Abordagem
A deficiência de zinco pode se manifestar de muitas formas e deve ser considerada em pessoas que apresentam doenças de risco. Além da erupção cutânea grave da acrodermatite enteropática observada na deficiência de zinco profunda, as manifestações da doença são diversas e inespecíficas. O diagnóstico pode ser especialmente indefinido porque os sintomas podem se sobrepor às várias condições que predispõem à deficiência de zinco. Por esse motivo, é essencial que o índice de suspeita seja elevado.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Acrodermatite enteropática observada na deficiência de zinco graveAdaptada de Maverakis E, Lynch PJ, Fazel N. Acrodermatitis enteropathica. Dermatol Online J. 2007;13:11; usada com permissão [Citation ends].[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Acrodermatite enteropática na face, observada na deficiência de zinco graveAdaptada de Maverakis E, Lynch PJ, Fazel N. Acrodermatitis enteropathica. Dermatol Online J. 2007;13:11; usada com permissão [Citation ends].
Avaliação clínica
A deficiência de zinco adquirida pode ser decorrente de pouca ingestão de nutrientes, consumo de alimentos ou medicamentos que reduzem a absorção de zinco, doença crônica ou qualquer combinação desses fatores. Os sintomas são bastante diversos, e a suspeita clínica do distúrbio deve ser elevada em pessoas com risco. A deficiência de zinco adquirida pode ser observada em muitos grupos de pacientes. Isso inclui pacientes com síndrome de má absorção, doença hepática e gastrointestinal crônica, doença renal, doença falciforme, anorexia nervosa e infecção por HIV; pacientes em tratamento crônico com determinados medicamentos (hidroclorotiazida, penicilamina, etambutol, determinados antibióticos); e pacientes >65 anos.[1][2][3][4][6][7][8][9][10][11][12][13] A deficiência de zinco pode contribuir para muitos dos problemas associados ao envelhecimento, entre eles, susceptibilidade a infecções e osteoporose.[14][15] A pica (consumo de argila) é comum entre as crianças de algumas comunidades. A argila liga-se com eficiência ao zinco, causando uma redução drástica da biodisponibilidade.
São outros fatores de risco transtornos decorrentes do uso de bebidas alcoólicas, vegetarianismo ou veganismo e viver em regiões em desenvolvimento.[5][31]
O baixo consumo de carne ou a alta ingestão de fitato/oxalato pode contribuir para a deficiência de zinco. Fitatos e oxalatos são encontrados em muitos cereais e vegetais, entre eles, soja, farelo de trigo, cereais integrais, espinafre, frutas silvestres, chocolate e chá. Essa situação se complica ainda mais com a tendência de dietas de baixo consumo de carne terem alto índice de vegetais fibrosos que se ligam ao zinco, limitando ainda mais a absorção do nutriente.
O zinco é um importante micronutriente para o crescimento e o desenvolvimento, para a função imunológica, o paladar, o olfato, a cicatrização de feridas, a síntese da proteína e a manutenção da pele e do cabelo. Algumas características clínicas afetadas pela deficiência de zinco são:
Crescimento e desenvolvimento: comprometimento do crescimento, hipogonadismo, osteopenia (aumento do risco de fratura óssea), perda de peso
Neurológica: tremor de intenção, depressão, falta de concentração, nistagmo, disartria, cegueira noturna, hipogeusia, anosmia, demência
Dermatológica: alopecia, dermatite, paroníquia, estomatite
Gastrointestinal: anorexia, dor abdominal, diarreia, glossite
Outras: fadiga, atraso na cicatrização de feridas, febre, pica, aumento de infecções, blefarite, intolerância à glicose, infertilidade/desfechos adversos da gestação, distúrbios do paladar.
Os sintomas podem se sobrepor às várias condições que predispõem à deficiência de zinco. Devido a essa apresentação inespecífica da deficiência de zinco, pode ser clinicamente difícil diferenciá-la do hipotireoidismo e da depressão; outras deficiências de nutrientes que podem coexistir com casos de deficiência de zinco, entre elas, de ferro, vitaminas D, A, B12 e folato, também podem ser difíceis de diferenciar. É necessário considerar e testar corretamente essas deficiências.
A acrodermatite enteropática é uma manifestação da deficiência de zinco grave, geralmente causada por uma doença autossômica recessiva em decorrência da absorção deficiente. Geralmente, esse distúrbio se apresenta na primeira infância com formação de crostas, dermatite vesicular, diarreia, comprometimento do crescimento e infecções. No entanto, em casos raros, a acrodermatite enteropática também pode ocorrer em adultos com deficiência nutricional grave.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Acrodermatite enteropática observada na deficiência de zinco graveAdaptada de Maverakis E, Lynch PJ, Fazel N. Acrodermatitis enteropathica. Dermatol Online J. 2007;13:11; usada com permissão [Citation ends].[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Acrodermatite enteropática na face, observada na deficiência de zinco graveAdaptada de Maverakis E, Lynch PJ, Fazel N. Acrodermatitis enteropathica. Dermatol Online J. 2007;13:11; usada com permissão [Citation ends].
Exames laboratoriais
Se houver suspeita de deficiência de zinco, é necessário realizar um exame de zinco sérico ou plasmático. Os níveis de zinco sérico ou plasmático são usados com frequência e são os únicos exames disponíveis na prática clínica de rotina. Os dados sugerem que um nível de <9.2 micromoles/L (60 microgramas/dL) ou <10.7 micromoles/L (70 microgramas/dL) é anormal em adultos não gestantes.[48] Devido à sensibilidade relativamente baixa dos níveis de zinco sérico na deficiência marginal, será necessário considerar a suplementação oral caso os sintomas sejam típicos, mesmo se os resultados dos exames forem normais.
Em geral, outras deficiências de nutrientes coexistem com a deficiência de zinco. É necessário testar as deficiências de ferro, das vitaminas D e B12 e de folato. Deficiências de outras vitaminas lipossolúveis são relativamente raras e difíceis de medir, e portanto, não são testadas com frequência.
Nos casos em que a deficiência de zinco é decorrente de fatores alimentares, não é necessária avaliação adicional. Será necessário realizar uma avaliação de doença gastrointestinal oculta, como doença celíaca ou doença de Crohn, se for encontrada deficiência de zinco em um indivíduo que não apresente fatores de risco conhecidos.
O teor de zinco celular é um novo exame.
como 95% do zinco é intracelular, os níveis do nutriente vêm sendo avaliados em uma variedade de populações de células (eritrócitos, plaquetas, leucócitos) em contextos de pesquisa. Embora os níveis de zinco celular flutuem menos que os séricos, esses testes são tecnicamente mais difíceis que os exames baseados em soro ou plasma e a sua superioridade não foi claramente demonstrada.[49]
O diagnóstico de acrodermatite enteropática é feito inicialmente pelo reconhecimento do quadro clínico típico, juntamente com níveis baixos de zinco plasmático ou sérico. A patologia das lesões cutâneas não é patognomônica e, geralmente, revela uma dermatite psoriasiforme. É possível realizar um teste genético para mutações no gene ZIP4, mas ele não é padrão nem está disponível em todos os locais.
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