História e exame físico

Principais fatores diagnósticos

comuns

presença de fatores de risco

Os aspectos principais incluem idade precoce no início do transtorno do humor, história familiar de transtorno bipolar ou suicídio, resposta fraca ou limitada aos antidepressivos tradicionais, alta recorrência de episódios de humor, comorbidade com transtorno de ansiedade ou de uso indevido de substâncias e um padrão de instabilidade psicossocial.

um ou mais episódios depressivos maiores

Os pacientes com transtorno bipolar I ou II geralmente apresentam episódios depressivos maiores. Os critérios do DSM-5-TR para um episódio depressivo maior são idênticos no transtorno depressivo maior unipolar e no transtorno afetivo bipolar. Os critérios incluem humor depressivo ou anedonia característicos, alterações no peso e na libido, perda de energia, dificuldade de concentração, insônia ou hipersonia, problemas psicomotores, culpa excessiva, sentimentos de inutilidade e ideação suicida.[1]​ Um episódio depressivo pode se apresentar com características mistas, em que a pessoa apresenta simultaneamente todos os critérios de um episódio depressivo maior, além de 3 ou mais sintomas maníacos.[1]

episódio(s) de mania

O transtorno bipolar I é caracterizado pela ocorrência de 1 ou mais episódios de mania. Cerca de 35% dos episódios maníacos apresentam características mistas, o que significa que a pessoa apresenta simultaneamente todos os critérios de um episódio maníaco, além de 3 ou mais sintomas depressivos.[1] Além disso, os pacientes frequentemente já tiveram 1 ou mais episódios depressivos maiores.

episódio(s) de hipomania

O transtorno bipolar II é caracterizado pela ocorrência de 1 ou mais episódios hipomaníacos. Os pacientes também terão tido 1 ou mais episódios depressivos maiores.[1]​ Um episódio hipomaníaco pode ocorrer com características mistas, em que a pessoa apresenta simultaneamente todos os critérios de um episódio hipomaníaco, além de 3 ou mais sintomas depressivos.[1]

autoestima inflada ou grandiosidade

Pode estar presente de forma significativa durante um episódio maníaco ou hipomaníaco.[1]

diminuição da necessidade de sono

A diminuição da necessidade de sono (por exemplo, sentir descansado após somente 3 horas de sono) pode estar presente de forma significativa durante um episódio maníaco ou hipomaníaco.[1]

mais falante que o habitual ou sentindo pressão para continuar falando

Pode estar presente de forma significativa durante um episódio maníaco ou hipomaníaco.[1]

fuga-de-ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estejam ocorrendo muito rapidamente

Pode estar presente de forma significativa durante um episódio maníaco ou hipomaníaco.[1]

distraibilidade

Atenção facilmente desviada para estímulos externos irrelevantes ou sem importância.

Pode estar presente de forma significativa durante um episódio maníaco ou hipomaníaco.[1]

aumento da atividade dirigida a objetivos ou agitação psicomotora

Aumento da atividade direcionada a um objetivo (seja socialmente, no trabalho ou na escola, ou sexualmente) ou agitação psicomotora (atividade sem propósito, sem objetivo).

Pode estar presente de forma significativa durante um episódio maníaco ou hipomaníaco.[1]

envolvimento excessivo em atividades prazerosas que têm alto potencial de consequências danosas

As atividades com consequências danosas podem incluir o envolvimento em compras desenfreadas, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros imprudentes.

Pode estar presente de forma significativa durante um episódio maníaco ou hipomaníaco.[1]

comprometimento funcional

Os sintomas do humor contribuem para um prejuízo (por exemplo, nas funções sociais ou profissionais).

Faz-se uma distinção fundamental entre os episódios maníacos e os hipomaníacos: nos episódios maníacos, há comprometimento acentuado ou sintomas que exigem hospitalização, enquanto nos episódios hipomaníacos os critérios do DSM-5-TR não requerem a ocorrência de comprometimento acentuado, mas sim que a mudança do humor e a alteração da capacidade funcional sejam perceptíveis por outras pessoas.[1]

ausência de uso indevido de substâncias

De acordo com os critérios do DSM-5-TR, os sintomas do humor não devem ser devidos a um uso indevido de substâncias.[1]

Para um diagnóstico bipolar primário (bipolar I, bipolar II ou ciclotimia), os episódios de sintomas maníacos, mistos ou hipomaníacos observados não podem ocorrer no contexto de uma intoxicação ou abstinência de drogas/medicamentos.

sem causa clínica subjacente

Os sintomas do humor não devem ser devidos a uma condição clínica geral (por exemplo, hipertireoidismo).[1]

não devido ao tratamento antidepressivo somático ou outro medicamento prescrito

Os episódios tipo maníacos ou tipo hipomaníacos que são claramente causados pelo tratamento antidepressivo (por exemplo, medicamento, eletroconvulsoterapia, terapia com luz) não devem ser levados em conta no diagnóstico de transtorno bipolar I ou II.[1] Se os sintomas persistirem além do período fisiológico de efeito de uma substância, pode-se fazer o diagnóstico de transtorno bipolar.

Alguns medicamentos prescritos (por exemplo, corticosteroides, levodopa, estimulantes) podem também causar distúrbios do humor. Esles não são levados em conta no diagnóstico do transtorno bipolar.

Fatores de risco

Fortes

história familiar de transtorno bipolar ou esquizofrenia

Uma história familiar de transtorno bipolar é o fator de risco individual mais forte para o desenvolvimento do transtorno bipolar, sendo que os parentes de primeiro grau têm um risco oito vezes maior de desenvolver transtorno bipolar em comparação com o risco basal da população (8% x 1%).[39][66][67]​​ Estudos com gêmeos e filhos adotivos sugerem que a maior parte desse risco tem natureza genética; as estimativas de hereditariedade são de aproximadamente 60% a 80%.[40][41]​​ Parece haver um elemento de predisposição genética compartilhada com a esquizofrenia e o transtorno bipolar, já que os parentes de primeiro grau de indivíduos com esquizofrenia ou transtorno bipolar têm maior risco de desenvolver ambas as doenças.[68]

Quando um paciente sofre um episódio depressivo maior, a presença de uma história familiar positiva de transtorno bipolar aumenta a probabilidade de depressão do tipo bipolar ou de um ciclo bipolar posterior.[66][69]

início do transtorno do humor antes dos 20 anos de idade

Estudos realizados desde 1990 mencionam uma idade média para o início do transtorno entre 19 e 31 anos de idade; geralmente é aceito pelos especialistas que após os 50 anos de idade ocorre um declínio no início do transtorno bipolar.[31]

O método 'Stanley Center Bipolar Disorder Registry' relatou a idade mediana de início do transtorno de 17.5 anos e uma idade média de 19.8 anos.[70]

A depressão maior na infância ou na adolescência está associada a um risco mais elevado de transtorno bipolar no início da vida adulta.[71]

eventos adversos na vida

Estudos sobre eventos ao longo da vida, em geral, relatam que as pessoas com transtorno bipolar sofrem mais eventos adversos e/ou traumas antes do início e das recorrências dos episódios de humor.[72][73]

traumas e/ou adversidades na infância

A exposição a um trauma na infância (negligência; abuso emocional, sexual, verbal ou físico) durante os estágios de neurodesenvolvimento no início da vida contribui para o aumento do risco de desenvolvimento de transtorno bipolar.[43][44][74]​​​​ Uma história de traumas na infância está associada a um início precoce da doença, a uma sintomatologia depressiva mais grave, bem como a taxas mais altas de probabilidade de suicídio e de comorbidades.[45][46]

história prévia de depressão

Uma pesquisa realizada com pacientes nos EUA constatou que 69% dos indivíduos com transtorno bipolar haviam sido diagnosticados erroneamente, mais frequentemente como sofrendo de depressão unipolar.[27]​ As pessoas podem também apresentar inicialmente sintomas diagnósticos de transtorno depressivo maior e, só depois, desenvolver mania ou hipomania; embora os números na literatura publicada variem, as taxas de conversão diagnóstica de depressão para transtorno bipolar podem chegar a 30% em três anos.[17][18]

história prévia de transtorno por uso de substâncias

Entre todos os transtornos de saúde mental graves, os pacientes com transtorno bipolar são os que têm algumas das taxas mais altas de comorbidade com transtornos por uso de substâncias.[11] Esses estudos não mostram se há uma relação de causa e efeito, porém essa é uma comorbidade notável. Nos EUA, a prevalência ao longo da vida de qualquer transtorno por uso de substâncias em pessoas com transtorno bipolar I é 5.1 vezes maior e, naquelas com transtorno bipolar II, é 2.4 vezes maior que em indivíduos sem a doença.[9]

presença de um transtorno de ansiedade

Na Pesquisa Nacional de Comorbidades (National Comorbidity Survey), realizada nos EUA, >45% dos pacientes com transtorno bipolar preencheram os critérios para transtorno de ansiedade ao longo da vida.[75]

Quase um terço dos pacientes preencheram os critérios atuais para um transtorno de ansiedade, quando começaram a participar de um grande estudo multicêntrico, sendo o transtorno da ansiedade social e o transtorno de ansiedade generalizada as 2 condições mais comuns (cada uma com 13.3%).[76] Não se sabe se isso é uma causa ou um efeito, porém essa é uma comorbidade notável. Os transtornos de ansiedade podem ocorrer antes do início da mania ou hipomania, o que sugere a possibilidade de que um transtorno de ansiedade possa refletir sintomas prodrômicos (iniciais) de transtorno bipolar.[19]

Fracos

obesidade

Entre 19% e 49% dos pacientes com transtorno bipolar, com uma média de 31%, têm obesidade como comorbidade.[77] Além das consequências clínicas adversas relacionadas à obesidade, os pacientes obesos com transtorno bipolar são mais suscetíveis à recidiva/recorrência (principalmente da depressão) e são mais propensos ao suicídio.[78][79]

Os pacientes tratados com antipsicóticos têm maior probabilidade de desenvolver um padrão de distribuição de gordura corporal central do que controles pareados da população.[80] Novas evidências sugerem que alguns desses efeitos colaterais podem ser corrigidos com mudanças no estilo de vida.[81]

doença cardiovascular

Embora não esteja firmemente estabelecida uma clara relação de causa e efeito entre o transtorno bipolar e múltiplos fatores para doença cardiovascular (DCV), há evidências convincentes que sugerem uma ligação com hipertensão, diabetes mellitus do tipo 2 e dislipidemia.[12][77][82]​​

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