Etiologia

A etiologia da síndrome do ovário policístico (SOPC) é desconhecida. É uma síndrome quando vários sistemas são afetados e o local do defeito primário é desconhecido. Várias linhas de evidência apoiaram os defeitos primários no eixo hipotálamo-hipofisário, postulando maior amplitude e frequência de pulsos de hormônio luteinizante (LH), ou defeitos envolvendo os ovários, por meio de um problema intrínseco levando à produção excessiva de androgênio. Algumas teorias postulam os defeitos na sensibilidade à insulina com resistência insulínica levando à hiperinsulinemia compensatória.

A SOPC parece ser hereditária, como um distúrbio comum complexo. Vários genes, cada um com efeitos leves ou moderados sobre o risco da doença em geral, provavelmente estão envolvidos.[17] Um estudo com gêmeos calculou a hereditariedade da SOPC em 70%, sugerindo que a maior parte do risco depende de fatores genéticos.[18] Os genes reais de susceptibilidade para SOPC ainda precisam ser definitivamente identificados. Um grande estudo de associação genômica ampla realizado em indivíduos chineses identificou de forma consistente variantes genéticas em, ou próximas de, 3 genes (DENND1A, THADA, LHCGR) como fatores de risco para a SOPC.[19] A variação no DENND1A foi posteriormente associada à SOPC em vários coortes europeus.[20][21][22][23]​​ Um estudo posterior de associação genômica ampla em indivíduos chineses aumentou o número dos loci de suscetibilidade para 11.[24] Três estudos de associação genômica ampla em coortes de origem predominantemente europeia aumentaram o número total dos loci de suscetibilidade na SOPC para 25.​​[25][26][27]​​​​​ A maioria dos loci descobertos em um grupo étnico parece afetar o risco de SOPC em outros grupos étnicos, sugerindo uma origem antiga de SOPC.[28] Os loci de suscetibilidade incluem genes para o receptor do LH, o receptor de hormônio folículo-estimulante e a subunidade beta do hormônio folículo-estimulante, o que sugere um papel importante para a função da gonadotrofina desordenada na SOPC. As alterações epigenéticas (alterações no DNA independentes da sequência de nucleotídeos primários; por exemplo, metilação de DNA) também podem influenciar a suscetibilidade na SOPC, conforme evidenciado pela inativação diferencial do cromossomo X na SOPC.[29][30]

Fisiopatologia

A fisiopatologia da síndrome do ovário policístico (SOPC) não é bem compreendida, principalmente em virtude da falta de conhecimento sobre a localização do defeito primário. Há vários candidatos: ovário, adrenal, hipotálamo, hipófise ou tecidos sensíveis à insulina. É possível que haja subconjuntos de mulheres com SOPC, em que cada um desses mecanismos propostos sirva como defeito primário.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Diagrama simplificado dos principais fatores patogênicos na SOPC. ACTH, hormônio adrenocorticotrófico; FSH), hormônio folículo-estimulante; GnRH, hormônio liberador de gonadotrofina; LH, hormônio luteinizanteDo acervo do Dr M.O. Goodarzi; usado com permissão [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@2d3f7d7e

As investigações elucidaram algumas das interações entre esses sistemas. A resistência insulínica leva à hipersecreção compensatória de insulina pelo pâncreas, para manter a normoglicemia. A hiperinsulinemia resultante promove a produção de androgênio ovariano e pode também promover a produção de androgênio adrenal. Altos níveis de insulina também suprimem a produção hepática de globulina ligadora de hormônios sexuais, que exacerba a hiperandrogenemia ao aumentar a proporção de androgênios livres circulantes.[12]​ Outro fator que promove a produção de androgênio ovariano é o fato de que as mulheres com SOPC são expostas em longo prazo a altos níveis de LH. Esse excesso de LH parece ser resultante de uma frequência aumentada de pulsos de hormônio liberador de gonadotrofina do hipotálamo.[12][31]​ O meio hormonal anormal provavelmente pode também contribuir para o desenvolvimento folicular incompleto, que resulta na morfologia ovariana policística.[12]

Classificação

Classificação proposta[5][6]

Não há sistema de classificação formal para a síndrome do ovário policístico (SOPC). O seguinte foi proposto:

  • SOPC leve (representa 16% das mulheres afetadas): caracterizada por menstruações irregulares, ovários policísticos na ultrassonografia, concentrações de androgênio com discreta elevação, concentrações de insulina normais, riscos em longo prazo desconhecidos

  • SOPC ovulatória (representa 16% das mulheres afetadas): caracterizada por menstruações normais, ovários policísticos na ultrassonografia, concentrações de androgênio elevadas, concentrações de insulina elevadas, riscos em longo prazo desconhecidos

  • Hiperandrogenismo e anovulação crônica (representam 7% das mulheres afetadas): caracterizados por menstruações irregulares, ovários normais na ultrassonografia, concentrações de androgênio elevadas, concentrações de insulina elevadas, riscos potenciais em longo prazo

  • SOPC grave (representa 61% das mulheres afetadas): caracterizada por menstruações irregulares, ovários policísticos na ultrassonografia, concentrações de androgênio elevadas, concentrações de insulina elevadas, riscos potenciais em longo prazo.

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