A prioridade inicial quando uma criança se apresenta- com febre aguda é avaliar o risco de uma doença grave que requeira o início de tratamento urgente. A abordagem ABCDE é usada como avaliação inicial na criança com doença aguda.[11]Advanced Life Support Group. Advanced paediatric life support: a practical approach to emergencies (APLS). 6th ed. Oxford, Wiley-Blackwell; 2016.
A diretriz do National Institute for Health and Care Excellence (NICE) sobre febre em menores de 5 anos de idade recomenda a utilização de um sistema de semáforo para ajudar no reconhecimento do risco de doença grave em crianças pequenas com febre.[12]National Institute for Health and Care Excellence. Fever in under 5s: assessment and initial management. Nov 2021 [internet publication].
https://www.nice.org.uk/guidance/ng143
Várias outras ferramentas, como escores pediátricos de aviso precoce, são usadas para monitorar qualquer deterioração na condição.[13]Royal College of Paediatrics and Child Health. Safe system framework for children at risk of deterioration. Oct 2022 [internet publication].
https://www.rcpch.ac.uk/resources/safe-system-framework-children-risk-deterioration
Essas ferramentas usam a avaliação de uma variedade de fatores, como frequência cardíaca, frequência respiratória, resposta a estímulos sociais e tempo de enchimento capilar, para avaliar a probabilidade de uma doença grave que requeira tratamento urgente.
Suspeita de sepse
A sepse é um espectro de doença na qual existe uma resposta sistêmica e desregulada do hospedeiro a uma infecção.[14]Singer M, Deutschman CS, Seymour CW, et al. The third international consensus definitions for sepsis and septic shock (Sepsis-3). JAMA. 2016 Feb 23;315(8):801-10.
https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2492881
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26903338?tool=bestpractice.com
A apresentação varia desde sintomas sutis e inespecíficos (por exemplo, indisposição com temperatura normal) a sintomas graves com evidências de disfunção de múltiplos órgãos e choque séptico. Os pacientes podem apresentar sinais de taquicardia, taquipneia, hipotensão, febre ou hipotermia, enchimento capilar lentificado, pele manchada ou pálida, cianose, estado mental recém-alterado, débito urinário reduzido.[15]National Institute for Health and Care Excellence. Sepsis: recognition, diagnosis and early management. Mar 2024 [internet publication].
https://www.nice.org.uk/guidance/ng51
A sepse e o choque séptico são emergências médicas.
Os fatores de risco para sepse incluem: idade abaixo de 1 ano, idade acima de 75 anos, fragilidade, imunidade prejudicada (devido a doença ou medicamentos), cirurgia ou outros procedimentos invasivos recentes, qualquer violação da integridade da pele (por exemplo, cortes, queimaduras), uso indevido de drogas intravenosas, acessos venosos ou cateteres, e gestação ou gestação recente.[15]National Institute for Health and Care Excellence. Sepsis: recognition, diagnosis and early management. Mar 2024 [internet publication].
https://www.nice.org.uk/guidance/ng51
O reconhecimento precoce da sepse é essencial porque o tratamento precoce melhora os desfechos.[15]National Institute for Health and Care Excellence. Sepsis: recognition, diagnosis and early management. Mar 2024 [internet publication].
https://www.nice.org.uk/guidance/ng51
[16]Weiss SL, Peters MJ, Alhazzani W, et al. Surviving sepsis campaign international guidelines for the management of septic shock and sepsis-associated organ dysfunction in children. Intensive Care Med. 2020 Feb;46(suppl 1):10-67.
https://link.springer.com/article/10.1007/s00134-019-05878-6
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32030529?tool=bestpractice.com
[Evidência C]9cd320ac-186d-4f1d-b885-2fe2f9b6a899guidelineCQuais são os efeitos do início precoce versus tardio do tratamento antimicrobiano empírico em crianças com sepse ou sepse grave ou risco de evoluir para sepse ou sepse grave?[15]National Institute for Health and Care Excellence. Sepsis: recognition, diagnosis and early management. Mar 2024 [internet publication].
https://www.nice.org.uk/guidance/ng51
Contudo, a detecção pode ser desafiadora porque o quadro clínico da sepse pode ser sutil e inespecífico. Portanto, é importante um limiar baixo para se suspeitar de sepse. A chave para o reconhecimento precoce é a identificação sistemática de qualquer paciente que tenha sinais ou sintomas sugestivos de infecção e esteja em risco de deterioração devida a disfunção orgânica. Foram desenvolvidos critérios para identificar sepse e choque séptico em crianças e jovens menores de 18 anos.[17]Daugaard JJ, Jensen JJ, Jacobsen CJ. [The importance of an empty pleural cavity in the treatment of pleural effusion]. [in dan]. Ugeskr Laeger. 1987 Jan 19;149(4):221-2.[18]Schlapbach LJ, Watson RS, Sorce LR, et al. International consensus criteria for pediatric sepsis and septic shock. JAMA. 2024 Feb 27;331(8):665-74.
https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2814297
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38245889?tool=bestpractice.com
Existem várias outras abordagens para a estratificação do risco. Todas são embasadas em uma avaliação clínica estruturada e no registro dos sinais vitais do paciente.[15]National Institute for Health and Care Excellence. Sepsis: recognition, diagnosis and early management. Mar 2024 [internet publication].
https://www.nice.org.uk/guidance/ng51
[17]Daugaard JJ, Jensen JJ, Jacobsen CJ. [The importance of an empty pleural cavity in the treatment of pleural effusion]. [in dan]. Ugeskr Laeger. 1987 Jan 19;149(4):221-2.[19]Royal College of Physicians. National Early Warning Score (NEWS) 2. Dec 2017 [internet publication].
https://www.rcplondon.ac.uk/projects/outputs/national-early-warning-score-news-2
[20]American College of Emergency Physicians (ACEP) Expert Panel on Sepsis. DART: an evidence-driven tool to guide the early recognition and treatment of sepsis and septic shock [internet publication].
https://poctools.acep.org/POCTool/Sepsis(DART)/276ed0a9-f24d-45f1-8d0c-e908a2758e5a
[21]Academy of Medical Royal Colleges. Statement on the initial antimicrobial treatment of sepsis. Oct 2022 [internet publication].
https://www.aomrc.org.uk/publication-category/reports-and-guidance
É importante consultar as orientações locais para obter informações sobre a abordagem recomendada pela sua instituição. A cronologia das investigações e tratamentos deve ser orientada por essa avaliação inicial.[21]Academy of Medical Royal Colleges. Statement on the initial antimicrobial treatment of sepsis. Oct 2022 [internet publication].
https://www.aomrc.org.uk/publication-category/reports-and-guidance
A Surviving Sepsis Campaign produziu diretrizes de tratamento que constituem ainda hoje o padrão mais amplamente aceito.[16]Weiss SL, Peters MJ, Alhazzani W, et al. Surviving sepsis campaign international guidelines for the management of septic shock and sepsis-associated organ dysfunction in children. Intensive Care Med. 2020 Feb;46(suppl 1):10-67.
https://link.springer.com/article/10.1007/s00134-019-05878-6
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32030529?tool=bestpractice.com
Na primeira hora:[16]Weiss SL, Peters MJ, Alhazzani W, et al. Surviving sepsis campaign international guidelines for the management of septic shock and sepsis-associated organ dysfunction in children. Intensive Care Med. 2020 Feb;46(suppl 1):10-67.
https://link.springer.com/article/10.1007/s00134-019-05878-6
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32030529?tool=bestpractice.com
Siga os protocolos institucionais para o manejo da sepse/choque séptico em crianças; eles melhoram a velocidade e a confiabilidade da assistência.
Obtenha hemoculturas antes de administrar antibióticos (desde que isso não protele substancialmente a administração dos antibióticos).
Administre antibióticos de amplo espectro.
Administre cristaloides, ajustados pelos sinais clínicos de débito cardíaco e interrompidos se houver evidências de sobrecarga de volume. Consulte os protocolos locais.
Use as tendências dos níveis séricos de lactato para orientar a ressuscitação. Se a hipotensão da criança for refratária à ressuscitação fluídica, considere o uso de vasopressores.[16]Weiss SL, Peters MJ, Alhazzani W, et al. Surviving sepsis campaign international guidelines for the management of septic shock and sepsis-associated organ dysfunction in children. Intensive Care Med. 2020 Feb;46(suppl 1):10-67.
https://link.springer.com/article/10.1007/s00134-019-05878-6
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32030529?tool=bestpractice.com
Para obter mais detalhes sobre a sepse em crianças, incluindo o diagnóstico e o tratamento de emergência, consulte Sepse em crianças.
Diagnóstico diferencial que requer tratamento urgente específico
A lista de diagnósticos diferenciais em crianças com febre é extensa. Enquanto um diagnóstico específico geralmente pode ser feito com o uso de exames auxiliares, ocasionalmente o tratamento deve ser iniciado antes do estabelecimento do diagnóstico definitivo. Isso é especialmente verdade para crianças com aspecto toxemiado ou aparência doente.
Nas crianças, como a causa mais frequente de febre é infecciosa, pode ser necessário administrar antibioticoterapia de amplo espectro (por exemplo, cefalosporinas de terceira geração, como ceftriaxona), idealmente depois de se obterem culturas de sangue, urina e LCR nas crianças com suspeita de infecção bacteriana. Os antibióticos só devem ser prescritos para as crianças com aparência doente ou aquelas com suspeita clínica de doença bacteriana grave.
Além disso, com base na avaliação clínica do médico e nos resultados de exames auxiliares, pode haver suspeita de um diagnóstico específico. Para alguns desses diagnósticos, também deve ser iniciado tratamento específico urgente:
Pneumonia: oxigênio suplementar
Artrite séptica: drenagem da articulação
Abscessos hepáticos/cerebrais: drenagem
Meningite: antibióticos com ou sem corticosteroides
Síndromes do choque tóxico: remoção do material infeccioso
Tuberculose pulmonar: isolamento respiratório
Dengue hemorrágica ou síndrome do choque da dengue: terapia de reposição de fluidos
Doença de Kawasaki: aspirina e imunoglobulina intravenosa (risco de aneurismas de artéria coronária)
Leucemia: hidratação, terapia de indução, correção de anormalidades eletrolíticas, transfusão de hemoderivado (risco de trombose, síndrome da lise tumoral, sangramento)
Tempestade tireoidiana: betabloqueador, medicamentos antitireoidianos, compostos de iodo, glicocorticoides, tratamento do evento precipitante
Síndrome serotoninérgica: sedação, cuidados de suporte (especialmente controle da hipertermia)
Transtorno factício imposto a outro (anteriormente conhecido como síndrome de Munchausen por procuração): remoção do cuidador causador
Escarlatina: o tratamento imediato das crianças com antibióticos é recomendado para reduzir o risco de possíveis complicações, incluindo estreptococos do grupo A invasivo, e para limitar transmissões subsequentes. Em países como o Reino Unido, onde os testes rápidos para detecção de antígenos (RADTs) para escarlatina não estão prontamente disponíveis, a confirmação do teste de infecção por estreptococos do grupo A não é necessária antes de se iniciarem antibióticos nos pacientes com um diagnóstico clínico de escarlatina.[22]UK Health Security Agency. Scarlet fever: managing outbreaks in schools and nurseries. Apr 2023 [internet publication].
https://www.gov.uk/government/publications/scarlet-fever-managing-outbreaks-in-schools-and-nurseries
Nos países onde os RADTs para escarlatina estão disponíveis, um resultado positivo no teste pode ser necessário antes de se iniciar o tratamento com antibióticos (os pacientes com sintomas virais claros não precisam de testes para bactérias estreptocócicas do grupo A).[23]US Centers for Disease Control and Prevention. Clinical guidance for group A streptococcal pharyngitis. Mar 2024 [internet publication].
https://www.cdc.gov/group-a-strep/hcp/clinical-guidance/strep-throat.html
Se houver incerteza sobre o diagnóstico, obtenha um swab faríngeo antes de iniciar os antibióticos.[23]US Centers for Disease Control and Prevention. Clinical guidance for group A streptococcal pharyngitis. Mar 2024 [internet publication].
https://www.cdc.gov/group-a-strep/hcp/clinical-guidance/strep-throat.html
[24]UK Health Security Agency (UKHSA). Group A streptococcal infections: activity during the 2022 to 2023 season. Jun 2023 [internet publication].
https://www.gov.uk/government/publications/group-a-streptococcal-infections-activity-during-the-2022-to-2023-season
[25]Shulman ST, Bisno AL, Clegg HW, et al. Clinical practice guideline for the diagnosis and management of group A streptococcal pharyngitis: 2012 update by the Infectious Diseases Society of America. Clin Infect Dis. 2012 Nov 15;55(10):e86-102.
https://academic.oup.com/cid/article/55/10/e86/321183
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22965026?tool=bestpractice.com
[26]Gerber MA, Baltimore RS, Eaton CB, et al. Prevention of rheumatic fever and diagnosis and treatment of acute Streptococcal pharyngitis: a scientific statement from the American Heart Association Rheumatic Fever, Endocarditis, and Kawasaki Disease Committee of the Council on Cardiovascular Disease in the Young, the Interdisciplinary Council on Functional Genomics and Translational Biology, and the Interdisciplinary Council on Quality of Care and Outcomes Research: endorsed by the American Academy of Pediatrics. Circulation. 2009 Mar 24;119(11):1541-51.
https://www.ahajournals.org/doi/10.1161/CIRCULATIONAHA.109.191959?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%20%200pubmed
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19246689?tool=bestpractice.com
[27]Centers for Disease Control and Prevention. Clinical guidance for scarlet fever. Mar 2024 [internet publication].
https://www.cdc.gov/group-a-strep/hcp/clinical-guidance/scarlet-fever.html
O tratamento da escarlatina com antibióticos com base apenas no diagnóstico clínico deve seguir as diretrizes clínicas internas do país. De acordo com a Agência de Vigilância Sanitária do Reino Unido, as notificações de escarlatina e doença invasiva por estreptococos do grupo A (iGAS) na Inglaterra foram superiores ao esperado entre setembro de 2022 e fevereiro de 2023, com o pico observado em dezembro de 2022.[24]UK Health Security Agency (UKHSA). Group A streptococcal infections: activity during the 2022 to 2023 season. Jun 2023 [internet publication].
https://www.gov.uk/government/publications/group-a-streptococcal-infections-activity-during-the-2022-to-2023-season
[28]UK Health Security Agency. UKHSA update on scarlet fever and invasive group A strep. May 2023 [internet publication].
https://www.gov.uk/government/news/ukhsa-update-on-scarlet-fever-and-invasive-group-a-strep-1
As notificações diminuíram significativamente desde então e agora estão em linha com o número esperado para a época do ano.[24]UK Health Security Agency (UKHSA). Group A streptococcal infections: activity during the 2022 to 2023 season. Jun 2023 [internet publication].
https://www.gov.uk/government/publications/group-a-streptococcal-infections-activity-during-the-2022-to-2023-season
Outros países que registaram um aumento da incidência de escarlatina e doença por iGAS durante este período incluem França, Irlanda, Países Baixos e Suécia. O aumento foi particularmente acentuado durante o segundo semestre de 2022.[29]World Health Organization. Increased incidence of scarlet fever and invasive Group A Streptococcus infection - multi-country. Dec 2022 [internet publication].
https://www.who.int/emergencies/disease-outbreak-news/item/2022-DON429
Doença do coronavírus 2019 (COVID-19)
Embora mais de 90% das crianças sejam assintomáticas ou apresentem uma doença leve, doença moderada a grave foi relatada em crianças.[30]Liu W, Zhang Q, Chen J, et al. Detection of COVID-19 in children in early January 2020 in Wuhan, China. N Engl J Med. 2020 Apr 2;382(14):1370-1.
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMc2003717
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32163697?tool=bestpractice.com
É importante observar que as crianças podem ter sinais de pneumonia ao exame de imagem do tórax, apesar de apresentarem sintomas mínimos ou inexistentes.[31]Xia W, Shao J, Guo Y, et al. Clinical and CT features in pediatric patients with COVID-19 infection: different points from adults. Pediatr Pulmonol. 2020 May;55(5):1169-74.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7168071
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32134205?tool=bestpractice.com
É comum a coinfecção com outros vírus respiratórios.
Os pacientes com suspeita de infecção por COVID-19 devem ficar isolados de outros pacientes. Devem ser implementadas precauções relativas ao contato e a gotículas até que o paciente esteja assintomático. Siga as diretrizes locais de prevenção e controle de infecções.[32]World Health Organization. Clinical management of COVID-19: living guideline. Aug 2023 [internet publication].
https://www.who.int/publications/i/item/WHO-2019-nCoV-clinical-2023.2
Consulte Doença do coronavírus 2019 (COVID-19).