O diagnóstico de síndrome das pernas inquietas (SPI) é realizado, principalmente, clinicamente. Os testes de rotina incluem a medição dos níveis de ferritina para excluir a deficiência de ferro.
Geralmente, o diagnóstico pode ser realizado apenas com base na história. Os seguintes aspectos da história dão suporte ao diagnóstico:
Os sintomas são noturnos
A necessidade de se movimentar ou os sintomas de disestesia são piores em repouso ou durante a inatividade
Os sintomas são aliviados, mesmo que momentaneamente, com o movimento
Os membros inferiores são mais comumente afetados; porém, nos casos mais graves, o tronco ou os membros superiores também podem estar envolvidos.[1]Allen RP, Picchietti DL, Garcia-Borreguero D, et al; International Restless Legs Syndrome Study Group. Restless legs syndrome/Willis-Ekbom disease diagnostic criteria: updated International Restless Legs Syndrome Study Group (IRLSSG) consensus criteria - history, rationale, description, and significance. Sleep Med. 2014 Aug;15(8):860-73.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25023924?tool=bestpractice.com
[22]Allen RP, Earley CJ. Restless legs syndrome: a review of clinical and pathophysiologic features. J Clin Neurophysiol. 2001 Mar;18(2):128-47.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11435804?tool=bestpractice.com
O principal sintoma do distúrbio é a necessidade de movimentar as pernas. Os sintomas que acompanham essa necessidade geralmente são descritos como disestesias. Eles são mal caracterizados, mas podem ser descritos como sensações de rastejamento, engatinhamento, formigamento, cãibras ou dores nos membros.[1]Allen RP, Picchietti DL, Garcia-Borreguero D, et al; International Restless Legs Syndrome Study Group. Restless legs syndrome/Willis-Ekbom disease diagnostic criteria: updated International Restless Legs Syndrome Study Group (IRLSSG) consensus criteria - history, rationale, description, and significance. Sleep Med. 2014 Aug;15(8):860-73.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25023924?tool=bestpractice.com
[22]Allen RP, Earley CJ. Restless legs syndrome: a review of clinical and pathophysiologic features. J Clin Neurophysiol. 2001 Mar;18(2):128-47.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11435804?tool=bestpractice.com
Em virtude do ritmo circadiano dos sintomas da SPI, a necessidade de se mover e as disestesias podem causar insônia, que pode causar aumento de sonolência e cansaço, os quais, por sua vez, aumentam os sintomas da SPI.
Os fatores notáveis na história do paciente incluem a gravidez, a presença de condições que predispõem à deficiência de ferro, história familiar e sexo feminino.[1]Allen RP, Picchietti DL, Garcia-Borreguero D, et al; International Restless Legs Syndrome Study Group. Restless legs syndrome/Willis-Ekbom disease diagnostic criteria: updated International Restless Legs Syndrome Study Group (IRLSSG) consensus criteria - history, rationale, description, and significance. Sleep Med. 2014 Aug;15(8):860-73.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25023924?tool=bestpractice.com
[6]Ohayon MM, O'Hara R, Vitiello MV. Epidemiology of restless legs syndrome: a synthesis of the literature. Sleep Med Rev. 2012 Aug;16(4):283-95.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3204316
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21795081?tool=bestpractice.com
É necessário perguntar ao paciente sobre o consumo de bebidas alcoólicas e cafeína, porque a minimização dessas substâncias pode melhorar os sintomas nos casos leves.[23]Silber MH, Buchfuhrer MJ, Earley CJ, et al. The management of restless legs syndrome: an updated algorithm. Mayo Clin Proc. 2021 Jul;96(7):1921-37.
https://www.mayoclinicproceedings.org/article/S0025-6196(20)31489-0/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34218864?tool=bestpractice.com
Os medicamentos em uso devem ser revisados. Os medicamentos que podem causar ou agravar a SPI incluem os antidepressivos (exceto a bupropiona), anti-histamínicos sedativos, agentes neurolépticos e antieméticos bloqueadores da dopamina, como a metoclopramida.[23]Silber MH, Buchfuhrer MJ, Earley CJ, et al. The management of restless legs syndrome: an updated algorithm. Mayo Clin Proc. 2021 Jul;96(7):1921-37.
https://www.mayoclinicproceedings.org/article/S0025-6196(20)31489-0/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34218864?tool=bestpractice.com
SPI primária
A SPI primária ocorre, muitas vezes, em um padrão familiar com forte penetrância; acredita-se também que siga uma herança autossômica dominante em muitas famílias.[4]Bonati MT, Ferini-Strambi L, Aridon P, et al. Autosomal dominant restless legs syndrome maps on chromosome 14q. Brain. 2003 Jun;126(pt 6):1485-92.
https://academic.oup.com/brain/article/126/6/1485/330593
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12764067?tool=bestpractice.com
No entanto, estudos de ligação e de genoma sugerem um padrão mais complexo. Vários loci de genes diferentes foram associados à SPI, mas nenhuma mutação genética específica foi identificada.[5]Picchietti DL, Van Den Eeden SK, Inoue Y, et al. Achievements, challenges, and future perspectives of epidemiologic research in restless legs syndrome (RLS). Sleep Med. 2017 Mar;31:3-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27567163?tool=bestpractice.com
Os pacientes com SPI familiar apresentam um início mais precoce da doença em comparação com aqueles com SPI esporádica.[6]Ohayon MM, O'Hara R, Vitiello MV. Epidemiology of restless legs syndrome: a synthesis of the literature. Sleep Med Rev. 2012 Aug;16(4):283-95.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3204316
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21795081?tool=bestpractice.com
SPI secundária
A SPI secundária pode ocorrer em decorrência de deficiência de ferro, gestação e uremia na insuficiência renal (geralmente em pacientes que fazem hemodiálise). Ela pode remitir após a resolução desses estados. Certos medicamentos também demonstraram causar ou agravar os sintomas da SPI, incluindo antidepressivos (exceto bupropiona), anti-histamínicos sedativos, agentes neurolépticos e antieméticos bloqueadores da dopamina, como a metoclopramida.[23]Silber MH, Buchfuhrer MJ, Earley CJ, et al. The management of restless legs syndrome: an updated algorithm. Mayo Clin Proc. 2021 Jul;96(7):1921-37.
https://www.mayoclinicproceedings.org/article/S0025-6196(20)31489-0/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34218864?tool=bestpractice.com
Se houver preocupação quanto a insuficiência de ferro, seja por perda de ferro (por exemplo, devido a sangramento oculto) ou diluição de ferro (como na gravidez), ela deve ser rastreada com os exames laboratoriais apropriados. Muitos pacientes anêmicos não desenvolvem SPI, e a maioria dos pacientes com SPI não apresenta níveis baixos de ferritina.
Se for detectada deficiência de ferro, deve haver avaliação adicional de acordo com a causa secundária suspeitada.
A SPI tem uma alta prevalência nos pacientes com doença renal em estágio terminal (DRET) e é referida como SPI urêmica nesses pacientes. Demonstrou-se que ela afeta aproximadamente 30% da população com DRET.[16]Giannaki CD, Hadjigeorgiou GM, Karatzaferi C, et al. Epidemiology, impact, and treatment options of restless legs syndrome in end-stage renal disease patients: an evidence-based review. Kidney Int. 2014 Jun;85(6):1275-82.
https://www.kidney-international.org/article/S0085-2538(15)56352-7/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24107848?tool=bestpractice.com
Os mecanismos patogênicos precisos são desconhecidos, mas a disfunção da dopamina e os estoques reduzidos de ferro no cérebro foram implicados, como na SPI primária. Os pacientes que necessitam de hemodiálise são particularmente difíceis de manejar, pois é necessário repouso prolongado durante a sessão de diálise; essa inatividade é um dos principais desencadeadores da SPI e aproximadamente 20% dos pacientes em hemodiálise relatam uma interrupção prematura do tratamento dialítico devido à presença de sintomas da SPI.[16]Giannaki CD, Hadjigeorgiou GM, Karatzaferi C, et al. Epidemiology, impact, and treatment options of restless legs syndrome in end-stage renal disease patients: an evidence-based review. Kidney Int. 2014 Jun;85(6):1275-82.
https://www.kidney-international.org/article/S0085-2538(15)56352-7/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24107848?tool=bestpractice.com
Os medicamentos que podem causar ou agravar os sintomas das pernas inquietas são:[23]Silber MH, Buchfuhrer MJ, Earley CJ, et al. The management of restless legs syndrome: an updated algorithm. Mayo Clin Proc. 2021 Jul;96(7):1921-37.
https://www.mayoclinicproceedings.org/article/S0025-6196(20)31489-0/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34218864?tool=bestpractice.com
Antidepressivos como tricíclicos e inibidores seletivos de recaptação de serotonina (a bupropiona é uma exceção e não foi demonstrado que aumente os sintomas da SPI)
Anti-histamínicos sedativos (incluindo aqueles encontrados em medicamentos de venda livre)
Antieméticos bloqueadores da dopamina, como a metoclopramida
Neurolépticos.
Exames laboratoriais
A SPI é um diagnóstico clínico baseado em critérios publicados pelo International Restless Legs Syndrome Study Group (IRLSSG).[1]Allen RP, Picchietti DL, Garcia-Borreguero D, et al; International Restless Legs Syndrome Study Group. Restless legs syndrome/Willis-Ekbom disease diagnostic criteria: updated International Restless Legs Syndrome Study Group (IRLSSG) consensus criteria - history, rationale, description, and significance. Sleep Med. 2014 Aug;15(8):860-73.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25023924?tool=bestpractice.com
Diretrizes recomendam que o ststus do ferro seja avaliado em todos os pacientes, mesmo na ausência de fatores típicos associados à deficiência de ferro, como menorragia, sangramento gastrointestinal ou doações frequentes de sangue.[23]Silber MH, Buchfuhrer MJ, Earley CJ, et al. The management of restless legs syndrome: an updated algorithm. Mayo Clin Proc. 2021 Jul;96(7):1921-37.
https://www.mayoclinicproceedings.org/article/S0025-6196(20)31489-0/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34218864?tool=bestpractice.com
[26]Garcia-Borreguero D, Silber MH, Winkelman JW, et al. Guidelines for the first-line treatment of restless legs syndrome/Willis-Ekbom disease, prevention and treatment of dopaminergic augmentation: a combined task force of the IRLSSG, EURLSSG, and the RLS-foundation. Sleep Med. 2016 May;21:1-11.
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1389945716000563
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27448465?tool=bestpractice.com
Uma avaliação completa de ferro deve incluir ferro sérico, ferritina, capacidade total de ligação do ferro e porcentagem de saturação de transferrina, e deve ser medida no início da manhã após um jejum noturno.[23]Silber MH, Buchfuhrer MJ, Earley CJ, et al. The management of restless legs syndrome: an updated algorithm. Mayo Clin Proc. 2021 Jul;96(7):1921-37.
https://www.mayoclinicproceedings.org/article/S0025-6196(20)31489-0/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34218864?tool=bestpractice.com
[27]Allen RP, Picchietti DL, Auerbach M, et al. Evidence-based and consensus clinical practice guidelines for the iron treatment of restless legs syndrome/Willis-Ekbom disease in adults and children: an IRLSSG task force report. Sleep Med. 2018 Jan;41:27-44.
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1389945717315599
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29425576?tool=bestpractice.com
A investigação adicional para a deficiência de ferro deve seguir as diretrizes.