Abordagem

A diarreia do viajante clássica é definida como ≥3 evacuações de fezes não formadas em 24 horas, com pelo menos um dos seguintes sintomas em um viajante que visita um local de alto risco: náuseas, vômitos, cólicas, febre, disenteria.

Os principais fatores de risco incluem idade <30 anos, viagens de aventura, itinerários com alta exposição a alimentos e bebidas de fontes anti-higiênicas, viajantes com residência anterior em destinos de alto risco visitando amigos e parentes, militares destacados para destinos de alto risco e viagens durante as estações de climas quentes e úmidos.[2][4][9]​​[11][12]​​​[21]​​​​

Diagnóstico de diarreia do viajante durante a viagem

O autodiagnóstico ainda durante a viagem é a abordagem comum.[1] Os viajantes devem ser informados de que a diarreia do viajante consiste no início súbito de evacuação frequente de fezes anormalmente soltas ou líquidas. Para adaptar a terapia apropriada, é importante que o viajante saiba como avaliar a gravidade da sua doença.[1]

  • Tolerável (leve): diarreia sem desconforto, sem interferir nas atividades planejadas.

  • Com desconforto (moderado): interfere nas atividades planejadas

  • Incapacitante (intensa): impede completamente as atividades planejadas.

Um subconjunto de pacientes pode desenvolver disenteria (diarreia hemorrágica) e/ou com febre alta >38.5 °C (101 °F), o que indica uma infecção mais invasiva e grave. A diarreia persistente (duração >14 dias) justifica uma investigação clínica mais aprofundada.

Diagnóstico de diarreia do viajante pós-viagem

Viajantes com diarreia que voltam ao local de origem podem justificar um exame de fezes para detecção e identificação; no entanto, faltam evidências clínicas em prol de uma abordagem custo-efetiva e pragmática.[1] Para diarreia do viajante aguda na qual não foi tentada antibioticoterapia empírica apropriada, a terapia deve ser iniciada dependendo da gravidade da doença.

Testes microbiológicos podem ser considerados no viajante que retorna ao local de origem com sintomas graves ou persistentes e naqueles que continuarem doentes, apesar da administração de terapia empírica apropriada para etiologias bacterianas.[7][28][29]​ As fezes diarreicas são a amostra preferencial em vez de fezes formadas ou swab para detectar doenças diarreicas, exceto em crianças, nas quais o swab é aceitável quando há fezes suficientes no swab.[30]​​​​​

Se for tomada a decisão de realizar exames, as estratégias poderão envolver vários métodos, inclusive cultura, imunoensaios, microscopia e/ou reação em cadeia da polimerase múltipla, devido à variedade de possíveis etiologias (isto é, bacterianas, virais, parasitárias).[11][28]​​ O teste molecular com base em uma ou mais plataformas de vários patógenos pode ter maior utilidade clínica quando for necessário obter resultados rapidamente ou quando os métodos microbiológicos tradicionais não conseguirem estabelecer a etiologia.

Devido à alta sensibilidade do diagnóstico molecular, é comum identificar múltiplos patógenos.[4][30]​​ Os resultados deverão ser interpretados juntamente com a história epidemiológica, clínica e pré-teste, para servir de base para as decisões de tratamento.

As coproculturas geralmente demoram mais para serem processadas e podem não detectar o agente causador.[30]​ É muito provável que ocorram exames de fezes negativos, devendo-se tentar, no cenário clínico agudo da diarreia do viajante, um ciclo de tratamento empírico. No caso de diarreia persistente ou crônica após a viagem, o diagnóstico diferencial inclui causas infecciosas (geralmente, protozoários) e processos pós-infecciosos (por exemplo, intolerância à lactose secundária, supercrescimento bacteriano do intestino delgado, distúrbios intestinais funcionais, espru tropical). Deve-se também considerar uma doença orgânica estrutural (por exemplo, doença celíaca, doença inflamatória intestinal, câncer de cólon, colite microscópica), o que exigirá uma abordagem diagnóstica direcionada para cada paciente.[6][7][29]​​​​​

As diretrizes da Infectious Diseases Society of America (IDSA) e da American Society for Microbiology (ASM) sugerem considerar testes para parasitas nos pacientes com diarreia persistente por >7 dias.[30]

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