Prevenção primária

As tentativas para prevenir o íleo pós-operatório devem começar no período perioperatório, incluindo o manejo hídrico intraoperatório adequado e a evitação de analgesia com opioides. O programa Enhanced Recovery After Surgery (ERAS) é cada vez mais utilizado na tentativa de acelerar a recuperação da função intestinal e encurtar a duração da internação hospitalar.[26][27][28]​​​​​ Os pilares das vias ERAS incluem a cirurgia minimamente invasiva, evitar opioides, controle multimodal da dor, deambulação precoce e ingestão precoce de fluidos e sólidos por via oral.[3][26][29][30]

Em pacientes submetidos a cirurgias e que requeiram analgesia com opioides, a diminuição do uso de analgésicos opioides administrados sistemicamente ajuda a prevenir o íleo paralítico pós-operatório. As bombas de analgesia controladas pelo paciente também são benéficas, pois reduzem a quantidade total de opioide administrado em comparação com administração de analgésicos de forma intermitente durante o dia por um enfermeiro.​[31] Os adjuvantes úteis para o controle da dor incluem os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) como o cetorolaco, analgésicos e anestésicos locais administrados por via epidural.[3][26][32][33][34][35][36]​​​[37][38][39][40]​​​

As recomendações para a prevenção primária do íleo paralítico pós-operatório prolongado incluem:

  • Uso da laparoscopia em vez da laparotomia, utilizando técnicas cirúrgicas minimamente invasivas e com mínima manipulação intestinal[3][26][41][42][43]​​

  • Redução no uso rotineiro de sondas nasogástricas no período perioperatório ou remoção de sondas orogástricas ou nasogástricas imediatamente após a conclusão da cirurgia[26][30]

  • Restrição de fluidoterapia intravenosa (administração de líquidos guiada por metas)[26]

  • Manipulação delicada dos tecidos e minimização do sangramento intraoperatório[44]

  • Alimentação enteral precoce[26][45][46][47]

  • Deambulação no primeiro dia pós-operatório

  • Uso de AINEs e analgesia controlada pelo paciente[22][25][26][40]​​​​​[48][49]​​

  • Redução da administração parenteral de opioides por meio do uso de analgesia epidural[3][26][47]​​​​​[50][51]​​ A analgesia peridural (peridural torácica) e a analgesia regional (bloqueios do plano transverso do abdome [TAP]) são efetivas na redução da incidência de íleo paralítico pós-operatório e no fornecimento de uma melhor analgesia pós-operatória.[51]

  • Administração intravenosa de lidocaína durante e após a anestesia geral, o que pode reduzir as necessidades de opiáceos no pós-operatório, embora o efeito sobre a recuperação gastrointestinal permaneça incerto.[26][47][52][53]

As outras intervenções para prevenir ou reduzir o íleo paralítico pós-operatório incluem os antagonistas de receptores mu-opioides de ação periférica, goma de mascar, bisacodil, óxido de magnésio, daikenchuto e consumo de café, todos com algumas indicações para afetar um íleo paralítico estabelecido, embora não sejam recomendados de maneira rotineira.[3][26][30]​​[47][54]

  • ​O alvimopan é um antagonista do receptor mu-opioide altamente seletivo que pode reduzir a incidência do íleo paralítico pós-operatório.[54][55][56]​​​​ Ele é indicado para o uso hospitalar de curta duração (máximo de 15 doses) em adultos submetidos ou que serão submetidos a ressecção dos intestinos delgado ou grosso.[57]​ A função gastrointestinal retornou 15-22 horas antes, e a alta hospitalar ocorreu aproximadamente 16-20 horas antes nos pacientes que receberam alvimopan em comparação com os que receberam placebo.[30][55][58][59][60][61][62][63][64]​​​​[65]​​​​ A administração em curto prazo foi associada a eventos adversos mínimos. A maioria dos estudos publicados incluiu somente cirurgias abdominais por via aberta, e faltam dados sólidos a respeito dos benefícios do alvimopan nas cirurgias laparoscópicas. Um ensaio não randomizado mostrou que o alvimopan foi bem-sucedido para evitar o íleo paralítico pós-operatório após uma colectomia direita laparoscópica, mas são necessários ensaios prospectivos randomizados mais amplos antes que ele possa ser recomendado nas cirurgias laparoscópicas.[64]

  • Várias metanálises e ensaios randomizados e controlados mostraram uma diminuição da duração do íleo paralítico pós-operatório em pacientes que receberam goma de mascar após a cirurgia.[58][66][67][68][69][70][71][72][73][74]​ As evidências disponíveis sugerem que mascar goma de mascar no pós-operatório imediato após um parto cesáreo é bem tolerado e pode aumentar a recuperação precoce da função intestinal, embora a qualidade da evidência seja muito baixa.[26][30][74]

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