Abordagem
Um lactente com uma inclinação da cabeça nem sempre é óbvio, já que o controle da cabeça ocorre ao longo dos primeiros meses. Os cuidadores podem notar uma inclinação da cabeça ou tendência a olhar para um lado imediatamente após o nascimento, mas, em outros casos, a assimetria passa despercebida por alguns meses. Alternativamente, o médico de atenção primária pode ser o primeiro a notar uma inclinação ou preferência de rotação da cabeça no momento do exame de rotina da criança aos 2 meses de idade. Assimetrias cranianas, como achatamento de um occipício, podem estar presentes no nascimento ou podem não se desenvolver até os primeiros meses de vida. A educação precoce e o tratamento são fundamentais para prevenir novas deformidades.
História
A presença de uma inclinação da cabeça ou assimetria craniana deve levantar o questionamento imediato sobre a história do nascimento. Demonstrou-se maior incidência de torcicolo muscular congênito (TMC) em crianças que nasceram de partos complicados, como aqueles que necessitaram de fórceps ou parto cesáreo, posicionamento pélvico e nascimento de gêmeos (em especial, gêmeo A).
A posição para dormir, durante a alimentação e o uso de outros dispositivos de posicionamento (como cadeiras de balanço, transportadores de bebê, pisos interativos) durante o dia devem ser investigados. Essas questões são importantes para determinar se as assimetrias estão sendo perpetuadas. Por exemplo, quando o lactente é colocado com a mesma orientação no berço, o que resulta em mais estímulos de um lado, ou quando a alimentação ou o transporte é restrito a um lado, as assimetrias podem ser perpetuadas. É importante questionar sobre o tempo de posição pronada com supervisão durante o dia.
Os cuidadores devem ser questionados sobre quaisquer movimentos oculares anormais ou problemas de desenvolvimento, uma vez que eles podem indicar uma etiologia ocular ou neurológica, respectivamente.
Exame
A postura de repouso do lactente deve ser observada. Tipicamente, a cabeça do lactente está inclinada para o lado do músculo esternocleidomastoideo (ECM) encurtado e virada para o lado contralateral.
O médico deve passivamente virar e inclinar a cabeça nas duas direções. O ECM pode estar tenso e pode ou não haver uma massa palpável no músculo. Se uma massa estiver presente, ela geralmente só será detectável durante os primeiros meses de vida.
Pode-se observar o ombro ipsilateral elevado e o músculo trapézio superior associado pode estar tenso.
Os lactentes geralmente têm uma menor rotação ativa para o lado afetado, ao passo que crianças não afetadas apresentam 100° de rotação do pescoço bilateralmente.
O endireitamento da cabeça muitas vezes é mais difícil para o lado contralateral.
Se houver presença de plagiocefalia e assimetria craniofacial, os achados típicos serão:
Achatamento occipital contralateral
Protrusão frontal contralateral
Protrusão temporal ipsilateral
Achatamento zigomático ipsilateral
Deslocamento anterior da orelha contralateral
Deslocamento inferior da órbita ipsilateral.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Imagem do vértice de uma cabeça retratando achados típicos de plagiocefalia associados ao torcicolo muscular congênito. Observe a forma típica de paralelogramo decorrente das forças de compressão externas assimétricas e do crescimento associado. *Indica o lado do músculo esternocleidomastoideo encurtado e o torcicolo resultantePreparado pela Dra. Joyce L. Oleszek; usado com permissão [Citation ends].
Os movimentos oculares devem ser avaliados, e a hipertropia no lado contralateral deve ser investigada. A suspeita de um problema ocular pelo exame físico ou pela anamnese requer encaminhamento para um oftalmologista.
Um exame neurológico completo deve ser realizado com todos os pontos positivos investigados detalhadamente para descartar as etiologias não musculares e encaminhar para um neurologista, se apropriado.
Os quadris devem ser avaliados quanto a cliques ou assimetria na amplitude de movimentos para descartar displasia do desenvolvimento do quadril (DDQ). Uma associação clara foi observada entre DDQ e TMC. É possível que mesmo um examinador experiente não detecte DDQ apenas com exame físico; por isso, recomenda-se exame de imagem.[22] Se forem encontradas anormalidades, deverá ser feito o encaminhamento para um ortopedista.
Exames por imagem
É indicada uma radiografia da coluna cervical em todos os lactentes com suspeita de TMC para descartar uma anomalia vertebral.
Uma ultrassonografia do quadril deverá ser obtida em crianças com idade inferior a 6 meses e uma radiografia pélvica anteroposterior realizada em crianças com mais de 6 meses para descartar displasia do quadril se o exame físico revelar cliques no quadril, assimetria da amplitude de movimentos do quadril ou dobras da pele assimétricas. Em um estudo, o valor preditivo positivo dos exames físicos para a displasia do quadril foi de 52.6%.[23] A concomitância relatada de TMC com displasia do quadril varia entre 2% e 20%.[16][24][25][26]
Uma radiografia do crânio seria indicada para excluir craniossinostose se fosse observada plagiocefalia, mas as características são atípicas daquelas observadas no TMC.
Se o torcicolo estiver associado a sintomas neurológicos ou ocorrer de forma intermitente com sintomas neurológicos, uma ressonância nuclear magnética (RNM) craniana/da coluna cervical será indicada para excluir um tumor na fossa posterior ou medula espinhal.
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