Sequelas da escoliose idiopática do adolescente
Varia muito na escoliose idiopática do adolescente (EIA), dependendo do grau da deformidade da coluna vertebral presente e do tratamento selecionado. A maior parte dos estudos sobre o tópico se concentra em 4 principais sequelas da EIA (progressão da curva, dorsalgia, complicações cardiopulmonares e efeitos psicossociais) e seu efeito na saúde e no funcionamento gerais do paciente.
Progressão da curva
A progressão da curva que requer tratamento é muito mais comum em mulheres adolescentes, com uma razão de 7-8:1.[13]Bunnell WP. The natural history of idiopathic scoliosis before skeletal maturity. Spine. 1986 Oct;11(8):773-6.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3810290?tool=bestpractice.com
Além disso, o número de meninas afetadas aumenta exponencialmente com a magnitude da curvatura.[13]Bunnell WP. The natural history of idiopathic scoliosis before skeletal maturity. Spine. 1986 Oct;11(8):773-6.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3810290?tool=bestpractice.com
A determinação do risco de progressão futura da curva é a essência do tratamento da escoliose.
O risco mais alto é durante o período de crescimento rápido do adolescente, embora teoricamente o risco continue após a maturidade esquelética. Em geral, o risco de progressão da curva depende da maturidade do paciente (determinada pela estimativa de crescimento esquelético remanescente e o estado puberal), tamanho da curva e posição do ápice da curva. Curvas com ângulo de Cobb alto oferecem alto risco de progressão com a continuação do crescimento.[25]Lonstein JE, Carlson JM. The prediction of curve progression in untreated idiopathic scoliosis during growth. J Bone Joint Surg Am. 1984 Sep;66(7):1061-71.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6480635?tool=bestpractice.com
Curvas estruturais principais com ápice acima do nível da T12 têm maior probabilidade de progressão que aquelas com ápice abaixo da T12.[26]Peterson LE, Nachemson AL. Prediction of progression of the curve in girls who have adolescent idiopathic scoliosis of moderate severity. Logistic regression analysis based on data from The Brace Study of the Scoliosis Research Society. J Bone Joint Surg Am. 1995 Jun;77(6):823-7.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7782354?tool=bestpractice.com
Demonstrou-se que, se os pacientes alcançarem a maturidade sem progressão da curva além de 30°, a qualidade de vida e funcionalidade será similar a daqueles pacientes sem escoliose.
Com base em estudos da história natural, pacientes com curvatura escoliótica >45° e evidências de crescimento esquelético remanescente apresentam alto risco de progressão futura da curva e morbidade associada na fase adulta, como dorsalgia significativa, descompensação do tronco (deformidade clinicamente aparente e grave, na qual o tronco não está mais centralizado sobre a pelve em consequência do desequilíbrio coronal em curvaturas graves) e desequilíbrio sagital.[1]Parent S, Newton PO, Wenger DR. Adolescent idiopathic scoliosis: etiology, anatomy, natural history, and bracing. Instr Course Lect. 2005;54:529-36.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15948477?tool=bestpractice.com
[2]Yaszay B, Newton PO. Idiopathic scoliosis. In: Weinstein SL, Flynn JM, Crawford HA, eds. Lovell and Winter's Pediatric Orthopaedics. 8th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer, 2021:659-720.[13]Bunnell WP. The natural history of idiopathic scoliosis before skeletal maturity. Spine. 1986 Oct;11(8):773-6.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3810290?tool=bestpractice.com
[50]Weinstein SL, Dolan LA, Spratt KF, et al. Health and function of patients with untreated idiopathic scoliosis: a 50-year natural history study. JAMA. 2003 Feb 5;289(5):559-67.
https://jama.ama-assn.org/cgi/content/full/289/5/559
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12578488?tool=bestpractice.com
[51]Bagnall KM, Beuerlein M, Johnson P, et al. Pineal transplantation after pinealectomy in young chickens has no effect on the development of scoliosis. Spine. 2001 May 1;26(9):1022-7.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11337620?tool=bestpractice.com
[52]Goldberg MS, Mayo NE, Poitras B, et al. The Ste-Justine Adolescent Idiopathic Scoliosis Cohort Study. Part II: Perception of health, self and body image, and participation in physical activities. Spine. 1994 Jul 15;19(14):1562-72.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7939992?tool=bestpractice.com
[53]Weinstein SL. Idiopathic scoliosis. Natural history. Spine. 1986 Oct;11(8):780-3.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3810292?tool=bestpractice.com
[54]Weinstein SL, Ponseti IV. Curve progression in idiopathic scoliosis. J Bone Joint Surg Am. 1983 Apr;65(4):447-55.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6833318?tool=bestpractice.com
[55]Weinstein SL, Zavala DC, Ponseti IV. Idiopathic scoliosis: long-term follow-up and prognosis in untreated patients. J Bone Joint Surg Am. 1981 Jun;63(5):702-12.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6453874?tool=bestpractice.com
Esses pacientes são então tratados com artrodese cirúrgica da coluna vertebral.
Estima-se que pacientes com curvas >50° terão progressão contínua da curva de aproximadamente 1° por ano após a maturidade esquelética.[53]Weinstein SL. Idiopathic scoliosis. Natural history. Spine. 1986 Oct;11(8):780-3.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3810292?tool=bestpractice.com
[54]Weinstein SL, Ponseti IV. Curve progression in idiopathic scoliosis. J Bone Joint Surg Am. 1983 Apr;65(4):447-55.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6833318?tool=bestpractice.com
[55]Weinstein SL, Zavala DC, Ponseti IV. Idiopathic scoliosis: long-term follow-up and prognosis in untreated patients. J Bone Joint Surg Am. 1981 Jun;63(5):702-12.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6453874?tool=bestpractice.com
Dorsalgia
Há controvérsias na literatura sobre a prevalência da dorsalgia em pacientes com escoliose. Embora a maior parte dos especialistas acredite que pacientes com escoliose sofram de dorsalgia com incidência similar à população geral de adultos da mesma idade, alguns pesquisadores demonstraram que pacientes com escoliose têm dorsalgia com maior frequência e intensidade.[50]Weinstein SL, Dolan LA, Spratt KF, et al. Health and function of patients with untreated idiopathic scoliosis: a 50-year natural history study. JAMA. 2003 Feb 5;289(5):559-67.
https://jama.ama-assn.org/cgi/content/full/289/5/559
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12578488?tool=bestpractice.com
[53]Weinstein SL. Idiopathic scoliosis. Natural history. Spine. 1986 Oct;11(8):780-3.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3810292?tool=bestpractice.com
[55]Weinstein SL, Zavala DC, Ponseti IV. Idiopathic scoliosis: long-term follow-up and prognosis in untreated patients. J Bone Joint Surg Am. 1981 Jun;63(5):702-12.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6453874?tool=bestpractice.com
[77]Mayo NE, Goldberg MS, Poitras B, et al. The Ste-Justine Adolescent Idiopathic Scoliosis Cohort Study. Part III: back pain. Spine. 1994 Jul 15;19(14):1573-81.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7939993?tool=bestpractice.com
[78]Collis DK, Ponseti IV. Long-term follow-up of patients with idiopathic scoliosis not treated surgically. J Bone Joint Surg Am. 1969 Apr;51(3):425-45.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/4238082?tool=bestpractice.com
[79]Danielsson AJ, Nachemson AL. Back pain and function 22 years after brace treatment for adolescent idiopathic scoliosis: a case-control study-part I. Spine (Phila Pa 1976). 2003 Sep 15;28(18):2078-85; discussion 2086.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/14501917?tool=bestpractice.com
A maior parte dos pacientes com escoliose trabalha e realiza atividades diárias sem limitação e não relata incapacidade significativa relacionada à dorsalgia em comparação a seus colegas.[50]Weinstein SL, Dolan LA, Spratt KF, et al. Health and function of patients with untreated idiopathic scoliosis: a 50-year natural history study. JAMA. 2003 Feb 5;289(5):559-67.
https://jama.ama-assn.org/cgi/content/full/289/5/559
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12578488?tool=bestpractice.com
[80]Ascani E, Bartolozzi P, Logroscino CA, et al. Natural history of untreated idiopathic scoliosis after skeletal maturity. Spine. 1986 Oct;11(8):784-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3810293?tool=bestpractice.com
Complicações cardiopulmonares
Diferentemente dos pacientes com escoliose juvenil (ou de início precoce), os pacientes com EIA geralmente não desenvolvem dificuldades cardiopulmonares clinicamente significativas que possam estar relacionadas ao grau de curvatura.
Pacientes com EIA com curvaturas torácicas >50° demonstraram anormalidades nos testes de função pulmonar (TFPs) consistentes com um padrão restritivo de doença pulmonar, mas raramente são clinicamente significativas.[55]Weinstein SL, Zavala DC, Ponseti IV. Idiopathic scoliosis: long-term follow-up and prognosis in untreated patients. J Bone Joint Surg Am. 1981 Jun;63(5):702-12.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6453874?tool=bestpractice.com
[80]Ascani E, Bartolozzi P, Logroscino CA, et al. Natural history of untreated idiopathic scoliosis after skeletal maturity. Spine. 1986 Oct;11(8):784-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3810293?tool=bestpractice.com
[81]Nachemson A. A long term follow-up study of non-treated scoliosis. Acta Orthop Scand. 1968;39(4):466-76.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/5726117?tool=bestpractice.com
[82]Branthwaite MA. Cardiorespiratory consequences of unfused idiopathic scoliosis. Br J Dis Chest. 1986 Oct;80(4):360-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3620323?tool=bestpractice.com
[83]Edgar MA, Mehta MH. Long-term follow-up of fused and unfused idiopathic scoliosis. J Bone Joint Surg Br. 1988 Nov;70(5):712-6.
https://www.jbjs.boneandjoint.org.uk/content/70-B/5/712.full.pdf+html
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3192566?tool=bestpractice.com
[84]Pehrsson K, Bake B, Larsson S, et al. Lung function in adult idiopathic scoliosis: a 20 year follow up. Thorax. 1991 Jul;46(7):474-8.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC463231/pdf/thorax00355-0006.pdf
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1877034?tool=bestpractice.com
[85]Pehrsson K, Danielsson A, Nachemson A. Pulmonary function in adolescent idiopathic scoliosis: a 25 year follow up after surgery or start of brace treatment. Thorax. 2001 May;56(5):388-93.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1746049/pdf/v056p00388.pdf
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11312408?tool=bestpractice.com
Efeitos psicossociais
Há controvérsias na literatura sobre o efeito da escoliose na autoimagem global e na saúde percebida de pacientes com EIA.
Pacientes não tratados com escoliose que desenvolvem deformidade significativa relatam estar muito menos satisfeitos com sua imagem corporal e aparência com roupas que seus colegas da mesma idade.
Aproximadamente 30% dos pacientes não tratados sentem que a curvatura e a deformidade resultante causaram alguma forma de limitação em relação à sua autoconsciência e à capacidade física reduzida.[50]Weinstein SL, Dolan LA, Spratt KF, et al. Health and function of patients with untreated idiopathic scoliosis: a 50-year natural history study. JAMA. 2003 Feb 5;289(5):559-67.
https://jama.ama-assn.org/cgi/content/full/289/5/559
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12578488?tool=bestpractice.com
[77]Mayo NE, Goldberg MS, Poitras B, et al. The Ste-Justine Adolescent Idiopathic Scoliosis Cohort Study. Part III: back pain. Spine. 1994 Jul 15;19(14):1573-81.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7939993?tool=bestpractice.com
[80]Ascani E, Bartolozzi P, Logroscino CA, et al. Natural history of untreated idiopathic scoliosis after skeletal maturity. Spine. 1986 Oct;11(8):784-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3810293?tool=bestpractice.com
As complicações cirúrgicas da EIA são menos comuns que as experimentadas com tratamento cirúrgico de adultos com deformidade na coluna vertebral. A incidência de cada complicação é variável, dependendo de muitos fatores do paciente (magnitude e rigidez da curva, presença de comorbidades), bem como de fatores associados à técnica cirúrgica selecionada (abordagem anterior, abordagem posterior, combinação de abordagem anterior e superior, tipo de próteses selecionadas, técnica de enxerto ósseo). Talvez a medida mais importante a se considerar seja a possibilidade de uma determinada complicação resultar em necessidade de intervenção cirúrgica futura. Isso é de extrema importância para os pacientes e seus familiares. Em geral, as taxas de necessidade de nova operação relatadas na literatura variam de 3% a 4% até 14%. As razões mais comumente relatadas para uma nova operação incluem necessidade de toracoplastia (remodelação cirúrgica do hemitórax proeminente para melhorar o resultado cosmético), extensão de fusão para incluir segmento caudal ou craniano (devido ao desenvolvimento de deformidade juncional sintomática ou descompensação coronal/sagital), falha em próteses (quebra de haste) e pseudoartrose sintomática. A incidência individual de cada complicação varia amplamente na literatura.
Calculadora de risco
Um modelo de prognóstico validado em EIA não tratada foi desenvolvido usando a escala de maturidade esquelética.[86]Dolan LA, Weinstein SL, Abel MF, et al. Bracing in Adolescent Idiopathic Scoliosis Trial (BrAIST): development and validation of a prognostic model in untreated adolescent idiopathic scoliosis using the simplified skeletal maturity system. Spine Deform. 2019 Nov;7(6):890-8.e4.
https://www.doi.org/10.1016/j.jspd.2019.01.011
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31731999?tool=bestpractice.com
Este modelo usa medições de vistas coronais da coluna vertebral e a escala de maturidade esquelética de radiografias de mão de rotina para determinar o risco de uma curva de EIA não tratada atingir um limiar cirúrgico. Ele serve como uma ferramenta a ser usada por médicos e familiares em um processo compartilhado de tomada de decisão ao determinar a necessidade de tratamento.