Etiologia

A ELA é, em grande parte, uma doença esporádica sem uma causa clara. No entanto, há uma causa genética autossômica dominante em 10% dos indivíduos com ELA. Em 90% dos pacientes sem uma causa monogênica, um único fator não pode ser identificado. Foi apresentada uma hipótese gene-tempo-ambiente, que sugere que a suscetibilidade genética, o dano celular relacionado à idade e a carga da exposição ambiental podem se combinar para desencadear a ELA.[1]

Fisiopatologia

A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é um distúrbio neurodegenerativo, caracterizado pela perda progressiva de neurônios motores corticais (frontotemporais), bulbares (ponte, medula) e da região ventral da medula. Após a morte da célula motora, ocorre a degeneração axonal retrógrada, com subsequentes denervação e reinervação dos músculos correspondentes.

Embora o mecanismo da doença seja desconhecido, diversas teorias sobre a fisiopatologia foram propostas.

  • Toxicidade pelo glutamato. Níveis extracelulares excessivos de glutamato (neurotransmissor excitatório) resultam em um aumento da entrada de cálcio nas células neuronais, causando disfunção celular (disfunção mitocondrial e estresse oxidativo) e, por fim, a morte da célula. Isso pode ocorrer devido a atividade defeituosa das proteínas de transporte de glutamato na glia, com defeitos pós-translacionais no ácido ribonucleico mensageiro (RNAm) dessas proteínas sendo relatados. O medicamento antiglutaminérgico riluzol melhora a sobrevida nos pacientes com esclerose lateral amiotrófica (ELA), apoiando haver um papel da neurotoxicidade pelo glutamato.[15][16]

  • Dobra incorreta da proteína. A agregação de proteínas de tipo selvagem e mutantes é uma característica patológica universal tanto na ELA esporádica quanto na familiar.[17] As proteínas agregadas podem resultar em patologia tanto por ganho de função devida a toxicidade direta ou em patologia por perda de função por meio de agregados que sequestram as proteínas normais e impedem a função normal. Por exemplo, a agregação das proteínas de ligação a DNA e RNA TDP-43 e FUS a inclusões compromete sua função normal, causando alterações na transcrição e no processamento do RNA.[17]

  • Estresse oxidativo. Radicais de superóxido, oxigênio e peróxido de hidrogênio podem induzir danos neuronais e, por fim, a morte celular por meio da ativação da via apoptótica ou por danificação das mitocôndrias neuronais. As mitocôndrias danificadas também agravam o estresse oxidativo.[18]

  • Inflamação. Há componentes inflamatórios no mecanismo fisiopatológico da ELA. No entanto, a história em torno da inflamação é complicada, pois alguns componentes da inflamação são tóxicos na ELA, e outros componentes são protetores.[17]

  • Disfunção mitocondrial. O comprometimento mitocondrial pode causar degeneração neuronal e, por fim, morte por meio de vários mecanismos, incluindo estresse oxidativo, excitotoxicidade mediada por cálcio e ativação da morte celular programada/apoptose. As anormalidades mitocondriais são bem documentadas em pacientes tanto com ELA esporádica quanto familiar.[19]

  • Interrupção do transporte axonal. Pode resultar do acúmulo de inclusões nos neurofilamentos com a desaceleração subsequente do transporte pelos neurofilamentos e do complexo dineína-dinactina deficiente, com disfunção do transporte axonal retrógrado. A deficiência do transporte axonal parece ter relação com o início e com a progressão da doença.[20]

  • DNA e metabolismo do RNA. Uma das principais características patológicas da maioria dos casos de ELA é a presença de agregados de TDP-43 (proteína de ligação TAR-DNA 43). A TDP-43 é conhecida por ter várias funções na transcrição, no splicing pré-RNAm (ácido ribonucleico mensageiro) e no controle da translação. O achado de que outros genes da ELA também estão envolvidos na regulação do RNA (por exemplo, C9orf72 e FUS) enfatiza a importância da biologia do RNA para entender a fisiopatologia da ELA.[21]​ Em células normais, a TDP-43 se move para frente e para trás entre o núcleo e o citoplasma. A perda da TDP-43 nuclear induz o acúmulo de quebras de DNA de fita dupla, o que pode comprometer a estabilidade do genoma. Além disso, agregados de TDP-43, FUS mutante e expansões repetidas no gene C9orf72 afetam o transporte de carga entre o núcleo e o citoplasma, o que pode afetar de maneira negativa a função celular.[17]

Classificação

A doença do neurônio motor (DNM) pode ser primária (neurodegenerativa) ou secundária (relacionada a uma causa não neurodegenerativa). As doenças do neurônio motor primárias podem ser classificadas por fenótipo, sítio de início e genética. Os pacientes devem ser avaliados para se determinar se apresentam:

  • Apenas sinais de neurônio motor superior (NMS), apenas sinais de neurônio motor inferior (NMI), ou ambos

  • Apenas sinais motores, ou também sinais não motores, como alterações comportamentais ou cognitivas

  • Início bulbar, início nos membros ou início respiratório (definido pela localização do primeiro sintoma)

  • DNM hereditária ou DNM esporádica

Doenças do neurônio motor primárias

Esclerose lateral amiotrófica (ELA)[1]

  • A forma mais comum da doença do neurônio motor (DNM); o nome normalmente é usado como sinônimo do termo DNM.

  • Representa uma combinação de achados do NMS e NMI. Os achados típicos do NMS incluem perda de movimentos coordenados, espasticidade, espasmos musculares e hiper-reflexia. Os sintomas e sinais do neurônio motor inferior (NMI) são fraqueza com atrofia e fasciculações.

  • A ELA tem uma evolução progressiva e persistente com uma sobrevida mediana de 3-5 anos.

Esclerose lateral primária (ELP)[1][2][3]

  • Um distúrbio isolado do NMS, caracterizado por fraqueza progressiva com espasticidade generalizada que afeta a fala, os membros superiores e os membros inferiores.

  • Os pacientes podem acabar desenvolvendo características do NMI avaliadas clínica ou neurofisiologicamente, de modo que a doença evolui para "ELA com predominância de sintomas do NMS", mas isso é raro após 4 anos a partir do diagnóstico.

  • Geralmente, a sobrevida é de mais de 10 anos, se não houver conversão para ELA.

Atrofia muscular progressiva[2]

  • Um distúrbio isolado do NMI, caracterizado por fraqueza progressiva, atrofia e fasciculações.

  • Alguns pacientes desenvolvem sintomas e sinais do NMS posteriormente durante a evolução da doença, que se transforma em "ELA com predominância de sintomas do NMI".

Paralisia bulbar progressiva

  • DNM que permanece isolada ao segmento bulbar.

  • A maioria dos pacientes com apenas envolvimento bulbar inicialmente evoluirá para o comprometimento de membros, convertendo-se em "ELA de início bulbar".

  • Uma minoria dos pacientes permanecerá como tendo paralisia bulbar progressiva.

Esclerose lateral amiotrófica com demência frontotemporal

  • Manifesta-se como uma combinação de sintomas e sinais sugestivos de ELA e demência frontotemporal.

  • Os deficits cognitivos podem afetar linguagem, função executiva, personalidade e comportamento. Essas características podem preceder ou seguir os sintomas de ELA.

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