está associado com a alta estatura.[65] No Copenhagen City Heart Study, descobriu-se que a altura é um fator de risco para FA incidente, com um risco 35% a 65% maior de FA por 10 cm de diferença na altura.[66]
poluição do ar
enxaqueca
Estudos sugerem que há uma associação entre enxaqueca com aura e incidência de FA em indivíduos saudáveis.[69]
O uso deste conteúdo está sujeito ao nosso aviso legal