Etiologia

A fibrilação atrial (FA) está associada a todos os tipos de doenças cardíacas, bem como a várias doenças não cardíacas.[1]

As doenças mais comumente associadas com a FA incluem:

  • Hipertensão

  • Doença arterial coronariana (DAC)

  • Insuficiência cardíaca

  • Valvopatia cardíaca

  • Diabetes

  • Doença tireoidiana

  • Distúrbios respiratórios do sono

  • Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)

As outras doenças que estão associadas com a FA incluem:

  • Dilatação ou hipertrofia atrial e ventricular

  • Anormalidades eletrofisiológicas (por exemplo, doença do nó sinusal)

  • Cardiopatia congênita

  • Tumores cardíacos ou justacardíacos benignos ou malignos, primários ou metastáticos

  • Doença inflamatória ou infiltrante (por exemplo, pericardite, amiloidose, miocardite)

  • Fibroses atrial e ventricular provocadas pela idade

  • Disfunção neuronal autonômica

  • Uso indevido de bebidas alcoólicas e de cafeína

  • Hipertensão pulmonar não cardíaca

  • Infecções

  • Doença renal crônica

Em casos raros, a FA pode ser familiar ou genética, como na cardiopatia das laminas A e C e em outras cardiomiopatias familiares.[19]

A FA pós operatória é comum, principalmente após uma cirurgia cardíaca, como transplante, CRM e substituição de valva.[3] Embora a maioria dos episódios seja autolimitada, há aumento do risco de FA recorrente nos anos após o procedimento.[3]

Os fatores de estilo de vida que aumentam o risco de FA incluem o tabagismo, as bebidas alcoólicas, a obesidade e a falta de atividade física.[1][2]

Fisiopatologia

Desde as suas primeiras descrições, várias teorias evoluíram até chegarmos à nossa compreensão atual das fisiopatologias da fibrilação atrial (FA).[20][21][22][23][24][25][26]​ A fisiopatologia da FA envolve múltiplas etiologias e alterações eletrofisiológicas complexas. A FA geralmente está associada a átrios anatômica e histologicamente anormais resultantes de uma cardiopatia subjacente. A dilatação dos átrios com fibrose e inflamação causa uma diferença nos períodos refratários no tecido atrial e promove a reentrada elétrica que resulta na FA. O fracionamento de uma onda mãe em várias ondulações na presença de um átrio aumentado, em conjunto com os períodos refratários curtos e as propriedades de condução lenta dos átrios, ocasiona FA sustentada. A presença de focos de disparos rápidos, geralmente nas veias pulmonares, pode desencadear a FA, a qual é sustentada pela condução fibrilatória ou por vários circuitos de reentrada. As entidades nosológicas de doença cardiovascular, como hipertensão, insuficiência cardíaca congestiva e doença coronariana, por meio de mecanismos como estiramento e fibrose do miocárdio com rompimento do acoplamento celular, podem ocasionar fatores desencadeantes e remodelamento celular e elétrico que podem provocar a FA.[1][23]​​[27]

Classificação

Diretrizes do ACC/AHA/ACCP/HRS de 2023 para o diagnóstico e tratamento da fibrilação atrial[1]

As diretrizes do American College of Cardiology/American Heart Association/American Association of Colleges of Pharmacy/Heart Rhythm Society (ACC/AHA/ACCP/HRS) de 2023 classificam a FA usando estágios. Essa classificação atualizada reconhece a FA como uma doença progressiva que requer diferentes estratégias de tratamento a diferentes estágios, incluindo a prevenção.

  • Estágio 1: com risco de FA (presença de fatores de risco)

  • Estágio 2: pré-FA (evidências de achados estruturais ou elétricos que predispõem ainda mais o paciente à FA)

  • Estágio 3: FA (os pacientes podem passar por subestágios)

    • Estágio 3A: FA paroxística (intermitente, dura até 7 dias)

    • Estágio 3B: FA persistente (contínua e sustentada por mais de 7 dias e requer intervenção)

    • Estágio 3C: FA persistente de longa duração (FA contínua que dura >12 meses)

    • Estágio 3D: ablação da FA bem-sucedida (livre de FA após ablação ou intervenção cirúrgica)

  • Estágio 4: FA permanente (sem tentativas adicionais de controle do ritmo)

Diretrizes de 2020 da ESC para o diagnóstico e tratamento da fibrilação atrial, desenvolvidas em colaboração com a European Association for Cardio-Thoracic Surgery (EACTS)​[2]

A European Society of Cardiology (ESC) classifica a FA em termos de apresentação, duração e frequência dos episódios:

  • FA diagnosticada pela primeira vez/novo episódio de FA: não diagnosticada antes, independentemente de sua duração ou da presença/gravidade dos sintomas relacionados à FA. Pode ser sintomática ou assintomática (detectado por exame físico ou ECG).[3]

  • FA paroxística: FA que termina espontaneamente ou com intervenção dentro de 7 dias

  • FA persistente: FA que é mantida continuamente por mais de 7 dias, incluindo episódios interrompidos por cardioversão após 7 dias ou mais

  • FA persistente de longa duração: um subgrupo de FA persistente que é contínua por >1 ano de duração

  • FA permanente: FA refratária à cardioversão, e o ritmo sinusal não pode ser restaurado ou mantido, de modo que a FA é aceita como um ritmo definitivo. Uma decisão foi tomada pelo paciente e pelo médico de não realizar a restauração do ritmo sinusal por nenhum meio, incluindo cateter ou ablação cirúrgica

As diretrizes do ACC/AHA/ACCP/HRS e da ESC recomendam que os termos a seguir não sejam mais usados:[1]​​[2]

  • FA valvar/não valvar: o termo FA valvar/não valvar tem sido usado para diferenciar os pacientes com FA na presença/ausência de estenose mitral moderada ou grave ou valva cardíaca protética. Essa terminologia pode ser confusa e deve ser evitada

  • FA isolada: o termo "FA isolada" foi usado anteriormente para identificar FA em pacientes mais jovens com cardiopatia estrutural. No entanto, como as definições são variáveis e todos os pacientes com FA têm alguma forma de base fisiopatológica, o termo “FA isolada” é potencialmente confundidor e não deve ser usado

  • FA crônica: atualmente, as diretrizes orientam que o termo "FA crônica" deve ser abandonado, pois tem definições variáveis

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