História e exame físico

Principais fatores diagnósticos

comuns

presença de fatores de risco

Sinusite, otite média, procedimento odontológico ou infecção dentária recente, neurocirurgia recente, meningite, cardiopatia congênita, endocardite, doença diverticular, telangiectasia hemorrágica hereditária, malformação arteriovenosa, diabetes mellitus, vírus da imunodeficiência humana (HIV) ou imunocomprometimento, abuso de drogas intravenosas, doença granulomatosa, hemodiálise ou nascimento prematuro são fortes fatores de risco.

sexo masculino

Os homens têm risco ligeiramente maior que as mulheres de desenvolver abscesso cerebral.[2]

idade <30 anos

A prevalência é mais alta em homens adultos com idade abaixo dos 30 anos, enquanto a doença pediátrica ocorre com mais frequência nas crianças entre 4 e 7 anos. Os neonatos constituem um terceiro grupo de risco. A idade do paciente é importante para determinar a fonte mais provável e os agentes etiológicos mais comuns de abscesso cerebral.

Nos neonatos, Proteus mirabilis e Citrobacter spp são os isolados mais comuns, enquanto nas crianças, Streptococcus spp combinados a cardiopatia cianótica é o responsável mais frequente por abscessos cerebrais.

Nos adultos, o abscesso cerebral deve-se, com mais frequência, a sinusite ou otite, e é causado mais frequentemente por Streptococcus spp.

meningismo

Em geral, o meningismo não constitui um sintoma de abscesso cerebral e sua ausência não exclui esse diagnóstico. No entanto, ele é um importante sinal neurológico, porque é altamente sugestivo de abscesso cerebral quando está presente junto com lesões com realce em anel no cérebro.

cefaleia

Cefaleia persistente, sinais ou sintomas de pressão intracraniana elevada e, praticamente, qualquer deficit neurológico devem levar a estudos de neuroimagem com urgência.

paralisia do nervo craniano

Paralisia do terceiro ou sexto nervo craniano, anisocoria e papiledema devem levar à obtenção imediata de imagens quando encontrados em um paciente obnubilado com suspeita de abscesso cerebral.

sinal de Kernig ou Brudzinski positivo

O teste para o sinal de Kernig é realizado com o paciente deitado em posição supina, com a coxa flexionada em ângulo reto em relação ao tronco, e a perna e a articulação do joelho completamente estendidos. Se a perna não puder ficar completamente estendida por conta da dor, o exame é considerado positivo. Com um sinal de Brudzinski positivo, a flexão passiva da perna em 1 lado provoca movimento similar na perna oposta.

febre

Febre é uma observação relativamente comum, mas sua ausência não exclui o diagnóstico de abscesso cerebral.

perímetro cefálico aumentado (bebês)

Importante no exame físico dos bebês com suspeita de abscesso cerebral.

fontanela abaulada (bebês)

Importante no exame físico dos bebês com suspeita de abscesso cerebral.

Outros fatores diagnósticos

comuns

deficit neurológico

Pode incluir observações motoras ou sensoriais. Embora o deficit neurológico seja muito comum nos pacientes com abscesso cerebral, ele não é um achado particularmente sensível nem específico. Ele constitui um achado importante no sentido de que é uma indicação clara para obtenção de neuroimagem que, com frequência, é o exame fundamental para o diagnóstico de abscesso cerebral.

Incomuns

papiledema

Sinal de aumento da pressão intracraniana. Os pacientes que apresentam esse sinal devem ser tratados com especial cuidado. Assim como outros sinais neurológicos, o papiledema não é particularmente sensível nem específico para abscesso cerebral.

Fatores de risco

Fortes

sinusite

É o fator predisponente mais significativo para os abscessos cerebrais em adultos. Pode disseminar-se para o interior do cérebro e manifestar-se como meningite não complicada ou como empiema subdural ou epidural.[7][8]

Deve ser determinado se o paciente foi ou não tratado com antibióticos. Entretanto, a antibioticoterapia não exclui a possibilidade de abscesso cerebral.

otite média

Infecção por extensão direta ou por tromboflebite das veias emissárias temporais. Na maioria das vezes resulta em lesões do cerebelo ou do lobo temporal, sendo as espécies de Streptococcus as encontradas com maior frequência.[9][10]

Deve ser determinado se o paciente foi ou não tratado com antibióticos. Entretanto, a antibioticoterapia não exclui a possibilidade de abscesso cerebral.

procedimento odontológico/infecção dentária

Infecção dentária ou procedimentos odontológicos recentes são, periodicamente, descritos como causadores de abscesso cerebral, mas são infrequentes em comparação com a frequência desses procedimentos e infecções.[11][12][13] A disseminação pode ocorrer por extensão direta ou por vias hematogênicas.

meningite

Em neonatos e crianças pequenas, a meningite causada por Proteus mirabilis, Escherichia coli e Citrobacter spp. pode tornar-se fonte de abscessos cerebrais. Esses são os isolados de abscessos cerebrais mais comuns nos neonatos.

cirurgia de cabeça e pescoço ou neurocirurgia recente

O abscesso é uma complicação conhecida de procedimentos neurocirúrgicos e cirurgias de cabeça e pescoço.[2][14]​ O abscesso cerebral após uma craniotomia deve ser uma complicação infrequente, com risco mais alto para os pacientes tratados com corticosteroides por período prolongado.[15][16]​​ A colocação de halo, que envolve a inserção percutânea de pinos na calota craniana, também pode ser complicada pela formação de abscesso.[17][18]

Nesse grupo de pacientes, uma história de colapso da ferida ou drenagem da incisão é altamente sugestiva de abscesso cerebral. O Streptococcus intermedius surgiu como um agente etiológico comum em pacientes submetidos recentemente a cirurgias de cabeça e pescoço.

cardiopatia congênita

A cardiopatia congênita com a presença de shunt direita-esquerda é um fator de risco importante para o desenvolvimento de abscesso cerebral em crianças.[7][19][20] Nesse grupo, as infecções por estreptococos, estafilococos e Haemophilus são as mais comuns.

endocardite

A endocardite pode causar diversas sequelas neurológicas, entre elas o abscesso cerebral.[21][22] A maioria desses pacientes apresenta comprometimento valvar à esquerda.

telangiectasia hemorrágica hereditária ou malformação arteriovenosa

A telangiectasia hemorrágica hereditária é caracterizada por telangiectasias mucocutâneas. O abscesso cerebral pode ser a apresentação inicial, com risco aumentado de 1000 vezes para essa condição.[24][25]As espécies de Streptococcus são os organismos causadores mais comuns.[26] Malformação arteriovenosa pulmonar resulta em shunt direita-esquerda, o que predispõe ao abscesso cerebral.[26]

diabetes mellitus

Um fator de risco para o desenvolvimento de abscesso, mas pode não ser um fator de risco para formação de abscesso pós-cirúrgico.[16]Nocardia, que geralmente é um organismo oportunista, foi relatado em um paciente diabético saudável com abscesso cerebral.[27]

vírus da imunodeficiência humana (HIV) ou imunocomprometimento

Meningite, encefalite e abscesso cerebral são infecções oportunistas frequentes em pacientes com HIV. A infecção por HIV é um subgrupo importante, com um conjunto distinto de agentes etiológicos. Toxoplasma, abscessos fúngicos e tuberculosos devem ser considerados.[28] Neoplasias primárias e metastáticas do sistema nervoso central (SNC) devem ser diferenciadas de abscesso cerebral no HIV.

A proporção de abscessos devido a imunocomprometimento aumentou com o crescimento do número de pacientes imunocomprometidos. Em um estudo de coorte realizado na Dinamarca, 40% dos pacientes com abscesso cerebral eram imunocomprometidos.[29]​ Alguns micróbios, como o Nocardia asteroides, assim como a maioria dos abscessos fúngicos, são quase sempre infecções oportunistas.

uso de substâncias por via intravenosa

Os usuários de drogas intravenosas têm risco elevado de desenvolver abscesso cerebral causado pela flora cutânea (por exemplo, Staphylococcus spp).

Também têm maior risco de infecção por HIV.

doença granulomatosa crônica

Foi relatada associação com abscesso cerebral. Aspergillus é encontrado com frequências nesse quadro.[30][31]

hemodiálise

Risco elevado devido ao imunocomprometimento associado à insuficiência renal, bem como a repetidas punções venosas.[32]

nascimento prematuro

Além de bactérias gram-negativas e gram-positivas, o abscesso por Aspergillus é uma preocupação especial.[33]

Fracos

doença diverticular

O abscesso cerebral é uma complicação rara da doença diverticular.[23] A disseminação é hematogênica.

fibrose cística

Há vários relatos de casos de pacientes com fibrose cística e abscesso cerebral.[34][35] Essas infecções tendem a ocorrer nos pacientes com doença avançada e bronquiectasia grave.

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