Etiologia

A causa da leucemia linfoide aguda (LLA) é desconhecida. Determinados fatores têm sido associados ao desenvolvimento da LLA.

Fatores genéticos

  • O diagnóstico da LLA em um gêmeo monozigótico (com <6 anos de idade) está associado a uma probabilidade de 10% a 15% de que o segundo gêmeo também desenvolva LLA.[12]

  • A LLA está associada à trissomia do cromossomo 21 e a outras doenças genéticas (por exemplo, síndrome de Li-Fraumeni, neurofibromatose, síndrome de Klinefelter, anemia de Fanconi, síndrome de Shwachman-Diamond, síndrome de Bloom e ataxia-telangiectasia).[13][14][15][16]

  • Há cada vez mais evidências que sugerem uma predisposição de linha germinativa à LLA.[14][17][18][19][20]​​ As mutações das linhas germinativas ligadas à LLA são relatadas em aproximadamente 4% das crianças com LLA.[14]

Outros fatores

  • Ambiental: incluindo exposição a radiação e a tabagismo.[1][2][21]

  • Infecções virais (por exemplo, vírus Epstein-Barr [EBV]).[1][22]

  • História de neoplasia maligna.[21][23]

  • Tratamento com quimioterapia.[21]

  • Dieta materna inadequada.[24][25][26][27]

  • Polimorfismos do metabolismo do folato têm sido associados ao risco de LLA em estudos do tipo caso-controle.[28][29][30][31]

Fisiopatologia

Na LLA, a anormalidade genética de uma célula progenitora linfoide resulta em proliferação descontrolada e expansão clonal. Os linfoblastos leucêmicos se infiltram na medula óssea e em outros órgãos, o que prejudica seu funcionamento normal. Linfoblastos leucêmicos também podem circular no sangue periférico.

Os linfoblastos leucêmicos representam uma expansão clonal de uma única célula progenitora linfoide.[3]​​[32][33][34]​ Os linfoblastos leucêmicos duplicam a maioria das características da célula progenitora linfoide.

As anormalidades genéticas na LLA incluem rearranjos cromossômicos (por exemplo, translocações), aneuploidia (número anormal de cromossomos) e mutações genéticas. Translocações cromossômicas ou aneuploidia são encontradas em 75% dos casos. As translocações são, com frequência, recorrentes e raramente classificadas como translocações aleatórias.[33][34][35][36]

LLA-B positiva para cromossomo Filadélfia (LLA-B Ph+)

Uma das translocações cromossômicas mais comuns e clinicamente importantes na LLA-B em adultos é a t(9;22)(q34;q11), que resulta no gene de fusão BCR::ABL1 no cromossomo 22 (ou seja, o cromossomo Filadélfia).​[37]​ O gene de fusão BCR::ABL1 codifica uma tirosina quinase ativa que transforma células-tronco hematopoiéticas normais em células leucêmicas.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Translocação BCR::ABL1Do acervo do Dr. Han Myint e do Dr. Robert Chen; usado com permissão [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@ebef087

LLA-B tipo Filadélfia (LLA-B tipo Ph)

A LLA-B tipo Ph é um subtipo de alto risco que tem um perfil de expressão gênica similar à LLA-B Ph+, mas não tem o gene de fusão BCR::ABL1 (cromossomo Filadélfia).[37] A LLA-B tipo Ph compreende 10% e 13% dos casos de LLA-B de risco padrão e de alto risco na infância, respectivamente.[33]

A frequência da LLA-B tipo Ph aumenta com a idade, sendo ela responsável por >25% dos casos em adultos jovens.[37]​ A presença de LLA-B tipo Ph está associada a um desfecho desfavorável.[38][39]

Os pacientes com LLA-B tipo Ph podem ser classificados da seguinte maneira:[40]

  • Tipo I, fusões da classe ABL (ABL1, ABL2, CSF1R, PDGFRB)

  • Tipo II, receptor de eritropoetina (EPOR) ou rearranjos de JAK2

  • Tipo III, rearranjos de fator 2 semelhante ao receptor de citocina 2 (CRLF2) (geralmente acompanhados por mutações JAK2 e ativação do sinal JAK-STAT)

  • Tipo IV, outras mutações ativadoras da sinalização JAK-STAT (IL7R, FLT3, SH2B3, TYK2, IL2RB)

  • Tipo V, mutações incomuns da quinase diversas (NTRK3, DGKH)

  • Tipo VI, mutações da via RAS (KRAS, NRAS, PTPN11, NF1)

  • Tipo VII, nenhuma mutação nos genes da quinase.

Outras anormalidades genéticas

FLT3 e NOTCH1 foram identificados como genes com mutação na leucemia de linhagem mista (MLL)/hiperdiploide e na LLA-T, respectivamente.[41] Mutações CREBBP foram observadas em 18% das LLA recidivantes e podem oferecer resistência à terapia.[42] O gene PAX5 sofreu mutação em até 30% dos pacientes pediátricos com LLA.[43][44] As mutações de PHF6 são observadas em 38% das amostras de LLA-T em adultos.[45] As mutações de CDKN2A são observadas em 42% de todos os casos de LLA-T.[46]

Alguns rearranjos gênicos podem resultar em perda ou ganho de mutações de funções que envolvem os fatores de transcrição que participam do desenvolvimento hematopoiético. Um exemplo desse rearranjo gênico é a translocação cromossômica t(12;21)(p13;q22) que resulta no gene de fusão ETV6::RUNX1 (também conhecido como TEL::AML1).[1][2]

A perda ou inativação de genes supressores de tumores por meio de deleções e rearranjos gênicos (por exemplo, IKZF1, p16INK4) está associada com o desenvolvimento de LLA.[47][48]​ As mutações em IKZF1 podem ser preditoras de recidiva.[49]​ A deleção de IKZF1 com deleções concomitantes em CDKN2A, CDKN2B, PAX5 ou PAR1 (na ausência de deleção de ERG) define um subgrupo conhecido como "IKZF1 plus", que está associado a um prognóstico particularmente desfavorável.[50]

Algumas anormalidades genéticas recorrentes (por exemplo, BCR::ABL1, rearranjo de KMT2A, ETV6::RUNX1) foram incorporadas em sistemas de classificação de doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da International Consensus Classification (ICC) para subclassificar a LLA.[4][5]​​​ Consulte Classificação.

Classificação

5a edição da classificação de tumores hematolinfoides da Organização Mundial da Saúde: neoplasias linfoides.[4]

A classificação da LLA (e entidades) se baseia na linhagem (LLA-B ou LLA-T) e na presença de anormalidades citogenéticas/moleculares.

Leucemia linfoide B/linfoma:

  • Leucemia linfoide B/linfoma, sem outra especificação

  • Leucemia linfoide B/linfoma com alta hiperdiploidia

  • Leucemia linfoide B/linfoma com hipodiploidia

  • Leucemia linfoide B/linfoma com iAMP21

  • Leucemia linfoide B/linfoma com fusão BCR::ABL1

  • Leucemia linfoide B/linfoma com características semelhantes a BCR::ABL1

  • Leucemia linfoide B/linfoma com rearranjo de KMT2A

  • Leucemia linfoide B/linfoma com fusão ETV6::RUNX1

  • Leucemia linfoide B/linfoma com características semelhantes a ETV6::RUNX1

  • Leucemia linfoide B/linfoma com fusão TCF3::PBX1

  • Leucemia linfoide B/linfoma com fusão IGH::IL3

  • Leucemia linfoide B/linfoma com fusão TCF3::HLF

  • Leucemia linfoide B/linfoma com outras anormalidades genéticas definidas (por exemplo, rearranjos de DUX4, MEF2D ou ZNF384)

Linfoma/leucemia linfoide T:

  • Linfoma/leucemia linfoide T, sem outra especificação

  • Linfoma/leucemia linfoide de células T precursoras inicial

Classificação de Consenso Internacional (ICC) de neoplasias mieloides e leucemias agudas[5]

A classificação da LLA (e entidades) se baseia na linhagem (LLA-B ou LLA-T) e na presença de anormalidades citogenéticas/moleculares.

Linfoma/leucemia linfoide B aguda

  • LLA-B com anormalidades genéticas recorrentes

  • LLA-B com t(9;22)(q34.1;q11.2)/BCR::ABL1

    • com envolvimento apenas linfoide

    • com envolvimento multilinhagem

  • LLA-B com rearranjo de t(v;11q23.3)/KMT2A

  • LLA-B com t(12;21)(p13.2;q22.1)/ETV6::RUNX1

  • LLA-B, hiperdiploide

  • LLA-B, baixa hipodiploidia

  • LLA-B, quase haploide

  • LLA-B com t(5;14)(q31.1;q32.3)/IL3::IGH

  • LLA-B com t(1;19)(q23.3;p13.3)/TCF3::PBX1

  • LLA-B, semelhante a BCR::ABL1, rearranjo de classe ABL-1

  • LLA-B, semelhante a BCR::ABL1, JAK-STAT ativado

  • LLA-B, semelhante a BCR::ABL1, sem outra especificação

  • LLA-B com iAMP21

  • LLA-B com rearranjo de MYC

  • LLA-B com rearranjo de DUX4

  • LLA-B com rearranjo de MEF2D

  • LLA-B com rearranjo de ZNF384(362)

  • LLA-B com rearranjo de NUTM1

  • LLA-B com rearranjo de HLF

  • LLA-B com UBTF::ATXN7L3/PAN3,CDX2 ('CDX2/UBTF')

  • LLA-B com mutação IKZF1 N159Y

  • LLA-B com mutação PAX5 P80R

  • LLA-B, sem outra especificação

  • Entidade provisória: LLA-B, semelhante a ETV6::RUNX1

  • Entidade provisória: LLA-B, com alteração em PAX5

  • Entidade provisória: LLA-B, com mutação ZEB2 (p.H1038R)/IGH::CEBPE

  • Entidade provisória: LLA-B, com rearranjo semelhante a ZNF384

  • Entidade provisória: LLA-B, com rearranjo semelhante a KMT2A

Linfoma/leucemia linfoide T aguda

  • LLA inicial de células T precursoras com rearranjo de BCL11B

  • LLA inicial de células T precursoras, sem outra especificação

  • LLA-T, sem outra especificação

  • Entidade provisória: LLA-T, com desregulação de HOXA

  • Entidade provisória: LLA-T, com rearranjo de SPI1

  • Entidade provisória: LLA-T, com rearranjo de TLX1

  • Entidade provisória: LLA-T, com rearranjo de TLX3

  • Entidade provisória: LLA-T, com rearranjo de NKX2

  • Entidade provisória: LLA-T, com rearranjo de TAL1-2

  • Entidade provisória: LLA-T, com rearranjo de LMO1-2

  • Entidade provisória: LLA-T, BHLH, outro

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