Complicações
Pode se manifestar como epistaxe recorrente, equimoses ou exsudação após cirurgia odontológica ou outros tratamentos cirúrgicos e é causada pelo comprometimento da função plaquetária. Foram observadas adesão plaquetária reduzida, agregação plaquetária anormal e liberação de adenosina difosfato prejudicada em resposta ao colágeno e à epinefrina (adrenalina). Esses defeitos de plaquetas são secundários às anormalidades metabólicas sistêmicas da doença e são corrigidos melhorando o estado metabólico dos pacientes.
A nefromegalia é uma característica típica. A disfunção tubular proximal (glicosúria, fosfatúria, perda de potássio e aminoacidúria generalizada) é reversível quando o controle bioquímico da doença melhora.[36] Alguns pacientes também têm hipocitratúria e hipercalciúria, que predispõem à nefrocalcinose e cálculos renais.[37]
A albuminúria pode ser observada em adolescentes. Adultos jovens podem ter lesão renal mais grave com proteinúria, hipertensão e redução da clearance de creatinina por causa de glomeruloesclerose segmentar focal e fibrose intersticial, o que acabará causando doença renal em estágio terminal. Uma terapia instituída em ou antes de 1 ano de idade que mantenha controle metabólico ideal poderá atrasar, impedir ou retardar a progressão da doença renal.[38] O tratamento com inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA) diminui a taxa de filtração glomerular em pacientes com hiperfiltração glomerular.[39]
O desenvolvimento de adenomas hepáticos é uma complicação comum que ocorre na maioria dos pacientes adultos, geralmente aparecendo na segunda e terceira década de vida (lesões antes da puberdade são incomuns). Os adenomas podem sofrer degeneração maligna ou hemorragia.
A ultrassonografia é o método de preferência de rastreamento de adenomas hepáticos. A ressonância nuclear magnética (RNM) oferece maior definição quando há suspeita de malignidade por causa de uma mudança na aparência de uma pequena lesão, bem circunscrita para uma lesão maior e mal demarcada. Os níveis de alfafetoproteína sérica são normais em pacientes com adenomas, mas estavam elevados em alguns casos de carcinoma hepatocelular.[40][41]
Uma anemia resistente a ferro incessante ocorre em associação a grandes adenomas hepáticos, que expressam a hepcidina, um peptídeo que inibe a absorção intestinal de ferro e a reciclagem de ferro pelos macrófagos. A ressecção de adenomas hepáticos resulta na rápida correção da anemia.[42]
Estudos radiográficos mostraram osteopenia e estudos anatomopatológicos demonstraram osteoporose pura, sem evidência de anormalidades no metabolismo de cálcio, fosfato, paratireoide ou vitamina D. O conteúdo mineral ósseo é reduzido em comparação com crianças normais da mesma idade. Distúrbios endócrinos e metabólicos, incluindo acidose láctica, níveis de cortisol elevados, resistência ao hormônio do crescimento e desenvolvimento puberal tardio podem ser responsáveis por essas observações de diminuição da mineralização óssea.
A adesão rigorosa a um regime alimentar ideal pode garantir o crescimento normal e o desenvolvimento musculoesquelético. Isso inclui a ingestão adequada (via suplementação) de cálcio e vitamina D.[43]
A maioria dos pacientes com DDG 1b tem neutropenia constante ou cíclica, cuja gravidade varia de leve até agranulocitose completa e está associada a infecções bacterianas recorrentes. A causa da neutropenia e da disfunção neutrofílica na DDG 1b tem sido associada ao acúmulo de 1,5-anidroglucitol-6-fosfato e, por isso, pode ser alvo de inibidores de SGLT2.[28][29][30]
Os pacientes frequentemente desenvolvem uma doença inflamatória intestinal semelhante à doença de Crohn, que responde ao tratamento com fator estimulador de colônias de granulócitos.[46] As crianças com DDG 1b são propensas a complicações orais, incluindo ulceração da mucosa recorrente, gengivite e doença periodontal rapidamente progressiva.
Embora a hipoglicemia se torne menos grave com o aumento da idade, a terapia inadequada causa comprometimento acentuado do crescimento e puberdade tardia. No entanto, os pacientes crescem e se desenvolvem normalmente quando a terapia contínua com glicose é iniciada precocemente e o controle metabólico é mantido em longo prazo.
Irregularidades menstruais e hirsutismo são incomuns e podem refletir o controle metabólico deficiente dos pacientes, em vez de serem uma complicação da própria doença. No entanto, estudos que utilizaram ultrassonografia em todos os tipos de doenças de depósito de glicogênio (DDGs) hepáticas demonstram uma elevada prevalência de ovários morfologicamente policísticos (mesmo em crianças pré-púberes). A significância clínica disso ainda não está esclarecida. Gestações normais foram relatadas em mulheres com doença de depósito de glicogênio (DDG) Ia.[44] Há um pequeno número de casos de gestações bem-sucedidas em mulheres com DDG 1b.[45] A gravidez apresenta riscos metabólicos especiais para a mãe e o feto exigindo o manejo de especialistas durante a gravidez e o parto.
A hipertensão pulmonar tem sido descrita se apresentando na segunda ou terceira década de vida e causando a morte prematura por insuficiência cardíaca.
Os pacientes com doença DDG 1b têm uma maior prevalência de autoimunidade da tireoide e hipotireoidismo primário.[47] O rastreamento é recomendado.
A disfunção arterial (aumento da espessura da íntima-média e reatividade anormal da artéria radial) tem sido observada em adultos jovens com DDG 1 e pode ser atribuída à dislipidemia.[48]
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