Algoritmo de tratamento

Observe que as formulações/vias e doses podem diferir entre nomes e marcas de medicamentos, formulários de medicamentos ou localidades. As recomendações de tratamento são específicas para os grupos de pacientes:ver aviso legal

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1ª linha – 

benzodiazepínico ou clometiazol ou fenobarbital

Os benzodiazepínicos são agentes de primeira linha para o tratamento farmacológico dos sintomas da abstinência alcoólica e das convulsões relacionadas a esta.[5][7][15][18][89][90][91][92] [ Cochrane Clinical Answers logo ] [Evidência B]​ As diretrizes da European Federation of Neurological Societies para convulsões relacionadas ao álcool, e outras fontes, recomendam o lorazepam e o diazepam como medicamentos de primeira escolha.[7][89]

Em pacientes com convulsões devido à abstinência alcoólica, os benzodiazepínicos são mais eficazes que placebo.[92] [ Cochrane Clinical Answers logo ] [Evidência B]​ Nenhum benzodiazepínico isolado é superior a outro, embora alguns dados (não significativos) sugiram que o clordiazepóxido (disponível somente como formulação oral no Reino Unido, nos EUA e em alguns outros países) possa ser mais efetivo que os outros agentes.[92][93]​ Os medicamentos por via oral são adequados para a abstinência leve, mas a administração intravenosa de benzodiazepínicos é preferível para a síndrome da abstinência alcoólica (SAA) moderada a grave. Uma administração intramuscular de lorazepam pode ser adequada antes de se obter um acesso IV. Nos pacientes com insuficiência hepática, deve-se preferir o lorazepam ao clordiazepóxido, para evitar o risco de sedação prolongada.[5]

As convulsões decorrentes da abstinência alcoólica são, geralmente, autolimitantes. Convulsões recorrentes ou estado de mal epiléptico devem ser tratadas com benzodiazepínicos, mas também devem levar à investigação de outras causas das convulsões. Para o tratamento inicial do estado de mal epiléptico relacionado ao álcool, o lorazepam intravenoso é considerado seguro e eficaz.[7][89]​ O diazepam intravenoso é uma boa alternativa.[7][89]

As doses de benzodiazepínicos utilizadas nos esquemas de tratamento da SAA podem ser muito superiores às doses recomendadas para outras indicações. As complicações da terapia com benzodiazepínicos incluem sedação excessiva e, com menos frequência, depressão respiratória. Portanto, uma avaliação frequente é necessária. Dá-se preferência aos benzodiazepínicos de ação prolongada, mas em pacientes com doença hepática, são usados os de ação curta para evitar o excesso de sedação. Os médicos devem estar cientes dos riscos de efeitos viciantes dos agentes de ação mais prolongada; múltiplas doses administradas em um curto período podem causar sedação excessiva e depressão respiratória, principalmente em pacientes que fizeram uso de outros depressores respiratórios, como opioides.[5] Pode ocorrer obstrução das vias aéreas em indivíduos que perdem o tônus muscular faríngeo, principalmente se houver índice de massa corporal elevado ou história de apneia obstrutiva do sono.[94]

Existem três abordagens para o tratamento da SAA com benzodiazepínicos:​​​ (1) sintomas desencadeados: tratamento com medicamentos quando o escore da escala Clinical Institute Withdrawal Assessment for Alcohol, versão revisada (CIWA-Ar) está acima de 8 pontos; este é o método de dosagem de primeira escolha; (2) esquema de dosagem fixa: as doses são administradas em intervalos de tempo específicos, podendo-se administrar doses adicionais se necessário, de acordo com os sintomas; (3) esquema de carga inicial para os pacientes com alto risco de abstinência grave: uma alta dose de um medicamento de ação prolongada é administrada para se alcançar um controle rápido dos sintomas.[5][95] Os medicamentos recomendados para o esquema de carga inicial são diazepam ou clordiazepóxido.[5] Essa abordagem de tratamento demonstrou reduzir a incidência de convulsão por abstinência alcoólica e delirium em pacientes de alto risco.[5] Um esquema de carga inicial pode ser recomendado para pacientes com alto risco de abstinência grave.[5] Pode ser administrada uma única dose para os pacientes com história de SAA grave, queixa clínica ou cirúrgica aguda concomitante, doença arterial coronariana grave, ou nos pacientes que apresentarem evidências clínicas de SAA com um nível de etanol no sangue positivo.[5] Os pacientes com comorbidades cardiovasculares significativas precisam de tratamento agressivo para a abstinência, devido aos efeitos potencialmente prejudiciais da hiperatividade autonômica.[5]

Geralmente os regimes ambulatoriais são do tipo dose fixa.[5] Ao prescrever um benzodiazepínico de ação mais curta, um esquema de dose fixa com suspensão gradual pode ser apropriado para diminuir o risco de sintomas de escape ou de efeito rebote.[5] Nos pacientes cujo tratamento ambulatorial falhar, podem ser necessárias doses mais elevadas de benzodiazepínicos ou medicamentos alternativos; os pacientes podem precisar ser hospitalizados para tratamento adicional.[5] Como alternativa a um benzodiazepínico, pode ser usado clometiazol. Este deve ser usado com cuidado, apenas em pacientes hospitalizados e de acordo com a bula.[8]

Para minimizar o risco de dependência ou uso indevido de benzodiazepínicos, os pacientes tratados em ambiente ambulatorial devem receber prescrição da quantidade mínima de medicamentos; a prescrição deve ser descontinuada imediatamente, assim que o tratamento for concluído.[5]

Os pacientes que fizerem uso de benzodiazepínicos devem ser informados sobre os efeitos colaterais, como torpor, e interações medicamentosas com outros depressores do sistema nervoso central e/ou quando combinados com bebidas alcoólicas. Os pacientes também devem ser orientados a não dirigir ou operar maquinário pesado enquanto estiverem tomando benzodiazepínicos.[5]

Um subconjunto de pacientes com SAA grave é descrito como resistente a benzodiazepínicos e pode requerer agentes adjuvantes para o tratamento da SAA.[85][86]​ Clinicamente, considera-se que os pacientes que necessitam de ≥50 mg de diazepam intravenoso na primeira hora de tratamento têm SAA resistente aos benzodiazepínicos.[87]

​Os pacientes com SAA grave e/ou delirium por abstinência alcoólica resistente a doses crescentes de benzodiazepínicos, ou com alto risco de SAA grave ou complicada, podem se beneficiar do fenobarbital como uma alternativa aos benzodiazepínicos.[5][85][96][97]​ Elr também é apropriado como terapia inicial nos pacientes com contraindicação aos benzodiazepínicos, quando administrado por um médico com experiência em seu uso.[5] Em alguns estudos, o fenobarbital foi associado a uma redução na necessidade de ventilação mecânica e a menos internações em unidade de terapia intensiva (UTI) e tempo de permanência em UTI/hospital, embora outros dados não mostrem uma diferença significativa na evolução/desfecho clínicos.[96][97][98][99] Fenobarbital parenteral só deve ser usado na UTI ou em áreas com alto nível de monitoramento.[5]

Opções primárias

clordiazepóxido: consulte os protocolos locais para obter orientação sobre a dosagem

ou

diazepam: consulte os protocolos locais para obter orientação sobre a dosagem

ou

lorazepam: consulte os protocolos locais para obter orientação sobre a dosagem

Opções secundárias

clometiazol: consulte os protocolos locais para obter orientação sobre a dosagem

ou

fenobarbital: consulte os protocolos locais para obter orientação sobre a dosagem

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associado a – 

cuidados de suporte

Tratamento recomendado para TODOS os pacientes no grupo de pacientes selecionado

Os principais objetivos do tratamento são: reduzir os sintomas da abstinência, ajudar na abstinência de longo prazo e detectar e tratar afecções clínicas ou psiquiátricas concomitantes.[83] O tratamento também deve incluir a prevenção da recidiva. As recidivas podem ser tratadas por meio de estratégias de aconselhamento ou com farmacoterapia.

Os cuidados de suporte são essenciais e devem incluir educação do paciente sobre o processo de abstinência alcoólica e os sintomas comuns, tranquilização regular e reorientação, e cuidados de enfermagem adequados, bem como avaliação psicológica frequente e reavaliação do risco de suicídio.[5]

Pacientes com síndrome da abstinência alcoólica (SAA) leve, com escore do Clinical Institute Withdrawal Assessment for Alcohol, versão revisada (CIWA-Ar) <10, podem ser tratados de maneira ambulatorial com precauções de acompanhamento. Pacientes com um ambiente doméstico instável ou SAA grave requerem manejo hospitalar consistindo em intervenções farmacológicas e de suporte.

A internação hospitalar para a abstinência alcoólica com assistência médica deve ser oferecida às seguintes pessoas: aquelas com SAA moderada a grave que tiverem alto risco de desenvolver convulsões ou delirium por abstinência alcoólica; jovens menores de 16 anos com SAA moderada a grave; certas pessoas vulneráveis com SAA moderada a grave (por exemplo, aquelas que forem frágeis, tiverem comprometimento cognitivo ou múltiplas comorbidades, não tiverem apoio social, tiverem dificuldades de aprendizagem ou tiverem 16 ou 17 anos de idade).[8]

Além disso, pacientes com doença clínica descompensada, anormalidades eletrolíticas substanciais, escore CIWA-Ar >15 quando o etanol sérico é <20 mg/dL ou uma história de delirium por abstinência alcoólica ou convulsões por abstinência alcoólica devem ser considerados para internação.[84]

Pacientes com SAA grave e quadros clínicos ou psiquiátricos associados exigem altos níveis de cuidados (por exemplo, internação em unidade de terapia intensiva [UTI]) e doses elevadas de benzodiazepínicos. Morbidade e mortalidade são maiores entre esta população de pacientes.

Os pacientes com convulsão por abstinência alcoólica também precisam de monitoramento intensivo; reavaliar a cada 1-2 horas por 6-24 horas.[5] Esses pacientes devem ser monitorados como pacientes hospitalizados por, pelo menos, 36-48 horas após a convulsão para assegurar que não haja convulsões adicionais nem desenvolvimento de delirium por abstinência alcoólica.[88] Pacientes agitados ou delirantes devem receber observação contínua e individualizada.[5] Os pacientes que precisarem de farmacoterapia, ou com SAA moderada a grave, devem ser rigorosamente monitorados e reavaliados a cada 1-4 horas, conforme clinicamente indicado.[5]

A redução gradual na frequência de monitoramento pode ocorrer quando o paciente estiver clinicamente estável. Em pacientes com sintomas leves e risco baixo de SAA grave ou complicada, o monitoramento pode ser suspenso após 36 horas, pois é muito improvável que ocorra uma abstinência mais grave.

Consulte Monitoramento.

A internação na UTI é indicada para pacientes com instabilidade hemodinâmica, anormalidades eletrolíticas graves, doença cardíaca, desconforto respiratório, possíveis infecções graves, hipertermia persistente, sinais de patologia gastrointestinal, evidência de rabdomiólise, insuficiência renal, necessidade de doses frequentes ou altas de sedativos (inclusive benzodiazepínicos e barbitúricos), ou intubação endotraqueal, ou com sintomas de abstinência apesar da concentração elevada de etanol sérico.[89]​ Na prática, os pacientes podem ser internados em uma unidade de cuidados intensivos sem atender a esses critérios, caso se beneficiem de um monitoramento reforçado e suporte de enfermagem. Os pacientes com delirium por abstinência alcoólica requerem uma observação estrita pela equipe de enfermagem e cuidados de suporte, o que frequentemente exige a internação em uma unidade de terapia intensiva ou para pacientes críticos.[5]

Os pacientes internados precisarão de monitoramento cardíaco e oximetria de pulso contínuos e, possivelmente, atendimento na unidade de terapia intensiva (UTI).

As pessoas dependentes de álcool, mas que não estiverem internadas, devem ser orientadas a evitar uma redução súbita na ingestão de álcool; elas devem receber informações sobre como entrar em contato com os serviços locais de apoio ao etilista ou encaminhadas a um programa de tratamento adequado.[8]

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Considerar – 

suplementação vitamínica

Tratamento adicional recomendado para ALGUNS pacientes no grupo de pacientes selecionado

A suplementação vitamínica deve ser considerada em pacientes com transtornos decorrentes do uso de bebidas alcoólicas e probabilidade de deficiências de vitaminas.

A suplementação de tiamina reduz o risco de encefalopatia de Wernicke e da síndrome de Korsakoff.[5] O consumo crônico de álcool resulta na redução da absorção de tiamina; portanto, a administração intravenosa ou intramuscular é recomendada.[18] Os pacientes devem ser acompanhados em um ambiente monitorado devido ao risco de reações alérgicas adversas potencialmente graves que podem ocorrer durante ou logo após a administração parenteral. Administra-se uma alta dose de tiamina se houver suspeita de encefalopatia de Wernicke.[15] Todos os pacientes com síndrome da abstinência alcoólica internados em uma unidade de terapia intensiva devem receber tiamina.[5]​ Em um cenário ambulatorial, pode-se oferecer tiamina por via oral.[5]

A reposição de folato deve ser considerada em pacientes em estado crítico, pois os transtornos decorrentes do uso de bebidas alcoólicas estão associados com a hiper-homocisteinemia.[5]

Opções primárias

tiamina: prevenção da encefalopatia de Wernicke: 100-200 mg por via intravenosa/intramuscular/oral uma vez ao dia por 3-5 dias; tratamento da encefalopatia de Wernicke: 200-500 mg por via intravenosa/intramuscular três vezes ao dia por 2-7 dias, seguidos por 250 mg por via intravenosa/intramuscular uma vez ao dia por 3-5 dias e, em seguida, 100 mg por via oral uma vez ao dia

ou

tiamina: prevenção da encefalopatia de Wernicke: 100-200 mg por via intravenosa/intramuscular/oral uma vez ao dia por 3-5 dias; tratamento da encefalopatia de Wernicke: 200-500 mg por via intravenosa/intramuscular três vezes ao dia por 2-7 dias, seguidos por 250 mg por via intravenosa/intramuscular uma vez ao dia por 3-5 dias e, em seguida, 100 mg por via oral uma vez ao dia

e

ácido fólico: 0.4 a 1 mg por via intravenosa/oral uma vez ao dia

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Considerar – 

reposição de fluidos e eletrólitos

Tratamento adicional recomendado para ALGUNS pacientes no grupo de pacientes selecionado

Corrija as anormalidades eletrolíticas, inclusive glicose, cálcio, potássio, fósforo e magnésio. A desidratação por vômitos, diarreia ou outras perdas insensíveis podem precisar de correção com fluidoterapia intravenosa.

Não há uma dosagem específica de magnésio para corrigir a hipomagnesemia no alcoolismo crônico e nos pacientes com arritmias cardíacas, anormalidades eletrolíticas ou uma história de convulsão por abstinência alcoólica.[5] Hipomagnesemia grave (<1 mg/dL) e pacientes sintomáticos em situação de emergência podem necessitar de até 2 g/dia de sulfato de magnésio, administrados por infusão intravenosa. O paciente deve ser tratado em ambiente monitorado. Os reflexos tendinosos profundos, bem como a frequência e padrão respiratórios devem ser avaliados periodicamente para monitorar a hipermagnesemia. Manejo adicional da hipomagnesemia deve ser feito sob os cuidados de um médico especialista e de um médico de atenção primária.

A reposição de fósforo é recomendada na presença de deficiência.[5] Se a deficiência for leve, a reposição pode ser oral/alimentar, com suplementação intravenosa se os níveis estiverem abaixo de 1 mg/dL.[5]

Consulte os protocolos locais para determinar a dosagem de reposição eletrolítica.

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Considerar – 

dexmedetomidina

Tratamento adicional recomendado para ALGUNS pacientes no grupo de pacientes selecionado

A dexmedetomidina, um agente sedativo (um agonista alfa-2-adrenérgico), pode ser usada juntamente com os benzodiazepínicos para o tratamento da síndrome da abstinência alcoólica (SAA) na unidade de terapia intensiva (UTI), caso a hiperatividade autonômica e a ansiedade não sejam controladas de maneira adequada com um benzodiazepínico somente.[5]

As evidências para o uso de dexmedetomidina na SAA são limitadas. Dados de um pequeno estudo randomizado sugerem que pacientes que recebem dexmedetomidina podem requerer doses reduzidas de benzodiazepínicos.[101] Achados semelhantes foram relatados em uma série de casos.[102]

A dexmedetomidina não tem atividade no receptor do ácido gama-aminobutírico (GABA) e não reduz as convulsões relacionadas à abstinência.

a UTI.Um estudo demonstrou um excesso adverso da mortalidade em pacientes em estado crítico com menos de 65 anos que receberam dexmedetomidina como sedação em uma UTI.[103] Portanto, a dexmedetomidina só deve ser prescrita como adjuvante de um benzodiazepínico, e seu uso é considerado de maneira cuidadosa.

Opções primárias

dexmedetomidina injetável: consulte os protocolos locais para obter orientação sobre a dosagem

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propofol

Tratamento adicional recomendado para ALGUNS pacientes no grupo de pacientes selecionado

O propofol, um agente anestésico, é reservado a pacientes resistentes à terapia com benzodiazepínico ou àqueles que necessitam de ventilação mecânica.[104] Ele parece ser efetivo, mas está associado a aumentos significativos nos cuidados clínicos, incluindo os tempos de permanência na unidade de terapia intensiva (UTI) e no hospital.[18][105]

O propofol pode causar depressão respiratória; os pacientes que iniciarem o tratamento com propofol devem ser internados em uma UTI, e geralmente são intubados.

Opções primárias

propofol: consulte os protocolos locais para obter orientação sobre a dosagem

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