Abordagem
A cinetose pode ser aliviada por medidas comportamentais ou farmacológicas. A escolha do tratamento é determinada pelas características individuais do paciente (idade, necessidade de realizar tarefas exigentes durante o movimento, sensibilidade a medicamentos) e pela provável gravidade e duração do teste de desafio de movimento.
Para exposições curtas e moderadas a um movimento provocativo, como um cruzamento de balsa em mar moderado, os indivíduos suscetíveis podem ser aconselhados a sentar ou deitar o mais imóvel possível. Qualquer movimento necessário deve ser breve. Acesso a ar fresco e uma respiração lenta e profunda podem ajudar a controlar náuseas leves.[64]
Medicamentos são usados para tratar os sintomas durante experiências ocasionais de movimento provocativo.
Medicamentos profiláticos (por exemplo, prometazina) podem ser considerados para pessoas extremamente suscetíveis com a advertência de que um torpor prolongado pode ser um possível efeito adverso do medicamento.
Em casos raros de vômitos repetitivos, pode ser necessária uma injeção de hioscina com hidratação intravenosa, mesmo antes de um diagnóstico ser feito.
O tratamento comportamental, incluindo dessensibilização, exercícios ansiolíticos e terapia cognitivo-comportamental, como usado por aeronavegantes militares, é apropriado para tripulações de navios que são repetidamente expostas ao movimento provocativo.
Respiração e medidas comportamentais
A ansiedade intensifica a cinetose e é uma característica de muitos pacientes que têm vertigem visual e desconforto de deslocamento espacial. A respiração controlada, também usada rotineiramente como tática ansiolítica na fisioterapia e na psicoterapia, é útil no controle da cinetose.
Estudos que investigaram o valor do "controle da respiração" para melhorar a cinetose mostraram que concentrar-se na respiração regular e moderada é uma contramedida eficaz para testes de desafios de movimento moderados, com cerca de metade a dois terços da eficácia da hioscina, que é o padrão da indústria.[64][65][66][67] O controle da respiração pode ser difícil. Os pacientes devem ser aconselhados a tentar respirar de forma independente do movimento do veículo.[62] O controle da respiração pode ser praticado sempre que qualquer teste de desafio de movimento for previsto, podendo ser continuado ao longo do movimento ou até que pareça não haver desenvolvimento de sintomas.
Ar fresco e evitação de odores ou visões desagradáveis são úteis, especialmente se o paciente estiver viajando com fumantes ou crianças pequenas.
Pacientes com cinetose geralmente apresentam sintomas com mudanças nas posições da cabeça e do corpo, o que levanta a possibilidade de uma disfunção de nível mais alto na integração sensorial para orientação espacial e percepção corporal. Nesse contexto, atividades que podem melhorar a orientação espacial e a coordenação corporal (por exemplo, dançar) podem ser úteis como estratégia de tratamento para aliviar os sintomas em pacientes. Isso é apoiado pelo efeito do treinamento de longo prazo em disciplinas como balé e ioga.[68][69]
Farmacoterapia
Os medicamentos são usados no tratamento da cinetose em exposições ocasionais ao movimento, como um voo isolado de avião ou passeio de barco. Muitas formulações e tipos diferentes de medicamentos foram estudados e usados. Há uma considerável sobreposição de medicamentos recomendados para sintomas de tontura, vertigem, distúrbio vestibular e cinetose.[30] Adolescentes e adultos devem tomar esses medicamentos apenas se não forem operar máquinas ou se não precisarem estar em níveis máximos de eficiência. Eles não são indicados para exposições repetidas ao movimento, pois impedem o efeito vantajoso da habituação a movimentos provocativos repetitivos. Portanto, embora sejam úteis para exposições ocasionais, eles não são recomendados para uma exposição repetitiva/contínua, como passar as férias velejando. Entretanto, medicamentos também podem ser úteis se a habituação e outras terapias comportamentais não tiverem sido bem-sucedidas. Outros fatores que exacerbam a cinetose (por exemplo, enxaquecas) podem ser suspeitos se a habituação for ineficaz, de modo que o tratamento medicamentoso pode não ser fácil de definir. A eficácia teria que ser estabelecida individualmente para cada paciente.
Os medicamentos usados para a cinetose incluem antimuscarínicos (por exemplo, hioscina) e anti-histamínicos (por exemplo, dimenidrinato, difenidramina, meclozina).[9][70] As outras opções podem incluir a proclorperazina, a metoclopramida, os simpatomiméticos e os benzodiazepínicos.[9] Entre eles, a hioscina geralmente é aceita como o padrão da indústria.[71] Embora sua relativa eficácia raramente tenha sido colocada em comparação direta, uma grande experiência de sua eficácia foi obtida no ambiente militar, onde seus benefícios são amplamente aceitos.[72] Entretanto, todos os medicamentos usados para prevenir a cinetose têm eficácia apenas parcial.
Uma revisão Cochrane revelou que provavelmente há uma redução no risco de desenvolvimento de sintomas de cinetose em condições naturais de movimento ao se usarem anti-histamínicos de primeira geração (por exemplo, cinarizina e dimenidrinato) em adultos suscetíveis a cinetose, em comparação com o placebo. No entanto, a revisão revelou que os anti-histamínicos podem ter maior probabilidade de causar sedação quando comparados ao placebo e as evidências sugerem que os anti-histamínicos não são efetivos no tratamento da cinetose uma vez que esta já tenha se iniciado.[73]
Os anti-histamínicos são geralmente a escolha de primeira linha para crianças. No entanto, a sobressedação de crianças pequenas com anti-histamínicos pode ser fatal, e seu uso para a cinetose é considerado off-label. Algumas crianças podem apresentar agitação paradoxal com anti-histamínicos. A hioscina pode causar efeitos adversos perigosos em crianças e, portanto, não deve ser usada.[9]
Formulações orais e transdérmicas devem ser administradas antes de viajar para atingir níveis sanguíneos eficazes. A cinetose impede a absorção do medicamento em decorrência da estase gástrica.[74] A administração transdérmica de hioscina oferece a vantagem de fornecer proteção por até 72 horas, com baixos níveis de concentração constantes no sangue, consequentemente reduzindo os efeitos adversos. A duplicação da dosagem em indivíduos resistentes é segura e tem poucos efeitos adversos.[75] Há pouca interferência no desempenho, mas tempos de reação mais lentos foram observados, podendo afetar a realização de tarefas exigentes.[76] O tempo de início de ação lento da via transdérmica pode ser compensado pela administração simultânea de hioscina oral, permitindo proteção a partir de 30 minutos.[77]
Apesar dos efeitos adversos mínimos de algumas preparações, todos os medicamentos disponíveis para cinetose podem causar torpor e incapacidade de atingir altos níveis de concentração.
Muitos indivíduos apresentam cinetose durante testes de desafios de movimento intensos, como uma viagem em mar violento, e a medicação será o tratamento de primeira linha para indivíduos que não estão habituados ao movimento. A sedação com prometazina pode ser considerada para indivíduos afetados de modo mais intenso, mas isso é indicado apenas se não houver necessidade de um nível de funcionamento alto.
Reposição de fluidos
Em casos raros de vômitos repetitivos, pode ser necessário aplicar hidratação intravenosa.
Habituação e terapia cognitivo-comportamental
Habituação é o tratamento de primeira linha para pacientes que irão se submeter a experiências de movimento frequentes (por exemplo, em decorrência da profissão).[78] A habituação mais eficaz para cinetose é um esquema de exposições breves e repetidas ao movimento provocativo em um regime de dessensibilização. Isso pode ser realizado uma ou mais vezes por dia durante alguns dias, até que seja adquirida uma imunidade quase total.[8][9][65][79] Algum nível de dessensibilização pode ser obtido durante uma exposição ao movimento. A cinetose induzida por exposição ao tambor optocinético foi reduzida quando o tambor foi exposto em um regime de 3 vezes por semana, mas não ocorreu nenhuma habituação quando a exposição foi de apenas uma vez por semana.[80] O condicionamento benéfico e efeitos de dessensibilização de exposições breves ao treinamento optocinético em reduzir o enjoo pelo movimento do mar foram relatados em um estudo.[81] Outros aspectos da habituação incluem os seguintes.
O movimento deve ser interrompido em qualquer seção individual se o paciente em treinamento desenvolver sintomas significativamente negativos, particularmente cefaleia.[8]
A dessensibilização para um tipo de movimento não pode ser generalizada necessariamente para outros tipos. Por exemplo, um marinheiro experiente pode facilmente se sentir mal ao voar em uma aeronave leve com a qual não está acostumado.[82]
Os efeitos da dessensibilização são perdidos se a exposição à circunstância provocativa não for mantida.
O princípio simples a ser seguido é que a dessensibilização deve ser obtida por meio de exposições frequentes com tempo de duração aumentando lentamente, o que gradativamente constrói uma tolerância prolongada ao movimento.
Quando o movimento provoca sintomas múltiplos e debilitantes, a habituação deve ser realizada em um contexto de terapia cognitivo-comportamental e táticas ansiolíticas.[83] O tratamento de pessoas gravemente afetadas pela cinetose e que desenvolvem não apenas náuseas, mas também sintomas secundários que incluem cefaleia, desorientação e fadiga intensa, requer uma abordagem multidisciplinar sistemática, que poderia ser denominada "terapia de estilo de vida de dessensibilização cognitiva e ansiolítica". Vários elementos foram adotados a partir de estudos militares e de tratamentos desenvolvidos para pacientes com distúrbios vestibulares e enxaqueca induzida por estresse.[83]
Principais elementos do processo
Avaliação do paciente sobre todas as circunstâncias ambientais que provocam mal-estar, talvez com um foco especial nas náuseas e na cefaleia, e também sobre qualquer evento ou circunstância que ofereça melhora ou alívio. A avaliação deve ser explícita, talvez de maneira escrita ou desenhada como um "mapa" simbólico. O progresso pode ser monitorado a partir dessa avaliação.
Explicação do terapeuta sobre o histórico fisiopatológico da cinetose, ansiedade e estresse.
Dessensibilização sistemática e progressiva às circunstâncias provocativas. Isso será conduzido em intervalos frequentes, cada um envolvendo exposições curtas. A duração da exposição pode ser elevada se o paciente apresentar progresso. Em termos práticos, a dessensibilização pode ser atingida, por exemplo, por percursos rápidos e frequentes de carro antes de realizar uma viagem em rodovia.
Cada exposição será conduzida mediante completo controle cognitivo e verbal do paciente. O paciente saberá exatamente o que fazer, em quais circunstâncias deve parar e que táticas utilizar para reduzir o feedback negativo
Ansiedade e níveis leves de náuseas enfrentados durante a dessensibilização podem ser controlados por relaxamento postural, fazendo "intervalos de descanso" e controlando a respiração. Essas táticas podem ser auxiliadas por biofeedback.[78][84]
As circunstâncias sob as quais os percursos são realizados devem ser controladas nos aspectos possíveis. Por exemplo, se o sujeito apresentar cefaleia induzida por estresse, as atividades devem ser controladas a tempo antes da viagem, de modo que o paciente se sinta o melhor possível. Devem ser evitados alimentos que incluem álcool, o qual pode reduzir o limiar para náuseas no indivíduo. Fumantes são mais resistentes à cinetose quando estão privados de nicotina.
Circunstâncias que melhoram o mal-estar (de qualquer tipo) devem ser exploradas. Para alguns, pode ser uma atividade esportiva; para outros, pode ser relaxamento ou fazer uma caminhada agradável.
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