Síndrome compartimental abdominal
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Algoritmo de tratamento
Observe que as formulações/vias e doses podem diferir entre nomes e marcas de medicamentos, formulários de medicamentos ou localidades. As recomendações de tratamento são específicas para os grupos de pacientes:ver aviso legal
todos os pacientes
tratamento específico de causa subjacente
Causas primárias como trauma ou sangramento abdominal, tamponamento, infecções/inflamações intra-abdominais, íleo paralítico, pneumoperitônio ou isquemia intestinal devem ser tratadas; muitas delas exigem intervenção cirúrgica, a qual possivelmente já foi realizada antes da síndrome compartimental abdominal (SCA).
As causas secundárias estão quase sempre relacionadas à ressuscitação fluídica excessiva e a transfusões de sangue maciças, o que exige otimização do equilíbrio hídrico. Escarotomias podem ser necessárias em pacientes com lesões térmicas.
cuidados de suporte com monitorização
Tratamento recomendado para TODOS os pacientes no grupo de pacientes selecionado
Todos os pacientes precisam de monitoramento regular da pressão intra-abdominal (PIA) e das saturações de oxigênio.
Deve-se fornecer analgesia e sedação adequadas. Além de proporcionar alívio da dor, isso ajuda a fazer com que a musculatura abdominal relaxe e melhore a complacência abdominal.
O ideal é que a inclinação do leito seja <30° para melhorar a complacência da parede abdominal. Deve ser evitada a posição pronada. A posição de Trendelenburg reversa (paciente colocado na posição horizontal, com a cabeça para cima e os pés para baixo) melhora a complacência pulmonar e abdominal, mas pode não ser tolerada em decorrência de uma queda na pressão arterial média e no débito cardíaco.[10]An G, West MA. Abdominal compartment syndrome: a concise clinical review. Crit Care Med. 2008 Apr;36(4):1304-10. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18379259?tool=bestpractice.com
Em virtude da pressão que exercem sobre o abdome, roupas apertadas e constritivas devem ser retiradas. Bandagens restritivas causando tensão na cavidade abdominal devem ser removidas quando possível.
A necessidade de suporte para disfunções orgânicas deve ser avaliada em todos os pacientes.
Opções primárias
sulfato de morfina: 2.5 a 10 mg por via intramuscular a cada 2-4 horas quando necessário; ou 0.8 a 10 mg/hora por via intravenosa por meio de bomba de infusão
manejo hídrico otimizado
Tratamento recomendado para TODOS os pacientes no grupo de pacientes selecionado
Deve-se evitar a ressuscitação fluídica excessiva. O uso de uma estratégia de ressuscitação fluídica restritiva apresenta benefícios claros que superam a remoção agressiva dos fluidos no contexto de elevação da PIA.[23]Rogers WK, Garcia L. Intraabdominal Hypertension, Abdominal Compartment Syndrome, and the Open Abdomen. Chest. 2018 Jan;153(1):238-250. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28780148?tool=bestpractice.com Em vez de cristaloides, devem-se usar coloides e líquidos hipertônicos. Para fazer com que o líquido retorne ao compartimento intravascular, a albumina humana a 25% deve ser administrada, embora sua eficácia não tenha sido confirmada em ensaios clínicos.
A terapia com diuréticos é eficiente na redução de sobrecarga hídrica, mas deve-se tomar cuidado para que seja evitado exacerbar o choque em pacientes em estado crítico que são hipovolêmicos. É melhor começar com uma dose alta para se atingir diurese efetiva rapidamente; é mais fácil corrigir a perda excessiva de fluidos que a administração de fluídos excessiva. Para evitar a ototoxicidade, os diuréticos devem ser administrados por meio de bomba de infusão a uma frequência controlada.
Opções primárias
furosemida: 20-40 mg por via intravenosa inicialmente, seguidos por 10-160 mg/hora em infusão contínua
ou
bumetanida: 1 mg por via intravenosa inicialmente, seguido por 0.5 a 2 mg/hora em infusão contínua
evacuação mecânica do conteúdo intraluminal
Tratamento recomendado para TODOS os pacientes no grupo de pacientes selecionado
A evacuação com sonda nasogástrica reduz a pressão exercida pelo acúmulo de conteúdos gástricos e do intestino delgado; a probabilidade de se obter benefícios pela remoção de líquidos é maior que pela remoção de ar.
A descompressão colônica pode ter um impacto menor sobre a PIA. É provável que a remoção de líquido ou fezes impactadas produza benefícios.
Se a resposta à colocação da sonda não for adequada, o paciente pode se beneficiar de um enema.
No entanto, o tratamento farmacológico com agentes gastro e coloprocinéticos para remover o conteúdo do lúmen gastrointestinal é, geralmente, o primeiro a ser considerado, antes da terapia de enema.
A limitação ou descontinuação da dieta enteral também pode ser considerada se não houver resposta à colocação da sonda e ao tratamento medicamentoso.
A descompressão colonoscópica é a última opção.
evacuação farmacológica do conteúdo intraluminal
Tratamento adicional recomendado para ALGUNS pacientes no grupo de pacientes selecionado
Geralmente, agentes gastro e coloprocinéticos são considerados se a colocação do tubo retal e nasogástrico não for adequada, sobretudo quando íleo paralítico é a causa subjacente.
Opções primárias
eritromicina base: 250 mg por via intravenosa a cada 6 horas
ou
neostigmina: 0.5 mg por via intramuscular três vezes ao dia
ventilação mecânica ± vasopressores
Tratamento adicional recomendado para ALGUNS pacientes no grupo de pacientes selecionado
Alguns pacientes precisam de ventilação mecânica para suportar os efeitos da transmissão de pressão do abdome para o tronco.
Deve-se manter a pressão de perfusão abdominal em 60 mmHg, ou acima, o que pode exigir o uso de vasopressores.
Consulte um especialista para obter orientação quanto à escolha do vasopressor e da dose.
Opções primárias
vasopressina: consulte um especialista para obter orientação quanto à dose
ou
noradrenalina: consulte um especialista para obter orientação quanto à dose
descompressão abdominal percutânea
Tratamento recomendado para TODOS os pacientes no grupo de pacientes selecionado
A paracentese com descompressão percutânea deve ser tentada primeiro. Um cateter de diálise ou lavagem peritoneal é colocado por via percutânea na cavidade peritoneal e preparado para drenagem gravitacional. Se o volume de líquido livre for grande, a PIA é rapidamente reduzida. A descompressão percutânea bem-sucedida tem sido associada à drenagem de líquido de >1000 mL ou a uma diminuição da PIA de >9 mmHg nas primeiras 4 horas pós-descompressão.[37]Cheatham ML, Safcsak K. Percutaneous catheter decompression in the treatment of elevated intraabdominal pressure. Chest. 2011 Dec;140(6):1428-35. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21903735?tool=bestpractice.com
Se a SCA persistir após a drenagem percutânea, deve-se prosseguir para o tratamento cirúrgico imediatamente.[38]Shapiro MB, Jenkins DH, Schwab CW, et al. Damage control: collective review. J Trauma. 2000 Nov;49(5):969-78. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11086798?tool=bestpractice.com Um atraso no tratamento definitivo com descompressão cirúrgica geralmente aumenta o risco de mortalidade.[23]Rogers WK, Garcia L. Intraabdominal Hypertension, Abdominal Compartment Syndrome, and the Open Abdomen. Chest. 2018 Jan;153(1):238-250. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28780148?tool=bestpractice.com
descompressão abdominal cirúrgica
Tratamento adicional recomendado para ALGUNS pacientes no grupo de pacientes selecionado
A descompressão cirúrgica por meio de uma laparotomia é o tratamento definitivo, mas é reservada a pacientes para os quais as outras intervenções falharam.[10]An G, West MA. Abdominal compartment syndrome: a concise clinical review. Crit Care Med. 2008 Apr;36(4):1304-10. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18379259?tool=bestpractice.com [39]De Waele JJ, Hoste EA, Malbrain ML. Decompressive laparotomy for abdominal compartment syndrome: a critical analysis. Crit Care. 2006;10(2):R51. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1550894 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16569255?tool=bestpractice.com [40]Diaz JJ Jr, Mejia V, Subhawong AP, et al. Protocol for bedside laparotomy in trauma and emergency general surgery: a low return to the operating room. Am Surg. 2005 Nov;71(11):986-91. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16372620?tool=bestpractice.com Embora seja necessário anestesia geral, o procedimento pode ser realizado com segurança à beira do leito na unidade de terapia intensiva (UTI).[38]Shapiro MB, Jenkins DH, Schwab CW, et al. Damage control: collective review. J Trauma. 2000 Nov;49(5):969-78. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11086798?tool=bestpractice.com Trata-se de uma importante vantagem, já que muitos pacientes com SCA são clinicamente instáveis. É feita por meio de uma laparotomia com incisão de linha média. Em muitos casos, tanto a fáscia quanto a pele são deixadas abertas e um curativo deve ser aplicado para evitar dessecação das vísceras.[42]Murdock AD. What is the standard approach to temporary abdominal closure? J Trauma. 2007 Jun;62(6 suppl):S29. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17556954?tool=bestpractice.com [43]Kirshtein B, Roy-Shapira A, Lantsberg L, et al. Use of the "Bogota bag" for temporary abdominal closure in patients with secondary peritonitis. Am Surg. 2007 Mar;73(3):249-52. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17375780?tool=bestpractice.com [44]Howdieshell TR, Proctor CD, Sternberg E, et al. Temporary abdominal closure followed by definitive abdominal wall reconstruction of the open abdomen. Am J Surg. 2004 Sep;188(3):301-6. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15450838?tool=bestpractice.com Pacientes submetidos a laparotomia descompressiva precisarão posteriormente do fechamento permanente da ferida abdominal. As opções incluem fechamento fascial primário tardio, várias medidas para liberação da fáscia/retalho,[45]Barker DE, Green JM, Maxwell RA, et al. Experience with vacuum-pack temporary abdominal wound closure in 258 trauma and general and vascular surgical patients. J Am Coll Surg. 2007 May;204(5):784-92. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17481484?tool=bestpractice.com [46]Losanoff JE, Richman BW, Jones JW. Adjustable suture-tension closure of the open abdomen. J Am Coll Surg. 2003 Jan;196(1):163-4. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12517571?tool=bestpractice.com mobilização de retalhos de pele ou enxerto de pele de espessura dividida e uso de dispositivos para tratamento de feridas com pressão negativa.[48]Rasilainen SK, Mentula PJ, Leppäniemi AK. Vacuum and mesh-mediated fascial traction for primary closure of the open abdomen in critically ill surgical patients. Br J Surg. 2012 Dec;99(12):1725-32. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23034811?tool=bestpractice.com [49]Roberts DJ, Zygun DA, Grendar J, et al. Negative-pressure wound therapy for critically ill adults with open abdominal wounds: a systematic review. J Trauma Acute Care Surg. 2012 Sep;73(3):629-39. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22929494?tool=bestpractice.com Muitos pacientes desenvolvem uma hérnia ventral para a qual é preciso tratamento posterior separado.[47]Hultman CS, Pratt B, Cairns BA, et al. Multidisciplinary approach to abdominal wall reconstruction after decompressive laparotomy for abdominal compartment syndrome. Ann Plast Surg. 2005 Mar;54(3):269-75. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15725831?tool=bestpractice.com
bloqueio neuromuscular + ventilação mecânica
Tratamento adicional recomendado para ALGUNS pacientes no grupo de pacientes selecionado
Administrados como último recurso para os pacientes com o objetivo de diminuir a complacência da parede abdominal. Os pacientes precisam de controle das vias aéreas e ventilação mecânica.
Agentes sedativos e bloqueadores neuromusculares (por exemplo, pancurônio) podem diminuir a pressão arterial (PA) e/ou o débito cardíaco, o que pode ser problemático no caso de pacientes hipotensos que permanecem em choque.
É importante monitorar a adequação do bloqueio neuromuscular, especialmente se a pressão intra-abdominal aumentar enquanto os pacientes estiverem recebendo esse tratamento.[50]De Waele JJ, Benoit D, Hoste E, et al. A role for muscle relaxation in patients with abdominal compartment syndrome? Intensive Care Med. 2003 Feb;29(2):332. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12675044?tool=bestpractice.com [51]De Laet I, Hoste E, Verholen E, et al. The effect of neuromuscular blockers in patients with intra-abdominal hypertension. Intensive Care Med. 2007 Oct;33(10):1811-4. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17594072?tool=bestpractice.com
Consulte um especialista para obter orientações sobre escolha de agente e dose.
diálise
Tratamento adicional recomendado para ALGUNS pacientes no grupo de pacientes selecionado
A diálise ou a hemofiltração podem mobilizar o excesso de líquidos de maneira eficaz e ambas são especialmente úteis em um quadro de insuficiência renal crônica ou aguda, quando a terapia com diuréticos não é viável.
Leva horas ou dias para produzir efeito, mas, em certas circunstâncias, a remoção adequada de até 1 a 2 litros de excesso de líquidos pode diminuir a PIA significativamente.
Requer pessoal treinado e equipamento especializado, ao qual não se tem acesso imediato em todas as UTIs, embora esteja amplamente disponível.
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