Etiologia
A maioria dos patógenos bacterianos envolvidos na ITU em crianças é gram-negativa.
Escherichia coli é a causa mais comum e representa de 85% a 90% das infecções do trato urinário (ITUs) pediátricas.[7]
Outros possíveis patógenos bacterianos incluem:[13][14][15][16][17]
Proteus mirabilis em pacientes do sexo masculino não circuncidados
Staphylococcus saprophyticus em adolescentes do sexo feminino
Espécies de pseudomonas em anomalias congênitas dos rins e trato urinário
Serratia marcescens, espécies de Citrobacter e Staphylococcus epidermidis, que podem causar infecções em pacientes com malformação ou disfunção do trato urinário
Espécies de Klebsiella aerogenes e Enterococcus.
Espécies de Candida podem causar ITU em crianças imunocomprometidas, naquelas com anomalias congênitas complexas dos rins e do trato urinário, no período pós-operatório e naquelas com stents e cateteres urinários por períodos prolongados.
A infecção por Schistosoma haematobium pode afetar crianças em regiões endêmicas.
As ITUs podem ser classificadas como não complicadas ou complicadas. A etiologia da ITU complicada pode decorrer de uma anormalidade estrutural ou de uma anormalidade funcional.[1]
A anormalidade estrutural decorre principalmente da presença de valvas uretrais posteriores, estenose ou cálculos.
A anormalidade funcional resulta, com frequência, de uma disfunção do trato urinário inferior de origem neurogênica (por exemplo, espinha bífida) ou não neurogênica (por exemplo, disfunção da micção), bem como refluxo vesicoureteral (RVU) dilatador.
Fisiopatologia
Existe a hipótese de que a colonização da mucosa periuretral com bactérias geniturinárias preceda a infecção do trato urinário (ITU). A infecção ascendente para a bexiga é o mecanismo causador da maioria dos episódios de cistite. O menor comprimento da uretra em meninas predispõe à infecção ascendente.
O refluxo vesicoureteral facilita a infecção do ureter e dos rins. Na ausência de refluxo vesicoureteral, a Escherichia coli uropatogênica é capaz de inibir o peristaltismo ureteral, facilitando a infecção no trato urinário superior.[18] A infecção bacteriana é mais provável quando há anormalidades no esvaziamento da bexiga (por exemplo, disfunção vesical ou intestinal, constipação crônica, refluxo vesicoureteral), pois a eliminação de bactérias da bexiga após a micção é incompleta.[19]
A constipação também facilita o desenvolvimento de ITU, por aumentar o número de organismos uropatogênicos no trato gastrointestinal.[19]
Os isolados de E coli na ITU expressam mais comumente fatores de virulência. Adesinas como pili tipo 1 e fímbria P podem mediar a aderência aos receptores uroepiteliais e a aerobactina pode aumentar o crescimento bacteriano por meio da aquisição de ferro.[20][21][22]
Classificação
Classificação de acordo com o local de infecção[1][4][5]
ITU inferior (cistite)
Somente sintomas do trato inferior, inclusive polaciúria, urgência, disúria, hematúria, urina de odor desagradável, enurese e dor suprapúbica.
ITU superior (pielonefrite)
Início abrupto com sinais e sintomas sistêmicos , inclusive febre (≥38°C [≥100.4°F]), calafrios, dor nos flancos ou sensibilidade no ângulo costovertebral.
Classificação de acordo com a gravidade da infecção[1]
ITU não grave
Principalmente ITU inferior.
A criança tem, no máximo, pirexia leve, é capaz de tomar líquidos e medicação oral e está um pouco ou nem um pouco desidratada.
ITU grave
Principalmente ITU superior.
A criança apresenta febre alta (>39°C [>102.2°F] ), não se sente bem, apresenta vômitos persistentes e está moderadamente a gravemente desidratada.
Classificação de acordo com os fatores complicadores[1]
ITU não complicada
ITU em crianças que têm o trato urinário estrutural e funcionalmente normal, função renal normal e sistema imunológico competente.
ITU complicada
ITU em crianças que têm uma anormalidade estrutural ou funcional no trato urinário.
Classificação de acordo com o episódio de infecção[1][4]
Primeira ITU
Pode indicar anormalidades anatômicas e, portanto, a avaliação anatômica é necessária.
ITU recorrente
Pode decorrer de uma infecção não resolvida ou persistente.
Infecção não resolvida: o tratamento inicial é inadequado para eliminar a bactéria do trato urinário.
Infecção persistente: causada pelo ressurgimento da bactéria no trato urinário, devido a um local de infecção persistente que não pode ser erradicada (por exemplo, cálculos ou fístulas infectados).
Algum patógeno está envolvido em cada infecção recorrente.
No Reino Unido, o National Institute for Health and Care Excellence (NICE) classifica as ITUs recorrentes da seguinte maneira:
≥2 episódios de ITU superior aguda, ou
1 episódio de ITU superior aguda associado a ≥1 episódio de ITU inferior, ou
≥3 episódios de ITU inferior.
ITU de bacteremia de escape
Pode ser observada em pacientes submetidos à profilaxia com antibióticos.
Geralmente, resulta de cepas resistentes do patógeno infeccioso.
Também pode decorrer da não adesão dos pais ou responsáveis ao tratamento da criança e/ou anomalias urogenitais graves.
Reinfecção
Ao contrário da ITU recorrente, a reinfecção envolve diferentes tipos de patógenos ou diferentes sorotipos do mesmo patógeno.
Classificação de acordo com o quadro clínico[1][4]
ITU atípica
A criança está gravemente doente, e os sintomas incluem:
Fluxo urinário fraco
Massa abdominal ou vesical
Creatinina elevada
Septicemia
Ausência de resposta ao tratamento em 48 horas
Infecção por organismos não Escherichia coli.
ITU assintomática
A criança tem leucocitúria sem nenhum outro sintoma.
ITU sintomática
A criança pode apresentar sintomas miccionais irritativos e dor suprapúbica (cistite) ou febre e mal-estar (pielonefrite).
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