Prevenção primária

Não há medidas preventivas primárias comprovadas para o câncer de ovário, mas várias abordagens podem reduzir o risco de desenvolvimento.

O uso de contraceptivos orais por um período de 5 anos está associado a uma diminuição de 50% no risco de câncer de ovário, que diminui ainda mais com maior tempo de uso.[38][39][40][41][42]

A laqueadura tubária e a histerectomia estão associadas à diminuição do risco de câncer de ovário.[54][55] Contudo, esses procedimentos só devem ser realizados por razões clínicas válidas, e não por seu efeito sobre o risco de câncer de ovário.

Com base em dados que implicam a extremidade fimbriada da tuba uterina como fonte do câncer de ovário seroso, o American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) e a Society of Gynecologic Oncology têm recomendado que os médicos discutam a salpingectomia oportunista para todos os pacientes com risco médio de câncer de ovário submetidos a histerectomia.[56][57] No entanto, as evidências de salpingectomia oportunista para prevenção do câncer de ovário são oriundas principalmente de estudos observacionais.[58]

Cirurgia redutora de risco para mulheres com alto risco

A salpingo-ooforectomia redutora de risco (RRSO) pode diminuir o risco de câncer de ovário em pacientes de alto risco, como aquelas com: mutações BRCA1 ou BRCA2; mutações associadas com a síndrome de Lynch; ou outras variantes genéticas de suscetibilidade a câncer de ovário.[16][17][59][60][61][62][63]​​​​​ A decisão de realizar a RRSO (com ou sem histerectomia concomitante) e o seu momento deve ser individualizada (por exemplo, com base na idade, se a idade fértil tiver se completado, status de menopausa, comorbidades, mutação genética específica e história familiar).[16][17][64]​​​​​

Para mulheres com mutação de BRCA1, as diretrizes recomendam a RRSO aos 35 a 40 anos de idade (levando em consideração o desejo de ter filhos).[17] As variantes do BRCA2 estão associadas a um início tardio do câncer de ovário, e pode-se considerar o adiamento da RRSO até os 40 a 45 anos de idade nessas pacientes (a menos que haja uma história familiar de diagnóstico precoce). A histerectomia no momento da RRSO para reduzir o risco de câncer de útero grave nas mulheres com mutação de BRCA pode ser discutida. As evidências que sugerem um aumento do risco de câncer de útero seroso nas pessoas com BRCA1/2 são limitadas.[17]

Para mulheres com mutação BRIP1, RAD51C ou RAD51D, a RRSO é recomendada aos 45 a 50 anos de idade.[17] A RRSO pode ser considerada entre os 45 e 50 anos nas mulheres com mutação em PALB2. As discussões sobre cirurgia para redução do risco devem começar mais cedo se houver uma história familiar de doença de início precoce.[17]

Para mulheres com síndrome de Lynch, as diretrizes recomendam discutir a cirurgia redutora de risco com mulheres do início a meados dos 40 anos.[20]​​ As evidências dão suporte ao uso da RRSO em pacientes com as variantes MLH1, MSH2 e EPCAM, mas não são suficientes para recomendar a cirurgia redutora de risco para aquelas com as variantes MSH6 e PMS2 (que estão associadas com um risco mais baixo de câncer de ovário).[16]

Além da RRSO, a histerectomia deve ser considerada para todos os pacientes com síndrome de Lynch para reduzir o risco de câncer de endométrio.[16]

Redução de risco não cirúrgico para mulheres de alto risco

Para mulheres de alto risco que recusam ou não podem ser submetidas à RRSO, às vezes é considerado o rastreamento de rotina com ultrassonografia transvaginal e CA-125.[18][62][65]​​​​ No entanto, os estudos não mostram um benefício claro e isso não é recomendado de maneira rotineira.[16][17]​​​​ A eficácia do rastreamento das mulheres com alto risco de câncer de ovário usando exame pélvico, teste de CA-125 e ultrassonografia transvaginal não foi demonstrada; a doença em estádio inicial é difícil de detectar e pode passar despercebida com essas abordagens.[17][66]

O algoritmo de risco de câncer de ovário (ROCA) pode ser potencialmente útil como ferramenta de vigilância em mulheres de alto risco (por exemplo, com variantes de linha germinativa patogênicas de BRCA1/2) que adiam ou recusam a cirurgia redutora de risco.[67]

No Reino Unido, as diretrizes do National Institute of Health and Care Excellence (NICE) recomendam considerar a vigilância com teste de CA125 longitudinal (a cada 4 meses) usando um algoritmo (como o ROCA) para pacientes nos seguintes grupos de alto risco que postergam ou recusam a cirurgia redutora de risco:[64]

  • Variante patogênica de BRCA1 e idade acima de 35 anos

  • Variante patogênica de BRCA2 e idade acima de 40 anos

  • Variante patogênica de RAD51C, RAD51D, BRIP1 ou PALB2 e idade acima de 45 anos.

Além disso, uma revisão anual com discussão da cirurgia redutora de risco é recomendada para esses pacientes.

A vigilância de mulheres com alto risco de câncer de ovário representa uma medida temporária e não deve ser considerada como uma alternativa à cirurgia redutora de risco.[68]

É recomendável considerar a contracepção oral combinada ou um dispositivo intrauterino (DIU) hormonal como medida de redução de risco nas mulheres com mutação de BRCA.[15]​​[17][62]​​​​​​ O uso de um contraceptivo com estrogênio/progestina ou um DIU com levonorgestrel (DIU-LNG) nas mulheres com mutações de BRCA1 ou BRCA2 reduz o risco de câncer de ovário em comparação ao relatado para a população em geral.[69][70][71][72][73]​​​​​​​ Os benefícios e malefícios devem ser ponderados e discutidos com pacientes de alto risco, inclusive o aumento do risco de câncer de mama associado com o uso de contraceptivos orais em longo prazo.[64][70][73]

Para mulheres com síndrome de Lynch, as estratégias alternativas de redução de risco devem ser discutidas se a RRSO for recusada ou não for possível.[16] Isso deve incluir educação sobre os sintomas associados ao câncer de ovário.

Prevenção secundária

A doença em estágio inicial é difícil de detectar e pode passar despercebida no exame pélvico, no teste de CA-125 e na ultrassonografia. Portanto, é necessária uma discussão cautelosa entre a paciente e o médico para entender as limitações significativas desses testes, mesmo em populações de alto risco.[66]

As medidas preventivas em mulheres com alto risco de desenvolver câncer de ovário são discutidas na seção de prevenção primária.

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