Prevenção primária

Há diversos fatores que podem ser modificados na prevenção primária da síndrome da morte súbita infantil (SMSI).[3][7]

Evitar exposição pré-natal e pós-parto à fumaça de cigarro

  • Dados sugerem que o tabagismo aumenta o risco de SMSI por meio de mecanismos centrais e pulmonares.[98][99][100][101]​ A exposição à fumaça de cigarro pode representar até 25% das mortes por SMSI e, dada a prevalência relativamente alta de tabagismo na gestação e na população em geral, a redução da exposição à fumaça de cigarro continua sendo um dos principais fatores de risco modificáveis para redução da SMSI.[79][102][103]

  • Os pais devem evitar o tabagismo durante a gestação e após o parto.

  • Os clínicos gerais podem dar orientações sobre programas de abandono do hábito de fumar durante a gestação e para cuidadores pós-parto.

Posição supina para dormir

  • Colocar o lactente para dormir na posição de bruços, mesmo que apenas uma vez, aumenta o risco de SMSI.[47][48][53]

  • Os riscos de dormir na posição de bruços ou de lado são semelhantes (razão de chances de 2.6 e 2.0, respectivamente).[47]

  • A posição supina também reduz o risco de SMSI, comparada à posição de lado.[39][47]

  • Produtos para dormir inclinado, nos quais o lactente fica em uma inclinação de >10 graus não são seguros para o sono infantil. O bebê inclinado tem maior probabilidade de rolar para o lado ou para a posição prona. Quando isso ocorre, o bebê tem alto risco de fadiga muscular e sufocamento.[51]

  • A implementação de programas que visam orientar os cuidadores de lactentes, tanto em unidades de saúde quanto em casa, a colocar os lactentes na posição supina, comparada à posição de bruços, levou a uma redução significativa na incidência de mortes de lactentes em decorrência da SMSI.[39][47][104][105]

  • Estudos prospectivos debatem a crença de que a posição de bruços para dormir possa ser a preferida para lactentes com a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE).[106][107] Lactentes com a DRGE devem ser colocados para dormir em posição supina, a menos que haja uma associação com ausência de reflexos protetores das vias aéreas (ou seja, o risco de morte em decorrência da DRGE é maior que o risco da SMSI).[54]

Ambiente seguro para dormir

  • Pode ser criado para o lactente um ambiente seguro para dormir, usando para isso um colchão com lençóis bem ajustados e evitando excesso de roupas, sofás e poltronas, peles de animais, travesseiros e acolchoados.

  • A cabeça do lactente não deve ser coberta durante o sono.

  • O compartilhamento de leito durante o sono também deve ser evitado. Ele aumenta o risco de SMSI, sobretudo para lactentes com <3 meses de idade, para os que compartilham o leito com pai ou mãe que fuma ou que tenha consumido bebidas alcoólicas ou drogas (maconha, opioides e drogas ilícitas); para os que dividem o espaço em uma superfície com travesseiros e/ou cobertores; e para aqueles cujos cuidadores dormem juntos em um sofá em vez de uma cama.[64][65][66][68][108][109]​ No entanto, os pais devem ser incentivados a dormir no mesmo quarto que o lactente, mas com o bebê colocado em um berço/moisés separado.[9][64][66]

Uso de chupeta durante o sono

  • Pode-se considerar incentivar o uso rotineiro de chupeta nas horas de sono. Estudos de casos-controle demonstraram que o uso de chupeta durante o sono reduz o risco de SMSI (razão de chances 0.4).[84][85][86][87]​ Uma revisão Cochrane não encontrou nenhum ensaio clínico randomizado e controlado que apoie essas recomendações.[14]No entanto, ensaios clínicos randomizados e controlados sobre SMSI não são realizados por considerações éticas; portanto, estudos de caso-controle são as melhores evidências disponíveis.

  • Uma chupeta pode ser oferecida aos lactentes depois que o aleitamento materno tiver sido estabelecido, o que, geralmente, leva 2-3 semanas.[3]​ Não há impacto na duração do aleitamento materno se a chupeta for oferecida depois que o aleitamento materno tiver sido estabelecido.[88]

  • Bebês que não são alimentados diretamente no seio podem começar a usar chupeta a qualquer momento após o parto.

  • O mecanismo por trás do aparente efeito preventivo das chupetas não é claro. Os lactentes que morrem em razão da SMSI parecem ter dificuldade para despertar apropriadamente, e, dessa forma, a proteção proporcionada pela chupeta pode estar associada a limiares mais baixos para o despertar, o que tem sido reportado em lactentes que dormem com chupeta.[110]

  • As possíveis associações adversas com o uso rotineiro de chupeta incluem aumento do risco de infecção, especificamente otite média e má oclusão dentária. No entanto, o início do risco de otite média ocorre com 2 a 3 anos de idade, o que não se correlaciona com a idade de pico de incidência da SMSI (1-3 meses). Problemas dentais tendem a remitir quando o uso de chupeta é encerrado.[111]

Imunização

  • Não há relação causal entre as imunizações e a SMSI. De fato, elas proporcionam um efeito protetor (razão de chances 0.5) contra a SMSI.[97] Além disso, a imunização também reduz a probabilidade de contrair doenças reconhecidamente associadas a morte súbita (por exemplo, coqueluche ou vírus sincicial respiratório, que podem se manifestar com apneia isolada em um lactente, afora isso, assintomático) que podem mimetizar a SMSI.

Alimentação

  • O aleitamento materno deve ser incentivado nos primeiros 6 meses de vida (razão de chances 0.5 a 0.6).[3]​​[82][112]​​​​​​[113][114]

  • O aleitamento materno é protetor em qualquer quantidade, observando-se mais proteção com aleitamento materno exclusivo.[82][83]

Ao usar a lista acima para orientar mães e pais no que diz respeito a fatores de risco de SMSI, é importante lembrar que muitos desses fatores podem coexistir em determinada residência ou para determinado lactente. Em cada consulta durante a primeira infância, é preciso fornecer e reforçar recomendações que abordem todos os fatores de risco modificáveis. As intervenções de saúde via dispositivos móveis, como textos, e-mails e vídeos educacionais, demostraram capacidade para aumentar a adesão às práticas se sono seguro em lactentes, em comparação com as intervenções-controle.[115]

Prevenção secundária

Os pais que consideram a hipótese de outra gravidez são tranquilizados e informados de que a probabilidade de ocorrer outro evento de SMSI é extremamente baixa. Pode-se dar considerar mais ênfase na redução de fatores de risco modificáveis, se houver, SIDS: safe to sleep campaign Opens in new window embora isso deva ser balanceado com o potencial de aumentar a culpa pela morte inicial caso esses fatores de risco já estivessem presentes. Deve-se oferecer aos pais exames para detectar distúrbios metabólicos e genéticos que podem mimetizar a SMSI.

Embora os pais possam procurar formas de prevenir a ocorrência de um evento de SMSI nas crianças subsequentes, não há evidências de que o monitoramento domiciliar da apneia reduza o risco de SMSI. Portanto, o monitoramento domiciliar da apneia não deve ser oferecido rotineiramente.[123][124]

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