Etiologia

A icterícia fisiológica pode resultar de:

  • Aumento da carga de bilirrubina devido ao aumento do volume de eritrócitos, à diminuição da meia-vida eritrocitária ou ao aumento da circulação entero-hepática

  • Diminuição da captação pelo fígado por causa da diminuição de ligandinas ou ligação de ligandinas a outros ânions

  • Diminuição da conjugação no fígado decorrente da atividade reduzida da uridina difosfato glucuronosiltransferase (UDPGT). Observou-se que os polimorfismos do gene UGT1A1 do promotor Gly71Arg e TATA, que diminuem a atividade enzimática da UDPGT, são fatores de risco significativos associados à hiperbilirrubinemia neonatal[11]

  • Redução da excreção na bile.

A icterícia patológica com hiperbilirrubinemia não conjugada pode resultar de:

  • Anemias hemolíticas: resultam em aumento da destruição dos eritrócitos, com decorrente aumento de heme, que é convertido em bilirrubina não conjugada em excesso; o fígado imaturo não é capaz de lidar com o excesso de carga. Elas podem ser decorrentes da incompatibilidade de grupos sanguíneos (fator Rhesus, sistema ABO), defeitos da enzima eritrocitária (deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase; deficiência de piruvato quinase), defeitos da membrana eritrocitária (por exemplo, esferocitose hereditária, picnocitose infantil), talassemia, anemia induzida por medicamento (por vitamina K, sulfonamidas, nitrofurantoína, antimaláricos, penicilina) ou sepse

  • Extravasamento de sangue: o sequestro de sangue nas cavidades aumenta a carga de bilirrubina. Os exemplos incluem céfalo-hematoma; hemorragia intracraniana, pulmonar ou gastrointestinal; hemangiomas grandes; equimoses em excesso; ou petéquias

  • Policitemia: um número maior de eritrócitos causa o aumento da produção de bilirrubina

  • Aumento da circulação entero-hepática: o trânsito gastrointestinal retardado aumenta os níveis de bilirrubina. Os exemplos incluem atresia/estenose intestinal, estenose pilórica, doença de Hirschsprung, íleo meconial/síndrome de aspiração de mecônio

  • Conjugação defeituosa: as deficiências congênitas da enzima UDPGT incluem a síndrome de Crigler-Najjar; a inibição da enzima UDPGT pode resultar de medicamentos (por exemplo, novobiocina) ou da síndrome de Lucey-Driscoll

  • Condições metabólicas (galactosemia, hipotireoidismo, tirosinemia, hipermetioninemia, diabetes materno)

  • Aleitamento materno: a "hiperbilirrubinemia com ingestão abaixo do ideal" associada a ingestão inadequada de leite materno normalmente alcança o pico entre o 3o e o 5o dia após o nascimento e, muitas vezes, está associada a perda de peso excessiva. A redução na frequência de defecação causa aumento da circulação entero-hepática da bilirrubina. A "icterícia do leite materno" ou a "síndrome ictérica do leite materno", por outro lado, persiste por até 3 meses apesar de uma ingestão adequada de leite materno e de um ganho de peso ideal.[9]

  • Diminuição da ligação da bilirrubina à albumina: maior disponibilidade de bilirrubina livre (não conjugada) para atravessar a barreira hematoencefálica. Isso pode ser causado por medicamentos (sulfonamidas, penicilina, gentamicina), acidose, asfixia, hipotermia, aumento da osmolalidade ou hipoglicemia.

A icterícia patológica com hiperbilirrubinemia conjugada (bilirrubina direta >34.2 micromoles/L (2.0 mg/dL)) pode resultar de:

  • Doença hepatocelular:

    • Defeitos metabólicos ou genéticos. Os exemplos incluem deficiência de alfa 1-antitripsina, fibrose cística, síndrome de Zellweger, síndrome de Dubin-Johnson (ausência de proteína 2 associada à resistência a múltiplos medicamentos da membrana canalicular dos hepatócitos), síndrome de Rotor (os polipeptídeos transportadores de ânion orgânico [OATP]1B1 e OATP1B3 estão ausentes na membrana sinusoidal dos hepatócitos) e galactosemia

    • Infecções. Os exemplos incluem rubéola, citomegalovírus, herpes, sífilis, hepatite A e B, toxoplasmose e infecção do trato urinário por Escherichia coli

    • nutrição parenteral total[12]

    • Hemocromatose neonatal

    • Hepatite neonatal idiopática

    • Choque.

  • Doença biliar intra-hepática devido à síndrome de Alagille (displasia artério-hepática) ou síndrome da bile espessa

  • Doença biliar extra-hepática devido à atresia das vias biliares, cisto de colédoco, estenose do ducto biliar, colelitíase.

Fisiopatologia

A bilirrubina é o produto final do catabolismo de heme, que é derivado principalmente da hemoglobina. A quebra da hemoglobina dos eritrócitos resulta na produção de heme (75% da origem de bilirrubina). O heme também pode ser derivado (25% da origem de bilirrubina) da quebra de outras proteínas como mioglobina, citocromos e óxido nítrico sintases. No sistema reticuloendotelial, o heme é catabolizado novamente pela heme oxigenase (etapa limitante da produção de bilirrubina) em biliverdina. Ela é sintetizada pela biliverdina redutase para formar a bilirrubina. Em seguida, a bilirrubina é ligada à albumina sérica no plasma e transportada para o fígado. A bilirrubina se dissocia da albumina e, com a ajuda de proteínas transportadoras como as ligandinas, é levada até os hepatócitos. A bilirrubina é então conjugada pela enzima uridina difosfato glucuronosiltransferase nos hepatócitos. O glicuronídeo de bilirrubina chega aos intestinos pela vesícula biliar e pelo ducto colédoco. Nos intestinos do neonato, a maior parte de glicuronídeo de bilirrubina é desconjugada pela beta-glucuronidase. Parte dessa bilirrubina não conjugada é reabsorvida e entra na circulação entero-hepática. O restante da bilirrubina conjugada chega ao cólon, onde é rompido pelas bactérias e se transforma em urobilinogênio, que é excretado. Quando esse processo normal de formação e excreção de bilirrubina é afetado, ocorre hiperbilirrubinemia.[13]

[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Via metabólica da bilirrubina com patologias relacionadas à hiperbilirrubinemia não conjugada. 1. Incompatibilidade de ABO, incompatibilidade de Rhesus, menor tempo de vida eritrocitário em neonatos, hematomas durante o parto; 2. indução por mediadores inflamatórios associados a comorbidades da prematuridade (por exemplo, síndrome do desconforto respiratório, infecção); 3. dissociação aumentada por acidose, cetose, insuficiência renal; 4. barreira hematoencefálica permeável em neonatos nascidos a termo e bebês prematuros; 5. mutação no gene UGT1A1 resulta na síndrome de Gilbert ou síndrome de Crigler-Najjar I e II; 6. carga de bilirrubina não conjugada aumentada pela diminuição da motilidade intestinalCriado pelo BMJ Knowledge Centre [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@3c0e3765

[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Detalhe do lóbulo hepático e suas funções, destacando patologias que causam hiperbilirrubinemia conjugada. As patologias incluem: 1. trombose da veia porta; 2. cisto de colédoco; 3. infecção (sepse, infecção do trato urinário por E coli, hepatite A ou B, toxoplasmose, citomegalovírus, sífilis, herpes), metabólica (síndrome de Rotor, galactosemia, tirosinemia, deficiência de alfa 1-antitripsina, hipotireoidismo, fibrose cística, síndrome de Zellweger), medicamentos, hepatite neonatal idiopática, nutrição parenteral total, hemocromatose neonatal, choque/hipoxia/isquemia; 4. escassez de ductos biliares, atresia das vias biliares, síndrome de Alagille, colestase neonatal idiopática, colestase intra-hepática progressiva familiar, síndrome da bile espessada; 5. mutações no gene MRP2 (também conhecido como ABCC2) na membrana canalicular dos hepatócitos resultam em síndrome de Dubin-Johnson, ausência de OATP1B1 e OATP1B3 na membrana sinusoidal dos hepatócitos resultam em síndrome de RotorCriado pelo BMJ Knowledge Centre [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@1fb135b0

Classificação

Icterícia fisiológica

A icterícia fisiológica geralmente é observada no 2º dia pós-parto, com picos nos dias 3 a 5. Depois, ela diminui. Os níveis de bilirrubina sérica até 205.2 micromoles/L (12 mg/dL) são considerados fisiológicos nos neonatos nascidos a termo.

Icterícia patológica

Toda icterícia nas primeiras 24 horas de vida é considerada patológica. Os níveis de bilirrubina que ultrapassam o percentil 95, conforme definido por um nomograma, são patológicos.[1]

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