Etiologia

O divertículo de Meckel é uma anormalidade congênita de causa desconhecida. Ela é decorrente de uma obliteração incompleta do ducto onfalomesentérico (vitelino). No embrião de 3 semanas, o saco vitelino se comunica com o intestino por meio de um grande ducto vitelino, que recebe seu suprimento de sangue das artérias vitelinas pareadas. Durante a 8ª semana, o ducto é normalmente obliterado quando a placenta substitui o saco vitelino como fonte da nutrição fetal. A artéria vitelina esquerda geralmente involui e a direita forma a artéria mesentérica superior.[13] A falha na obliteração do ducto vitelino pode causar um espectro de anormalidades, sendo a mais comum a formação de divertículo de Meckel. Trata-se de um divertículo verdadeiro, que contém todas as camadas da parede intestinal normal.

Fisiopatologia

Muitos indivíduos com divertículo de Meckel permanecem assintomáticos por toda a vida; estudos sugerem que o risco vitalício de divertículo de Meckel sintomático é de 4.2% a 9.0%.[1][7][8] As complicações sintomáticas muitas vezes surgem de tecido ectópico dentro do divertículo ou de bandas residuais que conectam o ápice do divertículo à parede abdominal. Aproximadamente 40% a 60% dos divertículos de Meckel contêm mucosa heterotópica e, na maioria dos casos, têm origem gástrica (a maioria dos divertículos de Meckel com material heterotópico não gástrico contém tecido pancreático).[1][3][13]

As causas mais comuns de divertículo de Meckel sintomático são obstrução intestinal, hemorragia gastrointestinal e inflamação do divertículo de Meckel, com ou sem perfuração.[1]

O sangramento ocorre em 30% a 40% dos pacientes sintomáticos tanto em grupos de pacientes pediátricos quanto em grupos de adultos.[3][14][15] Até 90% dos divertículos com sangramento contêm mucosa gástrica heterotópica que secreta ácido, resultando em ulceração da mucosa ileal adjacente ao divertículo.[13] A Helicobacter pylori não mostrou infectar a mucosa gástrica heterotópica no divertículo de Meckel e, portanto, não se acredita que ela desempenhe nenhum papel no divertículo de Meckel sintomático.[16][17]

A obstrução intestinal por várias causas ocorre em quase metade das crianças sintomáticas e em mais de um terço dos adultos sintomáticos.[1][3][15] A obstrução pode ser causada por vários mecanismos:[13]

  • A banda onfalomesentérica, que é a mais frequente, age como um fulcro que pode ser envolvido pelo intestino delgado, causando uma variante do volvo do intestino médio

  • Encarceramento do intestino dentro de uma banda mesodiverticular

  • Intussuscepção que é causada quando o divertículo age como um ponto inicial de uma intussuscepção ileocólica ou íleo-ileal

  • Um divertículo encarcerado em uma hérnia da parede abdominal (conhecida como hérnia de Littre)

  • Estenoses causadas por inflamação crônica e recorrente.

Geralmente, a diverticulite de Meckel é mais observada em adultos que em crianças, e é responsável por 20% a 35% dos casos sintomáticos em adultos.[18]​​[19][Figure caption and citation for the preceding image starts]: Divertículo de Meckel inflamadoDo acervo do Dr. Ali Tavakkoli; usado com permissão [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@3010e593 Ela é clinicamente indistinguível da apendicite, com dor periumbilical que irradia para o quadrante inferior direito.[3] Há relatos de divertículo de Meckel com localizações abdominais atípicas em virtude de sua natureza móvel ou "flutuante".[5] Em geral, um divertículo de Meckel é menos propenso à inflamação que o apêndice, pois os divertículos, em sua maioria, têm uma base larga e, portanto, há menor probabilidade de serem obstruídos. A obstrução diverticular pode causar inflamação, necrose e perfuração distais, resultando em abscesso, peritonite ou, raramente, hemoperitônio.[6]

O divertículo de Meckel também pode ser uma área de alto risco para neoplasia maligna ileal.[20] Uma revisão retrospectiva de amostras de histologia de 373 pacientes constatou que 19 (5.1%) dos pacientes tinham evidências de neoplasia maligna; os tumores neuroendócrinos foram o tipo mais prevalente (63%).[21] Dos 15 pacientes com dados sobre metástases, 5 (33%) apresentaram metástase no momento do diagnóstico. Os autores sugeriram que, embora a neoplasia maligna no divertículo de Meckel seja rara, as consequências de um câncer não tratado com alto risco de metástase justificam a ressecção profilática do divertículo de Meckel incidental. São necessários estudos adicionais para validar essa teoria e identificar os mecanismos subjacentes a esse achado.

Classificação

Clínica

Não existe uma classificação formal, mas, geralmente, é classificado como:

  • Assintomática: achado incidental no exame de imagem ou como observação intraoperatória

  • Sintomática: pode se apresentar com sinais e sintomas de sangramento, obstrução, inflamação ou perfuração.

O uso deste conteúdo está sujeito ao nosso aviso legal