Etiologia

A maioria das comunicações interatriais ocorre esporadicamente sem uma história familiar de defeitos cardíacos congênitos. Foram relatados traços familiares, causados por mutações nos fatores de transcrição NKX2.5 e TBX5, bem como na proteína estrutural MYH6.[16][17][18]​ Associações com síndromes genéticas (por exemplo, trissomia do cromossomo 21, síndrome de Holt-Oram, síndrome de Noonan) estão bem documentadas. As meninas têm maior probabilidade que os meninos de desenvolverem comunicações interatriais. O consumo materno de bebidas alcoólicas aumenta o risco de desenvolver uma série de doenças cardíacas congênitas, inclusive comunicações interatriais.[19]

Fisiopatologia

O fluxo sanguíneo interatrial é mantido ao longo da embriogênese cardíaca enquanto duas estruturas septais diferentes se formam. O primeiro septo a se desenvolver é o septum primum. A morte celular programada no aspecto anterossuperior do septum primum resulta em um ostium secundum. O septum secundum então se desenvolve à direita do septum primum como um desdobramento da parede do átrio, formando o limbo da fossa oval.[20] O septum secundum cobre o ostium secundum, o que resulta em um mecanismo de valva que permite apenas o shunt direita-esquerda. O septum primum forma o assoalho da fossa oval. Uma anormalidade durante o desenvolvimento dessas estruturas pode resultar em comunicação interatrial.

Os defeitos do septo atrial (DSAs) do secundum se desenvolvem em decorrência de um desequilíbrio entre o septum secundum e o ostium secundum. Os defeitos do ostium primum são defeitos do coxim endocárdico que impedem a fusão adequada com o septum primum. Os defeitos do seio venoso superior foram atribuídos à persistência de pontes venovenosas sistêmico-pulmonares fetais.[21]​ Estão associados com uma drenagem venosa pulmonar anômala das veias pulmonares superiores direitas. Os defeitos do tipo seio venoso inferior podem se desenvolver entre a veia cava inferior e o átrio direito.

A direção do fluxo sanguíneo através do defeito está relacionada à complacência relativa entre os ventrículos. Na primeira infância o ventrículo direito é relativamente espesso e não complacente; portanto, a extensão do shunt esquerda-direita é mínima. Entretanto, à medida que a resistência vascular pulmonar diminui, o ventrículo direito se torna mais complacente, aumentando o shunt esquerda-direita. Com a idade, o shunt esquerda-direita é exacerbado pelo aumento da rigidez do ventrículo esquerdo associada à idade e à hipertensão sistêmica.

O átrio direito, o ventrículo direito e as artérias pulmonares podem se dilatar devido à maior carga de volume. As valvas tricúspide e pulmonar podem se tornar incompetentes devido à dilatação dos anéis das valvas. Independentemente do aumento da carga de volume, as pressões arteriais pulmonares são, em geral, apenas ligeiramente elevadas. No entanto, a sobrecarga de volume crônica pode causar o ingurgitamento das artérias, capilares e veias pulmonares. Alguns pacientes desenvolvem hipertrofia medial das artérias pulmonares e doença vascular pulmonar obstrutiva. Os pacientes se tornam cianóticos caso o shunt seja revertido.

Classificação

Classificação de acordo com a localização

As comunicações interatriais são classificadas de acordo com sua localização e a embriogênese proposta.[2]​ O verdadeiro septo atrial compreende a fossa oval e a borda muscular antero-inferior. Portanto, apenas DSAs do tipo secundum e vestibular estão localizadas no septo atrial verdadeiro. Defeitos do primum, defeitos do seio venoso e defeitos do tipo seio coronário sem teto foram historicamente classificados como DSAs devido ao shunt esquerda-direita que produzem. No entanto, eles são mais precisamente descritos como comunicações interatriais.

  • DSAs do tipo ostium secundum são encontrados na região da fossa oval.

  • Os defeitos do tipo ostium primum são encontrados anteriormente à fossa oval e superiormente às valvas atrioventriculares. Esses defeitos são um tipo de defeito do coxim endocárdico (similar ao defeito do septo atrioventricular completo) e estão associados com uma fenda no folheto anterior da valva atrioventricular esquerda. Morfologicamente, isso é melhor descrito como uma “zona de aposição” da valva atrioventricular esquerda do defeito do septo atrioventricular, e claramente diferente de uma fenda verdadeira no folheto anterior da valva mitral.[3][4]

  • Geralmente os defeitos do seio venoso ocorrem superiormente e posteriormente à fossa oval, com um limbo intacto separando o defeito da fossa. Eles estão associados com uma conexão anômala das veias pulmonares direitas, especialmente as veias pulmonares direitas superior e média. A veia cava (superior ou inferior) pode se sobrepor ao defeito, embora o defeito possa dificultar a interpretação da verdadeira associação a um lado ou ao outro.[5][6]

  • Os defeitos do tipo seio coronário sem teto são encontrados proximamente ao orifício do seio coronário e são associados a uma veia cava superior esquerda persistente que drena para o átrio esquerdo. Várias formas de defeitos do tipo sem teto foram descritas.

  • Os defeitos do tipo vestibular são encontrados na borda muscular antero-inferior da fossa oval.[7][Figure caption and citation for the preceding image starts]: Subtipos de comunicações interatriais. A: defeito do seio venoso; B: defeito do ostium secundum; C: defeito do ostium primum; D: defeito do tipo seio coronário sem tetoMayo Clinic Foundation [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@14386498

Classificação por tamanho

A medida de tamanho clinicamente mais útil é a magnitude do shunt produzido pela comunicação interatrial. Ela é comumente descrita como a razão do fluxo sanguíneo pulmonar para sistêmico (razão Qp:Qs). No entanto, os sintomas, sinais clínicos e evidências de dilatação cardíaca direita frequentemente orientam as decisões clínicas.

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