Abordagem

Em adultos saudáveis de um modo geral, a maioria dos casos de shigelose é leve e autolimitada.[6]

Na maioria dos casos graves, a terapia de reidratação desempenha um papel importante, junto com o suporte nutricional e os antibióticos.[16][17][24][32] A antibioticoterapia melhora os sintomas, trata a infecção e limita a disseminação da doença.[16]

Terapia de reidratação

Embora a shigelose geralmente produza uma diarreia de baixo volume, os pacientes ocasionalmente têm depleção de volume. Isso é mais comum em crianças e se ocorrem vômitos.

Na disenteria por Shigella, a terapia de reidratação oral (que usa uma solução aprovada para reidratação oral [SRO]) é indicada na depleção de volume leve a moderada. Após a reidratação, recomenda-se a terapia de manutenção com SRO para garantir o estado de hidratação.[16][24]

A terapia de reidratação intravenosa pode ser inicialmente necessária para pacientes com vômitos ou depleção grave de volume. Após a reidratação, recomenda-se a terapia de manutenção com SRO. Se os pacientes reidratados forem incapazes de beber, a terapia de manutenção com SRO poderá ser fornecida por sonda nasogástrica (uma vez que não sejam mais necessários fluidos IV e que os vômitos tenham remitido).

A terapia de reidratação oral que usa uma SRO aprovada é mais segura que o uso de outras bebidas, que podem ser muito concentradas e conter concentrações de eletrólitos e carboidratos inadequadas. Preparações caseiras podem ser igualmente problemáticas, pois podem ocorrer erros. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda fórmulas de SRO de baixa osmolaridade para diarreia em todas as faixas etárias.[33]

Suporte nutricional precoce

Foi constatado que isso melhora os desfechos, em especial no contexto de desnutrição. A alimentação continuada promove recuperação. Pequenas refeições frequentes com alimentos caseiros, ricos em energia e proteína, devem ser fornecidas. Lactentes e crianças devem continuar a ser amamentados com a frequência e duração que eles desejarem.[16]

Demonstrou-se que a adição de bananas verdes às refeições reduz a duração dos sintomas de shigelose em crianças >6 meses de idade (provavelmente porque os amidos pobremente digeríveis nas bananas verdes aumentam a produção de ácidos graxos de cadeia curta no cólon).[34] Em países de renda baixa e média, a OMS recomenda um ciclo de suplementação de zinco de 10 a 14 dias em crianças <6 anos de idade com diarreia aguda.[16] [ Cochrane Clinical Answers logo ] ​ A vitamina A também é recomendada.[33]

Educação em saúde e medidas de controle de infecção

Informações sobre higiene pessoal, alimentos e água potável devem ser fornecidas a todos os pacientes. Pacientes ambulatoriais devem também ser claramente orientados quanto ao modo de desinfecção de roupas, objetos pessoais e seu ambiente próximo.[16] As atividades sexuais devem ser evitadas enquanto houver sintomas e por até 7 dias após o desaparecimento dos sintomas. Os organismos nas fezes podem continuar a ser eliminados por até 6 semanas, portanto o contato fecal-oral durante o sexo deve ser evitado durante este período de tempo.[24][35]

A - antibióticos

Uma revisão Cochrane revelou que os antibióticos reduzem a duração da diarreia em pacientes com disenteria por Shigella.[36] Contudo, a prescrição rotineira de antibioticoterapia para infecção suspeita ou confirmada por Shigella não é recomendada; a antibioticoterapia é reservada para onde for clinicamente indicada ou quando as autoridades de saúde pública aconselham o tratamento em um cenário de surto ou para reduzir a probabilidade de transmissão em determinados locais ou situações.[37]​​

As indicações clínicas para antibióticos empíricos incluem todos os casos de febre com diarreia hemorrágica, disenteria bacilar e cólicas abdominais.[24]​ Os antibióticos também são recomendados para bebês com idade <3 meses com suspeita de infecção por Shigella e pessoas com temperatura corporal ≥38.5 °C e/ou sinais de sepse que viajaram recentemente para o exterior.[24] Os antibióticos podem ser considerados em pessoas imunocomprometidas e com doenças graves e diarreia hemorrágica.[24]

As opções de primeira linha são azitromicina, ciprofloxacino ou ceftriaxona.​[1][24]​​ A escolha do medicamento depende das sensibilidades locais. Se disponível, testes de sensibilidade antimicrobiana devem ser realizados antes do tratamento com antibióticos.[1] O rápido aparecimento de resistência à fluoroquinolona é uma preocupação, especialmente na Índia e na China.[16][38][39][40] Pacientes com história de viagem à Ásia têm, portanto, risco elevado de infecção resistente a fluoroquinolona.[41]​ Se for detectada suscetibilidade, sulfametoxazol/trimetoprima ou ampicilina são opções alternativas.[24][25]​​​

Uma vez confirmada a infecção, os antibióticos devem ser imediatamente adaptados às sensibilidades para prevenir a resistência. Se o antibiótico correto for usado inicialmente, mas o paciente for refratário ao tratamento, outras culturas deverão ser enviadas para descartar outro patógeno, ou um diagnóstico alternativo deverá ser considerado.

A infecção por Shigella extremamente resistente a medicamentos é uma preocupação crescente; em 2022, cerca de 5% das infecções por Shigella relatadas nos EUA foram causadas por cepas extremamente resistentes a medicamentos.[37]​ Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA não possuem recomendações atuais para o tratamento da Shigella extremamente resistente a medicamentos. Um especialista em doenças infecciosas deve ser consultado.

Após um surto de Shigella extremamente resistente a medicamentos no Reino Unido, os médicos são aconselhados a realizar exames de fezes para cultura bacteriana, reação em cadeia da polimerase (quando disponível) e suscetibilidade a antibióticos, em homens que fazem sexo com homens, que apresentam doença diarreica com duração superior a 7 dias, diarreia hemorrágica ou doença necessitando de hospitalização. O tratamento deve ser baseado nas sensibilidades.[20]

Tratamentos adjuvantes

Agentes antiespasmódicos não são geralmente recomendados.[42] Medicamentos antidiarreicos não devem ser utilizados, uma vez que existe uma preocupação anedótica de que eles possam promover dilatação tóxica. Deve-se administrar tratamento sintomático em caso de febre e/ou dor. A suplementação de zinco é recomendada em países de renda baixa e média para crianças com menos de 6 anos de idade, mas provavelmente não há benefício em crianças com menos de 6 meses de idade.[43]

Considerações permanentes

O portador crônico de Shigella é incomum e, portanto, o tratamento geralmente não é considerado. Se há suspeita de portador crônico, recomenda-se a discussão com um especialista em doenças infecciosas.

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